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Capital

Vendedor chega andando e fica "vegetando" após procurar posto

Ricardo Campos Jr. | 09/01/2015 18:04
Sílvio hoje está acamado, não anda, não fala e precisa de ajuda para comer (Foto: Marcos Ermínio)
Sílvio hoje está acamado, não anda, não fala e precisa de ajuda para comer (Foto: Marcos Ermínio)
Juninho em viagem com a família antes do incidente (Foto: Marcos Ermínio)
Juninho em viagem com a família antes do incidente (Foto: Marcos Ermínio)

Há quatro meses, a família do vendedor autônomo Sílvio José Ramos Júnior, 33 anos, tenta provar que ele foi vítima de um erro médico ao receber uma medicação no posto de saúde do bairro Tiradentes, em Campo Grande, além de conseguir pela prefeitura todos os medicamentos, tratamentos e cuidados necessários para o paciente. O homem, conhecido como Juninho, deu entrada na unidade reclamando de ânsia de vômito e segundo o irmão dele, Renato Gama, 34 anos, saiu de lá convulsionando e rumo ao CTI, beirando a morte. A assessoria da Sesau disse não ter sido informada oficialmente sobre o assunto.

“Ele chegou andando no posto. Ele ligou para a minha mãe dizendo que faria uma consulta, procurava o posto por qualquer coisa que sentia. Fizeram um exame físico e o levaram para o repouso. Meu irmão tomou a medicação, continuava falando. De repente, eu entrei no quarto e ele estava se torcendo, rasgou a roupa do corpo. Permaneceu naquele estado por cinco horas, não tinha ambulância para mandá-lo para o hospital”, relata.

O problema, de acordo com Roberto, é que o único local com disponibilidade para receber Juninho foi uma unidade particular. Juninho então começou a passar por diversos exames para que se chegasse a uma explicação para o problema que teve.

“A cada resultado alegavam uma coisa diferente, mas nunca tinham uma concretização. Chegou a fazer um exame que acusou sinusite grave aguda” relata. Foram 21 dias de internação na UTI do local. Durante esse tempo, Renato não se lembra exatamente qual dia, uma funcionária da unidade anunciou que a partir daquele momento, o tratamento seria por conta da família.

“Eles começaram a cobrar. Só em exames foram quase R$ 3 mil”, conta o irmão do paciente. Parentes procuraram a Defensoria Pública para ajuizar uma ação pedindo que os custos já pagos fossem ressarcidos e os que ainda estavam por vir fossem bancados pelo poder público. Foi então que conseguiram uma vaga para ele no Hospital Regional, onde ficou mais 17 dias no tratamento intensivo e teve alta para o quarto.

Irmão de Juninho tem todos os resultados de exame, notas dos custos que teve e documentos para anexar no processo (Foto: Marcos Ermínio)
Irmão de Juninho tem todos os resultados de exame, notas dos custos que teve e documentos para anexar no processo (Foto: Marcos Ermínio)

“No caso do meu irmão, não tem mais o que fazer. Eu o perdi. Ele não vai mais andar, não vai mais comer, não vai mais falar. Por enquanto eu nem sei o que vou fazer”, diz. No dia 27 de outubro ele recebeu alta e a internação passou a ser dentro de um quarto numa casa alugada no bairro Tarumã. Para usufruir de um serviço semelhante a um home care oferecido de graça pelo Hospital Regional, a família teve que sair da região do Tiradentes, onde tinha uma casa própria, para morar de aluguel próximo ao hospital.

Ainda não se sabe qual substância provocou a reação em Juninho. Valdemar Morais de Souza, presidente da Associação de Erros Médicos de Mato Grosso do Sul, afirma que o prontuário dele do posto de saúde ainda não foi fornecido. Um boletim de ocorrência foi registrado ontem na tentativa de que se apure se houve negligência por parte de algum dos profissionais que atenderam a vítima.

“Dependendo do resultado do inquérito, vamos processar o médico e o município”. Por enquanto, segundo ele, enquanto os procedimentos na esfera criminal seguem, outro processo deve ser protocolado pedindo tratamento adequado para o paciente, que agora depende de uma dieta especial, fraldas, remédios, além de acompanhamento multiprofissional. Hoje ele tem o apoio da equipe do Regional, mas a família quer que tudo isso seja feito na casa da família, no Tiradentes.

Oficial - A Sesau informou que a ocorrência ou não de erros médicos é feita pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) e não pelo órgão. Sobre o prontuário, explica que o documento não é entregue pela unidade de saúde. Um requerimento formal deve ser feito na sede da pasta, na rua Bahioa, número 280, pelo próprio paciente ou por um parente munido com os documentos da pessoa atendida.

A entrega leva de três a 15 dias para ser feita. Outra recomendação é que as pessoas que por ventura sentirem-se lesadas em função do atendimento na rede façam reclamação na Sesau ou na própria ouvidoria do SUS.

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