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Escutas apontam fraudes e superfaturamento no Carnaval de Corumbá

Aline dos Santos | 01/06/2012 12:20

Gravações de ligações telefônicas levaram às prisões de servidores da prefeitura de Corumbá

Show de Cláudia Leitte arrecadou recursos para o Carnaval. (Foto: Divulgação)
Show de Cláudia Leitte arrecadou recursos para o Carnaval. (Foto: Divulgação)

Gravações de ligações telefônicas levaram às prisões de servidores da prefeitura de Corumbá. Há indícios de fraudes na Saúde e superfaturamento de shows do Carnaval 2012.

Ontem, durante a operação Decoada, a PF (Polícia Federal) prendeu o secretário de Finanças e Administração, Daniel Martins Costa, o ex-diretor presidente da Fundação de Cultura e Turismo, Rodolfo Assef Vieira, o assessor de gabinete Carlos Porto e a servidora Camila Campos Carvalho Faro. Ela já está em liberdade.

Conforme decisão da 1ª Vara da Justiça Federal de Corumbá, o secretário Daniel Martins Costa foi flagrado com R$ 20 mil no pedágio da BR-262. Ele retornava de Campo Grande. Na casa de Daniel, na Capital, não foi encontrado dinheiro, mas os policiais localizaram um compartimento “secreto” no armário do quarto do casal.

Contra ele, também pesa um contrato com suspeitas de graves irregularidades firmado com a Empresa B.S.Pereira, a BS Rent a Car, que oferece locação de veículos e máquinas.

Rodolfo Assef Vieira, que deixou o comando da Fundação de Cultura e Turismo de Corumbá neste ano para ser candidato, é suspeito de superfaturamento no show da cantora Cláudia Leitte. Foram cobrados ingressos de R$ 20 a R$ 2 mil para arrecadar dinheiro para o Carnaval e para a Santa Casa.

Num diálogo, registrado em dezembro do ano passado, ele afirma que a quantia que ultrapassasse o valor de R$ 330 mil na arrecadação do show (o qual foi pago com dinheiro público) seria lucro. O show do Revelação, no Carnaval deste ano, também tem suspeita de superfaturamento.

Em outro diálogo, ele conversa com um homem não identificado, que cita que o secretário de Finanças teria ficado de depositar um “saldinho” de R$ 53 mil. O homem pede que Rodolfo fale com Daniel sobre a nota do Carnaval. “Eu faço a nota de cento e dezoito, ele não me paga, ele me dá vinte, eu não pago nem imposto”, diz o diálogo.

Para a polícia, a servidora Camila Campos de Carvalho Faro, gerente II da Secretaria de Gestão Governamental da prefeitura de Corumbá, estava ciente das irregularidades, por ser assessora próxima ao secretário de Finanças. Em uma ligação, ela informa o secretário Daniel que o representante da empresa KM ligou solicitando o pagamento de pelo menos R$ 25 mil para começar os trabalhos.

Conforme a investigação, a empresa KM, mesmo estando irregular e impedida de trabalhar com vigilância patrimonial, participou da segurança do Carnaval de Corumbá através de outra pessoa jurídica, a Repressão Vigilância e Segurança Ltda EPP.

O representante da outra empresa também trava diálogos com o assessor Carlos Porto. “Tá, mas você não quer, foram quartoze né, você não quer passar desse montante já?”, questiona Porto, em março deste ano.

Hospital de Corumbá é alvo constante de denúncia por caos no atendimento. (Foto: Capital do Pantanal)
Hospital de Corumbá é alvo constante de denúncia por caos no atendimento. (Foto: Capital do Pantanal)

Gorjeta – Conforme as investigações, a Saúde também era alvo das fraudes. Em 18 de abril deste ano, o secretário municipal da área, Lauther da Silva Serra, conversa com o diretor de hospital de Caridade, Vitor Salomão Paiva.

Num dos trechos, Lauther diz: “Vamos fazer daquele jeitinho que cê falou mesmo. Quinze,quinze e vinte né? Vitor concorda e diz: “aí cê tira a sua gorjeta” (provável desvio de recurso do SUS). Lauhter então combina de arrumar o dinheiro “e aí eu vou, eu vou, eu arrumo esse dinheiro lá, eu já converso lá”.

Lauther e Vitor foram afastados dos cargos. O afastamento também foi determinado para os servidores Osana de Lucca, Márcio Androlage Chaves e Maria Vitória da Silva. A PF apreendeu documentos no hospital, que é alvo recorrente de denúncias sobre o caso no atendimento.

Decoada - Ontem, a PF cumpriu mandados de buscas e apreensão na prefeitura de Corumbá, que ficou fechada, além da prefeitura de Ladário. Ao todo, foram quatro mandados de prisão temporárias (válidos por cinco dias), 36 mandados de busca e apreensão e 28 de condução coercitiva.

As investigações, que duraram mais de um ano, foram realizadas em conjunto pela Polícia Federal, MPF (Ministério Público Federal), CGU (Controladoria-Geral da União) e MPE (Ministério Público Estadual).

A força-tarefa apontou a ocorrência de fraudes e direcionamentos em licitações, corrupção, desvio de recursos públicos e pagamentos de propina, com o envolvimento de servidores públicos municipais e empresários.

A operação foi batizada de Decoada em analogia ao fenômeno natural em que vegetação local entra em decomposição na seca, reduzindo o oxigênio da água. Como a corrupção, que asfixia a população.

Participam dos trabalhos 100 policiais federais, 16 servidores da CGU e quatro policiais da Força Nacional de Segurança Pública. A ação foi um desdobramento da operação Questor, realizada em maio de 2011, na prefeitura de Ladário, cidade vizinha a Corumbá. O prefeito Ruiter Cunha (PT)vai conceder entrevista coletiva às 16h.

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