Péssimas condições dos terminais desafiam paciência de usuários
Pintura descascada, banheiros imundos e bebedouros quebrados fazem parte da rotina de usuários do transporte coletivo.
Pintura desgastada, bebedouros que não têm ou não gelam água e banheiros sujos, com descargas estragadas e sinais de vandalismo. Esses são alguns dos problemas verificados em praticamente todos os terminais de transbordo de Campo Grande.
No entanto, tudo indica que a situação calamitosa está com os dias contados, já que as empresas do transporte coletivo deverão revitalizar os espaços.
A exigência é contrapartida prevista em acordo com a Prefeitura, que aprovou em regime de urgência na quinta-feira (30) projeto que renova a isenção de 5% de ISS (Imposto sobre Serviço) para as empresas ligadas ao transporte coletivo. Para isso, a condição imposta é a reforma das nove estações públicas e instalação de cobertura em cem pontos de ônibus da cidade.
A “transformação” nos terminais ainda não tem data para começar, mas vai ocorrer em todas as instalações, como pátios, cantinas e banheiros. Haverá pinturas interna e externa, substituição ou conserto de bancos e bebedouros e revitalização de espaços para pessoas com necessidades especiais.
Até que a exigência saia do papel e de fato as empresas iniciem as ações da contrapartida, quem sofre com a péssima conservação dos terminais são os usuários do transporte coletivo. Foi o que verificou a reportagem do Campo Grande News, que percorreu todos os pontos de integração na sexta-feira (31).
Em estado terminal – Uma das estações mais precárias da cidade é o Terminal General Osório. Logo na entrada, observa-se a calçada quebrada. A pintura está descascada em quase todas as paredes, os banheiros imundos e bebedouros estragados.
“Parece que nunca fizeram manutenção aqui. Os bebedouros têm até terra dentro, os banheiros estão impossíveis de usar. A estrutura está mesmo péssima”, comentou o estudante Milad Roghanian, 19 anos.
No Terminal Nova Bahia, chamam atenção as pichações, presentes na fachada, portas e janelas. O aspecto remete a desleixo e desrespeito ao ambiente. Nos banheiros há diversos vazamentos, descarga estragada e mictórios e torneiras que foram arrancados.
Na Região Oeste da cidade, no Terminal da Júlio de Castilho, a particularidade é que sua estrutura lembra um cárcere, pois foram instaladas concertinas nas grades para evitar invasões de usuários pouco dispostos a pagar pelas passagens.
“Mesmo assim, muita gente tenta passar pela cerca. Essa medida foi tomada porque havia muito adolescente baderneiro frequentando o local”, relatam funcionários, que pediram para ter a identidade preservada.
A diarista Amanda Silva, 22, ressalta a falta de manutenção dos toaletes. “São péssimos. Parece que não são limpos há meses. Mas o pior de tudo, na minha opinião, são os ônibus, que estão muito velhos e sempre lotados”, diz.
Como nos outros, no Terminal Bandeirantes bebedouros não funcionam, também os banheiros estão abandonados e, nas paredes, a tinta já saiu faz muito tempo – com exceção dos sprays de pichação. “Está precisando de cuidados faz muito tempo. Tem mesmo que dar uma melhorada. Não tem nem água para beber”, conta Valdecir da Silva, 52 anos, que trabalha no local há 10.
Nesta estação, a reportagem encontrou a aposentada Dilma Felix, 67, acompanhando o filho João Félix, de 47, que possui necessidades especiais.
“Antes eu tinha muito problema para atravessar as faixas, pois as áreas da travessia não são cobertas e meu filho se molhava na chuva constantemente. Mas batalhei muito para exigir os direitos dele e agora temos um espaço reservado para aguardar os ônibus”, lembra.
O relato indica que muitos usuários em condição semelhante à de João ainda sofrem em circunstâncias assim. Apesar das rampas e faixas de pedestres elevadas presente no local.
O cenário de banheiros imundos, malcheirosos, pintura vencida, bebedouros quebrados e usuários insatisfeitos também foi encontrado nos movimentados terminais do Aero Rancho e das Moreninhas.
Neste último, a reclamação ganha peso porque, em determinado período, a estação vira um “pontão” de ônibus, como classificam os usuários. Somente pagam para passar pelas catracas quem utiliza o transporte público entre 5h e 13h15.
A partir desse horário é aberto e aumenta muito o fluxo. No local, uma porta foi lançada ao chão e o banheiro está muito pichado.
“Não tem como controlar. Aí, a principal dificuldade é que o sistema fica sobrecarregado e não dá para colocar crédito no cartão de passe. Temos que ir numa lanchonete próxima”, afirma o estudante Eduardo Menezes, 25. E foi exatamente o que aconteceu durante a reportagem do Campo Grande News.
Uma das estações de ônibus com melhores condições é o da Avenida Guaicurus. Funcionários disseram que recentemente foi realizada uma vistoria nos banheiros e bebedouros, que estavam razoavelmente limpos e funcionando.
O único terminal onde há indício de que a revitalização vai acontecer mesmo é o Morenão. Um funcionário, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que um engenheiro e um empreiteiro foram até o local para fotografar os banheiros e fazer os preparativos para as obras.
“A gente paga passagem cara, desce do ônibus cansado depois do trabalho, com vontade de beber uma água gelada, e não tem. Vai ao banheiro e, quando aperta a descarga, a água sobe e parece que vai cair nos pés. Parece que é melhor fazer as necessidades no chão”, extravasa o cozinheiro Everaldo Amorim, 45.
“A passagem encarece e não muda nada. O ideal é que os locais sejam vistoriados com frequencia, porque eles consertam e as pessoas quebram logo depois”, diz.
Para finalizar, no Hercules Maymone, que não é considerado terminal, mas sim ponto de integração, também será contemplado, pois há necessidade de reforma para atender os usuários com qualidade, conforme apurou a reportagem. Na unidade, não há bebedouro e as pinturas estão desgastadas.
Contrapartida em pauta – O diretor-presidente da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Janine de Lima Bruno, informou que os locais para a implantação das coberturas em 100 pontos de ônibus já estão definidos, mas a divulgação será feita futuramente. “A preferência será para vias de saídas de bairros, onde há maior concentração de usuários”, disse.
Já o prefeito, Marquinhos Trad (PSD), explicou que a proposta da contrapartida veio do próprio Consórcio Guaicurus. “Inicialmente tratava-se apenas de cobertura para 150 pontos. Mas com o montante total oriundo da isenção pelo período de 6 meses, que hoje deve girar em torno de R$ 4 milhões, foi preciso apresentar outra alternativa, como a revitalização”, conta. A isenção representa perto de R$ 8 milhões ao ano.
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