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Capital

Prefeitura promete pagar salários, mas drama em postos continua até terça

Flávia Lima | 17/08/2015 14:37
Gerência das UPAs afirma que a escala médica está completa, mas profissionais só atendem 30% da demanda. (Foto:Simão Nogueira)
Gerência das UPAs afirma que a escala médica está completa, mas profissionais só atendem 30% da demanda. (Foto:Simão Nogueira)
Recepção da UPA do Guanandi permaneceu lotada durante toda a manhã. (Foto:Simão Nogueira)
Recepção da UPA do Guanandi permaneceu lotada durante toda a manhã. (Foto:Simão Nogueira)

Reunião ocorrida na manhã desta segunda-feira (17) entre a prefeitura de Campo Grande e os médicos da rede municipal que estão em greve desde sábado (15), pode colocar fim ao movimento da categoria nesta terça-feira à noite.

Durante o encontro, que contou com a presença dos secretários de Governo, Paulo Matos, de Saúde, Jamal Salem e com o de Finanças, André Scaff, além do secretário-adjunto da pasta, Ivan Jorge, ficou acordado que a prefeitura irá depositar o restante dos salários escalonados amanhã.

No entanto, segundo a assessoria do sindicato dos Médicos, os profissionais ainda realizarão uma assembleia amanhã à noite para decidir sobre os rumos do movimento. A intenção é esperar a confirmação do pagamento dos 394 médicos que não receberam no quinto dia útil, junto com a maioria dos servidores municipais. O montante soma R$ 4 milhões.

Apesar da nova assembleia, os secretários municipais estão confiantes no fim da greve. Em nota, o secretário de Administração, Wilson do Prado, garantiu que a ordem de pagamento será feita nesta terça-feira e que todas as exigências da categoria foram atendidas pela prefeitura, inclusive uma que trata do recebimento de gratificação. A expectativa é que não haja escalonamento no próximo mês.

O pagamento até o quinto dia útil foi o principal ponto acordado entre a gestão municipal e os médicos quando a categoria paralisou as atividades pela primeira vez, em maio. Porém, alegando crise financeira, o prefeito Gilmar Olarte (PP) decidiu escalonar o pagamento dos servidores, incluindo os proventos dos médicos.

Desde sábado, Cristian Araújo não consegue descobrir se quebrou o pé por flata de aparelho de raio-X. (Foto:Simão Nogueira)
Desde sábado, Cristian Araújo não consegue descobrir se quebrou o pé por flata de aparelho de raio-X. (Foto:Simão Nogueira)

Drama - Segundo a assessoria do Sindicato dos Médicos, caso o restante do pagamento seja liberado nesta terça-feira, a categoria só voltará ao trabalho, de fato, na quarta-feira. Até lá, a população ainda irá enfrentar a demora no atendimento nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

Neste terceiro dia de greve, a reportagem do Campo Grande News percorreu três, das principais UPAs da cidade e constatou situações dramáticas entre os pacientes. O cenário mais crítico era na unidade do bairro Guanandi, onde sequer havia cadeiras para as pessoas aguardarem o atendimento que, em alguns casos, chegou a demorar sete horas, mesmo quando classificado na área vermelha, onde ficam os casos de emergência.

Foi o que aconteceu com o ajudante de caixa Cristian José Araújo. Na manhã desta segunda-feira ele estava na UPA do bairro Universitário, mas conta que sofreu um acidente de moto na madrugada de sábado e foi levado para o Guanandi por volta das 3 horas com suspeita de fratura no pé direito. "Fiquei na área vermelha, mas só fui atendido às 10 horas de domingo. Ainda por cima não tinha raio-X funcionando. Enfaixaram meu pé com uma tala e me deram um remédio para dor. Fui orientado a vir para a UPA do Universitário porque disseram que era o único lugar que tinha o aparelho de raio-X", explica.

No entanto, Cristian deverá ficar horas na UPA, já que foi informado que no local não havia médicos atendendo e, por isso, não há previsão de atendimento. "Vou ter que ficar porque preciso saber se quebrei o pé. Também preciso de atestado para levar ao meu trabalho", disse.

O trabalhador rural José de Souza Neto aguardava na UPA do Guanandi há pelo menos uma hora por um médico que avaliasse o problema de seus olhos. Ele conta que começou a sentir dores no domingo à noite e amanheceu com os olhos vermelhos e inchados. O trabalhador reclamava que mesmo após 40 minutos ainda não havia passado pela triagem. "Já vi várias pessoas sendo atendidas na minha frente", reclamou.

No mesmo posto, o aposentado Quirino Quintana também passava mal, cuspindo sangue e com sintomas de pneumonia. Ele reclamava de fortes dores no peito há três dias e aguardava, ao lado do filho, atendimento. Acompanhando pai, Nelson Quintana, que mora no bairro Bosque da Esperança, chegou a procurar o posto do bairro Estrela Dalva, mais próximo de casa, mas foi informado que lá também não havia equipamento de raio-X para averiguar o pulmão de seu pai.

"Nós ainda temos condições de vir de carro, mas imagina uma pessoa que precisa pegar um ônibus passando mal e ainda por cima chegar em um lugar que não tem médico", questiona.

Na UPA da Vila Almeida, a estudante Sara Borges Pereira, apresentava dores no corpo, garganta e febre e foi classificada na área verde. Ela disse que havia chegado antes das 9 horas, mas até às 11 horas ainda não havia recebido atendimento.

Apesar de entenderem a reivindicação da categoria, os pacientes ouvidos pela reportagem tem opinião dividida quanto a greve. Para Sara Pereira, os médicos deveriam respeitar o estatuto do SUS, que preconiza o atendimento a população sob qualquer circunstância. A mesma postura tem o garçon Valcir da Silva Victor, que esperava atendimento na UPA do Universitário, devido a um acidente de trabalho. "Um palete caiu no meu pé e desde o sábado não consigo atendimento", diz.

Na sua opinião, a greve não deveria prejudicar a população. "Deveria ficar nos postos um número suficiente para atender as pessoas", ressalta.

Já Nelson Quintana, que acompanhava o pai na UPA do bairro Guanandi, entende o direito da categoria e responsabiliza o governo federal pela situação que afeta os municípios. "Nós pagamos tantos impostos e não temos nada de retorno. Quem trabalha quer ganhar", destaca.

Escala - Os gerentes das UPAs visitadas pelo Campo Grande News garantem que os médicos estão respeitando a escala de manter 30% dos profissionais atendendo os casos de urgência e emergência. Na unidade da Vila Almeida, a gerente Dirce Dominoni chegou a mostrar as fichas de pacientes que já haviam sido atendidos antes das 11 horas. No local ela disse que estavam quatro clínicos gerais e cinco pediatras.

Dirce garantiu que todos os pacientes classificados na área vermelha estão recebendo atendimento urgente e os da área verde não passam de duas horas, como manda a tabela do SUS. Apenas os da área azul não tinham prazo para atendimento. "Como esses casos são mais simples e geralmente vem em busca de atestado, a recomendação é que busquem uma unidade básica de saúde e marquem a consulta", orienta.

Já na UPA do Guanandi, a enfermeira responsável pelo período, que preferiu não se identificar, também ressaltou que os médicos estavam obedecendo o limite mínimo de atendimento. Ela disse que pela manhã havia cinco clínicos e quatro pediatras, que assinaram o ponto, mas seguiam as normas de atender apenas 30% da demanda.

A enfermeira ainda disse que todos os pacientes estavam passando por triagem normalmente e que não há a sistemática de passar pacientes na frente de casos graves. "Acontece que estamos dando prioridade as emergências. Quem não apresentar um quadro que coloque em risco sua vida, terá que esperar mesmo", enfatiza.

Na recepção da UPA do Universitário, a equipe foi informada de que havia médicos na unidade, mas era impossível prever o tempo de espera. Porém, pacientes alegavam que tinham recebido a informação de que não havia profissionais no local. "Estive aqui sábado e me mandaram voltar hoje porque não tinha médicos no posto", acusa o garçon Valcir da Silva.

O presidente do Sindicato dos Médicos, Valdir Siroma, ressaltou, no início do movimento, que os profissionais seguiriam a determinação de atender 30% dos pacientes e que caso alguém chegasse nas unidades passando mal devido a uma doença crônica, como hipertensão, também seria socorrido.

O trabalhador rural José Neto sentia dores nos olhos, masnão tinha previsão de atendimento. (Foto:Simão Nogueira)
O trabalhador rural José Neto sentia dores nos olhos, masnão tinha previsão de atendimento. (Foto:Simão Nogueira)
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