"Salva meu filho": pai e mãe de vítima choram ao relembrar execução de Matheus
Paulo Roberto Xavier prestou depoimento durante julgamento dos 3 réus pela morte de Matheus Coutinho
“Salva meu filho, salva meu filho”. O ex-policial militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, o “PX”, relembrou o dia da morte do filho, o estudante Matheus Coutinho Xavier. Chorando muito, foi acompanhado na emoção pela mãe da vítima, a advogada Cristiane de Almeida Coutinho, que também não segurou as lágrimas.
Xavier era o depoimento mais aguardado no 1º dia de julgamento dos três réus pela morte do estudante. O rapaz de 20 anos assassinado a tiros de fuzil 7.62, em abril de 2019.
Enquanto falava, era observado em alguns momentos por apenas um dos réus: Jamil Name Filho, o “Jamilzinho”, que, segundo a denúncia, seria o ex-chefe de PX. Vladenilson Olmedo mantinha os olhos fechados ou voltados para os promotores. Marcelo Rios também mantinha os olhos cerrados ou de cabeça baixa.
Xavier relembrou os minutos que antecederam o crime, no dia 9 de abril de 2019: por volta das 18h, estava em casa, estudando com fones de ouvido. Pediu a Matheus para que fosse buscar os dois irmãos na escola. O rapaz pegou a caminhonete do pai e, logo em seguida, vieram os tiros.
“Até achei que fosse rojão”, contou Xavier. Saiu de casa e ouviu alguém dizer que atiraram na caminhonete. “Eu vi ele todo ensanguentado”. O ex-policial colocou o filho no banco de trás e foi correndo para a Santa Casa. “Ele respirava e gemia, tinha sangue pelo nariz, boca e ouvido”.
Xavier contou que passou por cima do canteiro central da Avenida Afonso Pena, chegou na Avenida Mato Grosso e interceptou ambulância. “Até próximo da Santa Casa, meu filho respirava”, contou, chorando muito. “Eu dizia: ‘resista, resista, tô aqui com você’”.
Durante o relato de Xavier, a mãe de Matheus também se emocionou. Antes, tinha conseguido se manter quase impassível durante os depoimentos.
Neste momento do depoimento, o juiz titular da 2ª Vara Tribunal do Júri, Aluizio Pereira dos Santos, perguntou a Xavier se gostaria que a sessão fosse interrompida para que pudesse se recompor. “Não”, respondeu Xavier. O ex-policial lembrou que, daqui um mês, Matheus faria 25 anos.
Em seguida, o juiz passou os questionamentos ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). O promotor Douglas Oldegardo fez perguntas para estabelecer a motivação do crime: a ligação de PX com o advogado Antônio Augusto Souza Coelho e desavença por conta de fazendas que “Jamilzinho” negociava por intermédio dele com a Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.
Xavier relembrou que já trabalhava para a família Name. Em 2008, PX comandava o policiamento da área central de Campo Grande e apreendeu máquinas caça-níqueis e itens do jogo do bicho, segundo ele, de propriedade dos Name. Em 2009, foi a vez de Xavier ser preso, por conta de denúncia relacionada à contravenção. Foi detido junto com Sérgio Roberto de Carvalho, o conhecido “Major Carvalho”.
“Depois disso, o Vlad [Vladenilson Olmedo] me procurou e disse que os Name queriam falar comigo”, contou. Jamil Name teria perguntado: “Aprendeu a lição?”. “Eu já estava todo enrolado na PM, cheio de processo, respondi: ‘entendi’”.
Neste momento do interrogatório, o promotor pergunta se PX quer que os réus saiam da sala. “Não precisa não, não tenho medo não, já me fizeram o pior“.
Xavier passou a falar do momento que assumiu a segurança de “Jamilzinho” e citou os desafetos do chefe, como com Marcel Costa Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”, em boate da Capital. No dia seguinte da briga, foi chamado por Jamil Name para saber o motivo de não ter se manifestado na briga. “Falei que não achei a situação grave”. Depois, “Jamilzinho” falou que esperaria um tempinho, mas mataria Playboy. “Achei que era nervoso”. O rapaz foi executado no dia 18 de outubro de 2018.
Depois, falou da relação com Antônio Augusto, a quem passou a prestar serviço e a disputa pelas fazendas Invernadinha e Figueira, entre advogado e os Name. “Um imputava ao outro dívida de algumas dezenas de milhões”.
Xavier também citou o jantar em que a desavença entre “Jamilzinho” e Antônio Augusto se acirrou ainda mais. “Eu pensava, ‘quer saber? Vou largar mão disso aí, tinha saído minha aposentadoria, vou focar no meu estudo’”.
No depoimento, PX contou da investida do hacker, que entrou em contato se passando pela gerente de banco para marcar encontro, convidando para ir a um lugar ermo. Depois, essa pessoa confessou que foi contratada para localizá-lo, mas exigia o pagamento de R$ 5 mil. “Achei que era golpe, fiquei tirando onda”, mas quando o filho morreu, desconfiou que haveria conexão. Passou o telefone à polícia, que chegou ao hacker contratado para o serviço.
Na sequência, foi a vez de o promotor Gerson Eduardo Araújo perguntar sobre os fatos subsequentes à morte de Matheus. Xavier disse que foi procurado por Vladenilson Olmedo com recado de “Jamilzinho”.
Na casa dos Name, encontrou pai e filho e, ainda, Marcelo Rios, com pistola na cintura. “Jamilzinho me ofereceu dinheiro para sair de Campo Grande: ‘enterra teu filho e vai embora’”. O ex-policial respondeu que precisava falar com a polícia. “Você não conversa com ninguém, enterra teu filho e vai embora”, repetiu o outro.
Xavier desconfiou que poderia estar em uma emboscada. Se recusou a beber água de garrafa com lacre rompido, dando a entender que achou que poderia ser envenenado. O promotor passou a palavra para a assistente de acusação, Cristiane Coutinho, ex-mulher de PX, mas ela não quis fazer qualquer questionamento.
Já na parte da inquisição da defesa dos réus, chamou atenção a fala do advogado Nefi Cordeiro, que representa Jamil Name.
Cordeiro disse que queria prestar solidariedade ao ex-policial. “Como ser humano, como pai, ainda mais a perda de um filho que estava fazendo Direito e tinha toda a vida pela frente”. Xavier retrucou. “Quando você perde um filho, é uma situação; quando seu filho morre no seu lugar, é completamente diferente”.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.