ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 30º

Interior

Fora da terra demarcada, 200 índios terenas ficam sem vacina na Aldeinha

“Moramos na na parte de cima, onde não é reconhecida pela Funai”

Aline dos Santos | 19/04/2021 12:32


Edmilson George mora na parte não demarcada e ficou sem vacina. (Foto: Arquivo Pessoal)
Edmilson George mora na parte não demarcada e ficou sem vacina. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sempre uma batalha, a falta de demarcação como terra indígena de parte da Aldeinha, em Anastácio, deixou 200 pessoas sem vacina contra a covid-19. Num contexto marcado por recusa dos indígenas de outras aldeias em receber o imunizante, esse grupo agora tenta ser reconhecido como indígena aldeado, posto que a comunidade do terenas chegou primeiro, mas agora foi parar no Centro de Anastácio, asfixiada pelo crescimento da área urbana.

“A cidade diminuiu muito o espaço territorial. Moramos ns na parte de cima, onde não é reconhecida pela Funai  [Fundação Nacional do Índio] mas somos todos documentado pelo órgão. E, inclusive, votamos na eleição para cacique”, afirma Edmilson George, que mora na parte não demarcada da Aldeinha e ficou sem vacina.  A Funai só reconhece como aldeia quatro quarteirões.

De acordo com ele, as famílias que estão na terra sem demarcação também chegaram ao local em 1933, quando foi fundada a Aldeinha.  Edmilson conta que os terenas estão fazendo levantamento para verificar o número exato de  adultos acima de 18 anos ficaram se vacina.

Ele afirma que a situação foi comunicada ao MPF (Ministério Público Federal) e Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), com sede em Campo Grande.

À reportagem, o Ministério Público informou que não recebeu representação oficial sobre a situação relatada junto ao gabinete responsável pela tutela indígena na região de Campo Grande (que engloba Anastácio).

O Campo Grande News não conseguiu contato com o Distrito Sanitário Especial Indígena.

Diálogo e fake news – Coordenador do Conselho do Povo Terena e membro da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Aberto Terena avalia que a recusa em vacinar é decorrente de fake news, incentivada até pelo governo federal, e falta de diálogo prévio. “Para que os indígenas do nosso Estado estivessem preparados para receber a vacina. Com um planejamento, antecedendo à chegada da vacina, seriam mais receptivos”, diz.

Aldeinha fica em Anastácio. (Foto: Reprodução/Documentário: Aldeinha: (re)existindo)
Aldeinha fica em Anastácio. (Foto: Reprodução/Documentário: Aldeinha: (re)existindo)

Ele conta que a tia de 92 anos estava com medo de tomar a vacina. “Sorte que eu estava na casa dela. Minha tia disse que estava com medo.  Expliquei que eu já tinha tomado a vacina e estava bem”. Ambos tomaram as duas doses, sem relato de efeitos colaterais.

Médica infectologista e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Mariana Croda destaca que a campanha de vacinação contra a influenza (gripe) tem cobertura de acima de 95% entre os indígenas. Desta vez, com a chegada do novo imunizante, a recusa pode estar relacionada com as informações mentirosas que amedrontam dentro e fora das aldeias.

Além das fake news, que resultam em grande desconfiança, a professora lembra que a população indígena aldeada recebeu vacinas para todos acima de 18 anos. “Pode ser também que os jovens tenham mais confiança que não terão complicações”, afirma.

Desta forma, será preciso medir o grau de recusa quando a vacina  for liberada para toda população jovem.

Nos siga no Google Notícias