Testes com “bactéria antidengue” na Capital vão começar pelas Moreninhas
Sesau confirmou entendimento para espalhar exemplares do Aedes aegypti com Wolbachia pela região; data ainda será definida
A região das Moreninhas, no sul de Campo Grande, deve ser uma das primeiras da cidade a receber exemplares do mosquito Aedes aegypti –transmissor da dengue, zika vírus, febre chikungunya e febre amarela– infectados com a bactéria Wolbachia pipentis, em uma técnica que visa a inibir a transmissão das doenças. Os dados foram confirmados pela CCEV (Coordenadoria de Controle de Endemias Vetorias) da Secretaria Municipal de Saúde.
A data exata para início dos testes ainda será confirmada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que comanda a pesquisa. Vagner Ricardo dos Santos, gerente técnico da CCEV e à frente das ações de combate ao Aedes na Sesau, afirma que o início dos trabalhos nas Moreninhas foi definido após conversas com lideranças da comunidade.
A expectativa era de que, nos próximos dias, fosse iniciado treinamento da Fiocruz visando a preparação de equipes para os testes e monitoramento dos insetos portadores da bactéria. “A data, infelizmente, ainda não foi fechada. Estamos organizando, em processo de engajamento e definição das áreas para testes”, destacou Vagner, reiterando que a realização das ações nas Moreninhas já foi definida.
A Wolbachia é observada há quase 80 anos em mosquitos da espécie Culex, sendo identificada em 70% dos insetos do mundo. Pesquisas realizadas pela Fiocruz e outras instituições indicam que a bactéria é capaz de bloquear a transmissão das doenças pelo Aedes –que é contaminado já nos ovos da fêmea. Em 2011, a Austrália realizou testes com mosquitos infectados com o microorganismo e, em cinco semanas, constatou-se a presença da Wolbachia em quase 100% desses insetos nas regiões-alvo –já que mosquitos contaminados se reproduziram com outros sem a bactéria.
Método – O Ministério da Saúde pretende usar o “método Wolbachia” para conter surtos de dengue em cidades com mais de 500 mil habitantes. Campo Grande, que esporadicamente registra surtos e epidemias de dengue, entrou no roteiro do projeto, assim como as cidades de Belo Horizonte (MG) e Petrolina (PE). A cidade do Rio de Janeiro também já recebeu os testes.
Na noite de quinta-feira (18), representantes das Moreninhas e da CCEV discutiram na Câmara de Campo Grande, em reunião intermediada pelo vereador Francisco Telles (PSD), a realização do projeto, sendo defendida a mobilização de moradores para colaborarem com a ação. Na ocasião, o assessor técnico da Sesau, Lourival Pereira de Araújo, explicou que a escolha da região para os testes é o fato de os bairros terem o porte de uma cidade –estima-se que mais de 20 mil pessoas vivem nos bairros da região.
Os trabalhos devem envolver a dispersão de ovos do Aedes infectados com a bactéria, para que eclodam e os insetos se espalhem, disseminando a Wolbachia. Em abril, durante anúncio sobre a realização do projeto na Capital, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, destacou que o método é uma estratégia complementar, ainda sendo necessário que a população e os governos façam sua parte. Os testes devem durar três anos.
Mandetta destacou que a técnica é segura para o meio ambiente e as pessoas, já que a bactéria vive apenas na célula dos insetos, não havendo modificações genéricas no Aedes.