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Capital

Via-Sacra em hospital faz paralelo entre crucificação de Cristo e o doente

Viviane Oliveira | 03/04/2015 12:08
Paciente acompanha a encenação. (Foto: Marcos Ermínio).
Paciente acompanha a encenação. (Foto: Marcos Ermínio).
Funcionário de hospital faz papel de Jesus Cristo. (Foto: Marcos Ermínio)
Funcionário de hospital faz papel de Jesus Cristo. (Foto: Marcos Ermínio)

Há 20 anos a encenação da Via-Sacra do doente realizada no Hospital São Julião, em Campo Grande, faz um paralelo com a crucificação de Cristo e a vida dos pacientes que vivem no local. Na manhã de hoje, mais uma vez a história inspirada em relatos do poeta Lino Villachá, que tinha hanseníase, ficou internado há mais de 40 anos no hospital e morreu em 1994, emocionou dezenas de pessoas que acompanharam a restituição do episódio bíblico. A peça é encenada por 25 atores, entre funcionários e ex-pacientes.

Durante a narração da peça, o locutor intercala cada uma das 14 estações da Via-Sacra com momentos da vida do doente, como por exemplo, no momento em que Jesus é condenado à morte, o escritor comparou a dor que alguém sente quando recebe a notícia da doença e precisa se tratar. O enfermo, também, carrega a cruz do tratamento com quedas pelo caminho se deparando com aflições de familiares e amigos.

O diretor administrativo da unidade de saúde, Amilton Fernandes Alvarenga, conta que na década de 60, quando o poeta foi internado no hospital, as pessoas sofriam muito com a doença. “Elas eram isoladas, discriminadas e humilhadas. Os hospitais que tratavam da doença tinham que ser afastados da cidade.

Sensível com a situação, o escritor além de escrever cinco livros deixou relatos do dia-a-dia do doente. O texto foi encontrado pela direção do hospital logo após a sua morte, há 21 anos. “Daí por diante a direção do hospital, resolveu contar os relatos do paciente associado com os últimos passos de Jesus”, explica.

A plateia é formada pela comunidade e por alguns enfermos da unidade. Internada há três meses no hospital, a paciente Rosineide Gonçalves Nascimento, 32 anos, assistia pela primeira vez a encenação. Ela sofre de tuberculose e diz com sorriso no rosto da satisfação em poder acompanhar a peça. “Eu conhecia a história, mas nunca tinha visto a encenação. Para mim é uma novidade e só vem reforçar o sofrimento de Jesus para nos dar a vida eterna”, conta.

Ex-paciente, Ramão ainda participa das encenações e diz que não pretende sair tão cedo. (Foto: Marcos Ermínio)
Ex-paciente, Ramão ainda participa das encenações e diz que não pretende sair tão cedo. (Foto: Marcos Ermínio)
Seo José, 108 anos, foi o sexto paciente a ser internado no hospital. Mesmo curado da doença, o idoso continua morando no local. (Foto: Marcos Ermínio)
Seo José, 108 anos, foi o sexto paciente a ser internado no hospital. Mesmo curado da doença, o idoso continua morando no local. (Foto: Marcos Ermínio)

Com dificuldades para andar e falar, José Garcia, 108 anos, também apreciava de pertinho a representação. José foi o sexto paciente com hanseníase a chegar no hospital e conviveu com Lino Villachá. Hoje, os familiares do doente são os funcionários e os pacientes da unidade. “Ele conta para gente, que as pessoas tinham medo de pegar até o dinheiro de quem sofria a enfermidade”, relata o diretor do hospital.

Responsável por ensaiar a equipe há 20 anos, Bruno Maddalena, conta que todo ano muda um outro ator, mas que tem ex-pacientes que fazem questão de participar e não pretende sair do grupo tão cedo como Ramão Miranda, que na próxima terça completa 68 anos. Curado da doença de hanseníase, o idoso conta que começou a fazer parte da peça quando morou no hospital para fazer tratamento.

Hoje, Ramão mora no Bairro Nova Lima, mas faz questão de manter os laços com o hospital, inclusive participando da encenação. Ele faz papel de soldado. “Foi um propósito que fiz com Deus, enquanto tiver vida vou fazer parte do grupo de teatro”, destaca. A 15ª estação acontece no domingo (5) na capela São Francisco, no Hospital São Julião.

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