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Interior

Críticas à reunião sobre mineração viram caso de polícia em Bonito

Grupo ambiental da Serra da Bodoquena está sendo acusado de calúnia por mensagens em grupo de WhatsApp

Por Lucas Mamédio | 04/11/2024 16:09
Mensagens em grupo Unidos Serra da Bodoquena; advogada Marla aparece de amarelo (Foto: Reprodução)
Mensagens em grupo Unidos Serra da Bodoquena; advogada Marla aparece de amarelo (Foto: Reprodução)

Uma reunião realizada entre membros do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) de Bonito e representantes da Agência Nacional de Mineração (ANM), no último dia 10 de outubro, acabou virando caso de polícia.

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Uma reunião entre o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) de Bonito e a Agência Nacional de Mineração (ANM) gerou polêmica após mensagens em um grupo de WhatsApp do coletivo Unidos da Serra da Bodoquena criticarem duramente o encontro, acusando o Comdema de ineficácia e insinuando acordos escusos. Três participantes da reunião registraram boletim de ocorrência por calúnia, alegando que as mensagens difamavam sua reputação e insinuavam recebimento de vantagens financeiras. O grupo, por sua vez, defende o direito à livre expressão e critica a reunião, alegando que a mineração representa uma ameaça ao ecossistema da região. A polêmica levanta questões sobre a liberdade de expressão e o papel do Comdema na proteção ambiental em Bonito.

Isso porque o encontro foi duramente criticado em um grupo de WhatsApp por membros do coletivo Unidos da Serra da Bodoquena, que atua na preservação do bioma na região. Porém, para os que estavam na reunião, não foram meras críticas, foram mensagens caluniosas.

Tudo começou quando duas fotos do encontro entre membros do conselho e da ANM chegaram ao grupo. Os diálogos, a que o Campo Grande News teve acesso, fazem críticas à atuação da Comdema e à postura de autoridades locais em relação à mineração.

Uma das mensagens afirmava que o Comdema “não condena” e insinuava a ineficácia da instituição. Em sequência, outro membro expressou descontentamento com a postura do secretário de meio ambiente, utilizando ironia para criticar sua atuação.

"Pelo menos o secretário parou de levar o carro da Sema [Secretaria de Meio Ambiente do município] quase todo mês pra revisar lá em Campo Grande e agora está empenhado em fingir que tá trabalhando? Bom 'trabai', nenê da 'mamain' coach?",

Em outra mensagem, há insinuação de lucro sobre negociações escusas. “Mas pelo jeito houve acordo e ambos os lados estão felizes . Plimplim", "O importante é o lucro. De quem, fica a dúvida".

Diante das mensagens, três dos participantes da reunião decidiram formalizar uma queixa, alegando que as declarações configuram calúnia, conforme previsto no artigo 138 do Código Penal. A ocorrência foi registrada pelo delegado Diego de Queiroz Satiro Cabral Batista.

Print de conversa que mostra foto de Marla com prefeito; em seguida é possível ver mensagens de membros do grupo (Foto: Reprodução)
Print de conversa que mostra foto de Marla com prefeito; em seguida é possível ver mensagens de membros do grupo (Foto: Reprodução)

Uma das pessoas que se sentiu caluniada é a advogada Marla Diniz Brandão. Em uma das mensagens no grupo, ela aparece em foto ao lado do prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues (PSDB).  A pessoa que posta a foto diz: “Questões ambientais? E como ficam as mineradoras? Tudo joia?”. Ao que outro responde: “Tudo joia” acompanhado de um emoji de um anel de brilhante.

"Essas mensagens me deixaram extremamente desonrada. Eu trabalho há sete anos como voluntária no Comdema, dediquei tempo, dediquei saúde e tenho que passar por isso? Como advogada não vou ficar quieta recebendo acusações de recebimento de vantagem em dinheiro”, disse Marla.

Segundo Marla, a reunião com a ANM não era para falar sobre nenhuma mineradora nova, mas era para que membros da agência explicassem melhor como funcionava os licenciamentos delas. “Nós queremos justamente impedir a mineração de chegar como está chegando”.

Os participantes do grupo reagiram ao boletim de ocorrência. Eles continuam criticando a reunião e consideram que o B.O é uma tentativa de censura porque tão somente emitiram suas opiniões, o que suscita preocupações sobre a proteção constitucional à livre manifestação do pensamento.

“A Constituição garante a liberdade de consciência e expressão, e a crítica às iniciativas de órgãos públicos, especialmente quando se trata de questões ambientais, deve ser respeitada. É preocupante que a simples discordância sobre políticas que afetam o meio ambiente possa resultar em penalizações”, diz trecho da nota.

Para o grupo, Bonito é reconhecida por sua biodiversidade e ecoturismo, e não deve ser um campo para a mineração, especialmente quando já existem projetos em andamento.

“O Comdema e a Secretaria de Meio Ambiente devem agir como defensores do ecossistema, promovendo transparência e diálogo aberto com a comunidade. É fundamental que a população tenha voz ativa nas decisões que impactam seu território”.

Por fim, pede que o Comdema e a Secretaria do Meio Ambiente reavaliem suas posturas e promovam um espaço de discussão mais inclusivo e democrático.

Reportagens - Os riscos da atividade mineradora para o bioma da região foram revelados por uma série de matérias publicadas pelo Campo Grande News. Na primeira reportagem é revelada a situação de moradores do Assentamento Campina, em Bodoquena, a 264 km de Campo Grande, onde a atividade mineradora supostamente está rachando a parede das casas dos assentados, além de outros reflexos.

Na segunda reportagem é revelada como toda a região da Serra da Bodoquena vem sendo objeto de interesse de atividades que são diametralmente opostas à conservação deste ecossistema. Dentre essas atividades, estão a agropecuária e mineração.

Já na terceira matéria, o Campo Grande News cobrou as prefeituras de Bodoquena e Bonito como é aplicado o valor recebido na cota-parte da Compensação Financeira pela Exploração Mineral, porém, até o fechamento desta reportagem não houve resposta.

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