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Capital

Sindicato recebe mais denúncias de promessa fake de emprego em obra

Após reprovação, soldadores que tentaram vaga em obra de fábrica de celulose esperam voltar para casa

Silvia Frias e Mariely Barros | 16/05/2023 12:41
Trabalhador pendura roupa na lateral do hotel, na saída para São Paulo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Trabalhador pendura roupa na lateral do hotel, na saída para São Paulo. (Foto: Henrique Kawaminami)

Três dias depois do acordo fechado com o MPT (Ministério Público do Trabalho), o processo seletivo da Enesa Engenharia para contratar trabalhadores para construção da fábrica de celulose, em Ribas do Rio Pardo, voltou a ser alvo de fiscalização do Sinticop-MS (Sindicato dos Trabalhadores na Construção Pesada de Mato Grosso do Sul).

A Enesa Engenharia é empresa terceirizada, que presta serviço em construção de fábrica em Ribas, distante 98 quilômetros de Campo Grande.

O sindicato foi até o hotel na saída para São Paulo, em Campo Grande, onde os trabalhadores que passam pelo processo seletivo estão hospedados. Novamente a equipe ouviu relatos sobre critérios questionáveis do teste e demora para retorno ao estado de origem, no caso dos reprovados.

Carlos Silva tem 14 anos de experiência: "aquilo não foi testes". (Foto: Henrique Kawaminami)
Carlos Silva tem 14 anos de experiência: "aquilo não foi testes". (Foto: Henrique Kawaminami)

Os trabalhadores vieram de diversos estados, atraídos pela oportunidade de trabalho como soldadores e salário de cerca de R$ 3 mil. Muitos dizem que não passam nem na primeira fase do teste, dividido em três etapas, e ficam à espera do retorno para casa, no hotel. Muitos até recebem como proposta da Enesa vaga em outra função, com salário de R$ 1,5 mil, ou seja, metade do pretendido.

No hotel, há cerca de 350 pessoas, entre trabalhadores que ainda estão em seleção e outros que já reprovaram e querem voltar para casa, mas dependem de pagamento a ser feito: R$ 800 mais os dias que ficaram em Campo Grande, à disposição da empresa. O hotel está lotado e precisou até comprar mais colchões para abrigar a todos.

O presidente do Sinticop-MS, Walter Vieira dos Santos, disse que os requisitos das vagas ainda não foram esclarecidos de maneira satisfatória. “Muitos desses profissionais têm prejuízo psicológicos, chegam confiando na mão de obras deles, aí são reprovados, descartados no hotel até a empresa mandar para casa”, disse.

Pelo acordo com MPT, o pagamento total deve ser feito até dia 26. O retorno já deve ser finalizado ainda hoje, em embarque aéreo.

Segundo trabalhadores, já receberam marmita com comida azeda ou carne quase crua. (Foto: Henrique Kawaminami)
Segundo trabalhadores, já receberam marmita com comida azeda ou carne quase crua. (Foto: Henrique Kawaminami)

Carlos Silva, 33 anos, veio do Recife (PE) depois que amigo mandou o link sobre a vaga, via WhatsApp. Chegou na quarta-feira passada e fez o teste na quinta-feira. Com 14 anos de experiência, diz que a situação foi inédita. “Aquilo não foi teste, fiz três filetes de solda e o rapaz já falou que estava reprovado”. Depois disso, ofereceram vaga de lixador, com salário menor.

Silva está esperando para voltar para casa no hotel em Campo Grande. Reclamou da marmita fornecida pela empresa. “Já veio azeda ou cheia de arroz e uma calabresa crua, como pode trabalhador, em pleno domingo de Dia das Mães, comendo toscana crua? Isso aqui é humilhação”, reclamou.

Quem também estranhou o teste foi Pablo Pinto da Silva, 36 anos. Ele veio de Pato de Minas (MG) e foi reprovado de cara. “De 100 que fazem teste, 98 voltam falando que não conseguiram”, calculou. Também está tentando voltar para casa, mas depende do pagamento. Como não tem o banco pedido, não conseguiu receber. “Não especificaram isso para contratar”.

Presidente do sindicato, Walter Vieira, foi ao hotel averiguar situação. (Foto: Henrique Kawaminami)
Presidente do sindicato, Walter Vieira, foi ao hotel averiguar situação. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na leva de Bruno da Conceição, 24 anos, residente na Bahia, dos 40 trabalhadores que fizeram teste, apenas 5 passaram. O rapaz reprovou e está há uma semana esperando receber para ir embora, desta vez, para Minas Gerais, onde vai participar de outro processo seletivo. “Nunca passei por isso”, disse.

No hotel, uma funcionária da Enesa Engenharia conversou com o presidente do sindicato e disse ao Campo Grande News que a empresa está colhendo informações para aperfeiçoar o processo seletivo. Porém, a resposta oficial seria enviada somente pela assessoria, mais tarde.

O sindicato informou que iria oficiar o MPT sobre a manutenção do problema no processo eletivo da empresa.

Em nota, a Suzano informou que as empresas terceirizadas seguem processo de avaliação rigoroso, que inclui controles relacionados à legislação, como as leis trabalhistas e anticorrupção, além do código de conduta da empresa. Caso irregularidades sejam comprovadas, penalidades podem ser aplicadas, até mesmo a rescisão do contrato. Sobre a Enesa Engenharia, informa que iniciou "rigorosa apuração sobre o caso".

#matéria atualizada às 19h50 para acréscimo de retorno.

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