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Interior

Líder de protesto diz que denúncia sobre morte de criança é "política"

Capitão da Aldeia Jaguapiru nega bloqueio de ambulância e diz que líder da outra aldeia é assessor da prefeita Délia Razuk

Helio de Freitas, de Dourados | 02/10/2019 08:21
Rodovia MS-156 está bloqueada há 24 horas entre Dourados e Itaporã (Foto: Adilson Domingos)
Rodovia MS-156 está bloqueada há 24 horas entre Dourados e Itaporã (Foto: Adilson Domingos)

O capitão da Aldeia Jaguapiru Isael Morales, o Neco, rebateu denúncia registrada na noite de ontem (1º) na Polícia Civil de que menino de um ano e oito meses teria morrido por falta de socorro devido ao bloqueio da rodovia MS-156, iniciado há 24 horas em Dourados, a 233 km de Campo Grande.

A estrada está interditada em protesto contra a prefeitura por causa da suspensão do transporte de 140 universitários moradores da reserva indígena. A prefeitura alega que não tem obrigação legal de transportar universitários.

Em entrevista nesta manhã ao Campo Grande News, Isael Morales disse que a denúncia é política e tem intenção de enfraquecer o protesto. Ele acusou o capitão da Aldeia Bororó, Gaudêncio Benites, de arquitetar a denúncia por ser assessor nomeado em cargo de confiança pela prefeita Délia Razuk (PTB). Jungtas, a Jaguapiru e a Bororó formam a reserva de Dourados, área de 3.600 hectares, onde vivem pelo menos 18 mil índios Guarani-Kaiowá e Terena.

“O Gaudêncio é comissionado da prefeita, é nomeado, quer enfraquecer o movimento”, afirmou Isael Morales. Ele negou que a ambulância da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) tenha sido barrada no protesto na noite de ontem.

“Todos foram orientados para não barrar nenhum carro de quem fosse trabalhar na comunidade, nem moradores da comunidade, índios e brancos que moram nas aldeias. Eu estava lá, a ambulância não foi barrada”, garantiu o capitão.

Segundo ele, a prova de que a denúncia é falsa é o fato de que existe outra entrada para a Aldeia Bororó, pelo anel viário. “Têm várias outras entradas ali pela rodovia. Estão tentando tirar proveito da situação para tentar enfraquecer o protesto”.

Moraeles afirmou que a rodovia vai continuar bloqueada até a prefeitura mandar representante para negociar com os manifestantes. Segundo ele, os acadêmicos perdem aula há um mês por falta de transporte.

Denúncia – O boletim de ocorrência sobre a morte da criança foi registrado às 23h20 de ontem pela mãe do menino, Miriam da Silva Benites, 18. Ela relatou que o filho estava com diarreia, vômito e febre.

Na segunda-feira (30), Miriam levou a criança ao posto de saúde da Aldeia Bororó. O menino foi medicado e liberado, mas ontem voltou a passar mal. Ela disse que não conseguiu levá-lo ao posto novamente porque sua moto estava sem gasolina e mora longe da unidade de saúde.

Miriam relatou à polícia que por volta de 20h de ontem o menino piorou e passou a ter dificuldade para respirar. Ela procurou uma agente de saúde da aldeia, que acionou a ambulância, mas o veículo de socorro não teria conseguido chegar ao local por causa da rodovia bloqueada por moradores da Aldeia Jaguapiru.

O menino, nascido em 18 de janeiro de 2018, morreu por volta de 20h30. O caso foi registrado no boletim de ocorrência como “morte a esclarecer”.

Assessor – De acordo com o portal da transparência da Prefeitura de Dourados, Gaudêncio Benites, capitão da Aldeia Bororó, é servidor contratado do município, ou seja, ocupa cargo de confiança, sem concurso público.

Nomeado como diretor de Saúde Indígena da Coordenadoria Especial de Assuntos Indígenas, departamento que faz parte da prefeitura, Gaudêncio tem salário bruto de R$ 2.514,52. A reportagem não conseguiu falar com ele nos contatos feitos ontem à noite e na manhã de hoje.

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