Morte de deputado causa revolta até no partido de presidente do Paraguai
Ministro do Interior é criticado por operação policial que resultou na morte de Lalo Gomes
A morte do deputado paraguaio Eulalio Gómes Batista, o “Lalo Gómes”, de 68 anos, abriu crise política para o governo Santiago Peña. Até mesmo dentro do Partido Colorado, o mesmo de Lalo e do atual presidente da República, o caso é tratado com desconfiança e, segundo a imprensa do país vizinho, ameaça o cargo do ministro do Interior, Enrique Riera.
Acusado de ligação com o narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão, Lalo Gomes foi morto na madrugada de ontem (19) em sua casa em Pedro Juan Caballero, durante cumprimento de mandado de busca no âmbito da segunda fase da Operação Pavo Real.
A versão oficial da Polícia Nacional, controlada pelo Ministério do Interior, é de que Lalo Gomes reagiu ao perceber os policiais dentro da casa. Em resposta aos tiros que teriam sido efetuados pelo deputado, um policial o atingiu com dois disparos. Lalo foi socorrido, mas chegou morto ao hospital.
O corpo passou por necropsia na capital Asunción. O laudo preliminar apontou que Lalo Gomes estava agachado quando foi atingido pelos tiros.
Em entrevista coletiva, ontem, o diretor de Medicina Legal e Ciências Forenses do Ministério Público do Paraguai, Pablo Lemir, tentou explicar a cena. "Você pode executar tiros, ouvir a resposta e se proteger, essa é uma reação lógica", disse.
Entretanto, o médico não quis afirmar se Lalo Gomes de fato efetuou tiros. Segundo ele, apenas o laudo mais detalhado poderá revelar essa informação. Esposa do deputado, Jhoana Rodrigues disse que Lalo não teve tempo de reagir. A família afirma que o político foi executado.
Nesta terça-feira (20), o deputado Hugo Meza afirmou que todas as bancadas da Câmara Baixa estão unidas em cobrar resposta do governo sobre a morte de Lalo Gomes. “Alguém tem que pagar por um procedimento tão obscuro”, afirmou.
Também são alvos de críticas os promotores de Justiça que atuam no caso e o juiz Osmar Legal, que autorizou as buscas na casa de Lalo Gomes, do filho dele Alexandre Gomes e de outros três investigados por suposta ligação com o esquema de lavagem de dinheiro do tráfico.
Em entrevista hoje à Rádio ABC Cardinal, Hugo Meza disse que o Congresso Nacional deve emitir nota conjunta para cobrar investigação rigorosa sobre o caso. “A impressão é de que se construíram uma acusação post mortem”, afirmou o deputado.
O corpo de Lalo Gomes está sendo velado em cerimônia restrita aos familiares em Asunción e por volta de meio-dia deve ser trazido para Pedro Juan Caballero, onde será enterrado. O governo do departamento de Amambay decretou luto de três dias pela morte do político, bastante respeitado na linha internacional.
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