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Capital

Sala pequena e sem janelas amontoa bebês em creche, denunciam mães

De criança tomando vômito à banho com água gelada, lista de violências praticadas nos Ceinfs não para de aumentar

Chloé Pinheiro | 04/08/2016 11:53
Reunidas hoje no Senalba, as mães denunciantes não se identificam por medo de represálias. (Foto: Chloé Pinheiro)
Reunidas hoje no Senalba, as mães denunciantes não se identificam por medo de represálias. (Foto: Chloé Pinheiro)

Professores processados por maus-tratos trabalhando normalmente, mofo nas paredes e abusos que vão além da agressão física. "Uma das educadoras, além de obrigar as crianças a dormir, maltratava até os bebês no berçário. Mais tarde, vi que era a mesma que havia cuidado do meu filho quando ele tinha só seis meses. Eu errei por ter confiado no Ceinf", relata com lágrimas nos olhos a mãe de um menino de quatro anos que estuda no Ceinf Santa Edwiges.

Ela não está sozinha. Junto com outras mães e Três funcionárias de dois Ceinfs (Centro de Educação de Infantil) de Campo Grande e três mães de alunos, elas se reuniram nesta quinta-feira (4) no Senalba (Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional no Estado de Mato Grosso do Sul) para denunciar a falta de assistência que têm recebido da Prefeitura.

Além do Jardim Tijuca, onde recentemente uma educadora foi flagrada em vídeo maltratando crianças na hora da soneca da tarde. Com um dossiê em mãos, as mulheres relataram um cenário assustador também no Ceinf Santa Edwiges, que fica no Aero Rancho.

“Chove dentro, as janelas estão quebradas e há formigueiros e fossas abertas. Uma das recreadoras fez uma criança comer vômito”, relata uma das mães, que não quis se identificar. O filho de 4 anos está desde os seis meses no Ceinf Santa Edwiges. “E ele já passou por professores que enfrentaram processos na justiça e não foram punidos por isso”, completa.

"Há também uma saleta com dois metros por três, onde quinze crianças ficam dormindo amontoadas sem nem ter ventilação, é uma violação de direitos e queremos saber quem autorizou isso", desabafa outra mãe com filho matriculado no mesmo Ceinf. 

As mães ficaram sabendo dos abusos via duas funcionárias e, a partir daí, começou uma corrida para garantir que o caso viesse à tona. “Já fomos seis vezes na Semed (Secretaria Municipal de Educação) e até entregamos o caso ao Ministério Público, mas não obtivemos nenhum resultado”, relata a mãe.

Formigueiros enormes dividem o quintal do Ceinf Santa Edwiges com as crianças. (Foto: Divulgação)
Formigueiros enormes dividem o quintal do Ceinf Santa Edwiges com as crianças. (Foto: Divulgação)

No Jardim Tijuca, a funcionária denunciada foi demitida, mas a que denunciou também foi, um mês depois. “Eles disseram que era por causa da lista de demissões programadas dos terceirizados, mas eu sei que foi perseguição, porque sofri represálias desde que divulguei o vídeo”, aponta Iara Freitas, 35 anos, autora das imagens.

Iara Freitas, educadora que filmou maus tratos e foi demitida 30 dias depois. (Foto: Chloé Pinheiro)
Iara Freitas, educadora que filmou maus tratos e foi demitida 30 dias depois. (Foto: Chloé Pinheiro)
Colaboradora do Santa Edwiges foi coagida a deixar as denúncias para lá. (Foto: Divulgação)
Colaboradora do Santa Edwiges foi coagida a deixar as denúncias para lá. (Foto: Divulgação)

As funcionárias que relataram os problemas no Santa Edwiges também sofreram com eles. Luciene Rocha, recreadora terceirizada alocada, chegou a adoecer. “Fiquei com estresse emocional e tive uma grave doença de pele”, desabafa ela, que foi transferida para um Ceinf distante 28 quilômetros de sua casa depois de falar.

No caso do Santa Edwiges, a educadora acusada dos maus tratos foi transferida e está afastada por licença médica, mas a diretora de ambos os lugares continuam em seus cargos e não sofreram nenhuma sanção – com exceção de uma advertência, no caso do Santa Edwiges.

Como as denúncias são muito graves – há até um caso citado no calhamaço de um professor de educação física que teria abusado sexualmente de um menino de 4 anos –, o Sindicato reuniu o material e juntou também denúncias de dois anos atrás em outras unidades. “Nosso foco é cuidar das funcionárias e apurar as denúncias de represálias, mas também encaminhamos as denúncias ao poder público, que deve tomar as providências cabíveis”, disse Domitilla Vasco, advogada do Senalba.

As mães entregaram também o caso ao Ministério Público Estadual, que ainda lhes deu resposta sobre o caso. A Secretaria Municipal de Educação foi procurada pela reportagem e disse que só se manifestaria por e-mail, mas até o fechamento da matéria não houve nenhuma resposta.

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