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Capital

Seis meses depois, lei da cantina saudável ainda não "pegou"

Elverson Cardozo | 04/04/2012 09:56

Lei 4.992 foi sancionada no dia 30 de setembro de 2011

Silveira visita a cantina de escola municipal; aos fundos, prateleira com poucas opções de itens "saudáveis"(Foto: João Garrigó)
Silveira visita a cantina de escola municipal; aos fundos, prateleira com poucas opções de itens "saudáveis"(Foto: João Garrigó)

Há 6 meses, professores, alunos, diretores e toda a comunidade escolar tentam se adaptar a uma nova lei, a da cantina saudável, que define normas para a comercialização de alimentos na rede pública e instituições privadas de educação básica de Campo Grande.

Desde 30 de setembro de 2011 está proibida a venda de produtos como balas, pirulitos, gomas de mascar, biscoitos recheados, refrigerantes, sucos artificiais, salgadinhos industrializados, entre outros. O objetivo é promover uma alimentação mais saudável no ambiente escolar.

O problema é que nem todas as escolas se adequaram à nova determinação e algumas das que cumprem enfrentam a resistência dos estudantes e até dos pais. “É o início de uma luta dramática”, explica o autor da lei, Vereador Silveira (PSDB).

A equipe de reportagem do Campo Grande News acompanhou o parlamentar em visita a duas escolas públicas da Capital. Na Municipal Elpídio Reis, localizada na Mata do Jacinto, os trabalhos de conscientização começaram bem antes do projeto de lei.

Diretora do colégio, Maria Cristina Gonçalves de Oliveira afirmou que a implantação da cantina saudável começou há cerca de três anos. Além das mudanças, o assunto foi levado para sala de aula e é debatido entre alunos, professores e pais.

No início, as “opções saudáveis” causaram revolta entre os estudantes, especialmente nos adolescentes. “Eles vieram para cima da gente com tudo”, conta. Agora, conta, já estão mais acostumados.

Mas como “criança é criança” não é difícil encontrar alguma mascando chiclete ou chupando bala na hora do intervalo. Nem tão criança assim, Leonardo Felipe, de 17 anos, aluno da 7ª série, disse que não gostou das alterações.

Já que não vendem dentro da escola, Leonardo conta que comprou o pirulito que chupava do lado de fora. “O hábito é difícil de mudar. Tem que ser pelo trabalho e educação”, afirma a diretora, acrescentando que além dos estudantes, enfrenta resistências dos pais. “Alguma mandam salgadinhos, refrigerantes”, comenta.

Silveira reconhece que a mudança de hábitos não acontece “da noite para o dia” e afirma que a falta de conscientização com relação aos aspectos alimentares está relacionada à cultura de Mato Grosso do Sul e principalmente na educação familiar. “A cantina é um exercício pedagógico para educar as crianças”, afirma.

Durante o lanche, estudantes ainda encontram chocolates e guloseimas(Foto: João Garrigó)
Durante o lanche, estudantes ainda encontram chocolates e guloseimas(Foto: João Garrigó)
Geladeira que deveria armazenar frutas, está vazia. (Foto: João Garrigó)
Geladeira que deveria armazenar frutas, está vazia. (Foto: João Garrigó)

Criatividade – A coordenadora de ensino fundamental da escola Mace em Campo Grande, Adriana Biancão Lopes, de 39 anos, explica que, para chamar a atenção dos alunos, a direção investiu em palestras e atividades lúdicas.

Em uma delas, os trabalhos foram desenvolvidos na cozinha da instituição. Supervisionados e auxiliados por professores, alunos das séries iniciais criaram receitas saudáveis.

Também foi criado ao dia da fruta. Momento em que os estudantes fazem uma roda para comer o que trouxeram de casa. Aos pais são enviados mensalmente sugestão de cardápios para os lanches.

Na comemoração antecipada da páscoa, os alunos vão fazer brigadeiros de cenoura. As atividades de conscientização, segundo Adriana, foram positivas, bem aceita na escola e aprovadas pelos pais.

“Em casa os filhos não gostam de obedecer e nas escolas tem o estímulo dos professores”, afirma.

Cantina da escola particular (Foto: João Garrigó)
Cantina da escola particular (Foto: João Garrigó)
Na geladeira, salada de frutas e gelatina (Foto: João Garrigó)
Na geladeira, salada de frutas e gelatina (Foto: João Garrigó)

Fiscalização - Vereador Silveira explica que a fiscalização repressiva fica a cargo do executivo, mas a diretoria da escola, professores e pais tem o dever de informar às autoridades quando flagrarem situações de desrespeito, assim como toda a comunidade.

“Não pode ficar esperando à mercê de uma denúncia anônima”, disse.

Na Escola Municipal José Rodrigues Benfica, no bairro Amambaí, o foco, segundo a diretoria, está na conscientização dos pais. “Não adianta oferecer sanduiches com carinhas se quando a criança chega em casa come batata frita”, disse a diretora Ana Lúcia dos Santos Ferreira, se referindo às opções saudáveis para chamar a atenção dos alunos.

Ana Lúcia considera a lei válida e afirma que na escola o tema está sendo debatido por meio de um projeto interdisciplinar, utilizando, inclusive, a tecnologia. “A gente mesmo faz parte desse grupo que tem pressão alta, diabetes e vai vendo onde melhora”, relata.

Para o autor da lei, muitas vezes a resistência dos alunos está relacionada à falta de criatividade da escola em oferecer opções alimentares saudáveis ou empenho da diretoria.

Na Benfica, por exemplo, Silveira acredita que a cantina, embora dentro da lei, é pouco atrativa aos estudantes.

Opções saudáveis e acessíveis - Pensando no lucro e nos cortes que tiveram por conta da lei, alguns comerciantes encarecem os produtos, ao invés de oferecerem opções saudáveis e baratas, como o bolo de milho que pode ser vendido a R$ 0,29 centavos o pedaço.

Para os proprietários de cantinas, o custo total da receita, que rende 15 unidades, sai por menos de R$ 5,00. Outro exemplo é o pão com queijo quente. A unidade, que leva uma fatia de queijo e duas rodelas de tomate pode ser vendida a R$ 0,50 centavos.

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