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Interior

Na cadeia, marido de promotora intimida clientes para receber honorários

Advogado Daniel Montenegro Menezes teria telefonado para devedor cobrando pagamento com urgência

Helio de Freitas, de Dourados | 19/07/2023 10:01
Daniel Montenegro é vigiado por agente da Senad ao ser preso em casa, no dia 10 (Foto: Arquivo)
Daniel Montenegro é vigiado por agente da Senad ao ser preso em casa, no dia 10 (Foto: Arquivo)

O advogado paraguaio Daniel Montenegro Menezes, 51, preso no dia 10 deste mês no âmbito da Operação Pavo Real, foi acusado de intimidar um ex-cliente de dentro da cadeia para receber honorários. A denúncia foi feita nesta terça-feira (18) pelo irmão do ex-cliente, que havia contratado Montenegro para representá-lo em processos de divórcio e de partilha de herança.

Marido da promotora de Justiça Katia Uemura Montenegro, o advogado foi preso pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) em Pedro Juan Caballero, acusado de integrar a organização criminosa do narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Gimenes Pavão, o “Barão das Drogas”.

No dia 14, o juiz de Garantias Gustavo Amarilla autorizou o advogado a ter acesso a computador com internet em sua cela na Penitenciária Nacional de Tacumbú, na capital Asunción, para fazer a própria defesa. A justificativa é de que Daniel Montenegro precisa receber notificações sobre prazos e movimentações do processo, mas só poderia acessar o sistema da Justiça.

“Às 16h de hoje, o advogado Montenegro chamou meu irmão e cobrou pagamento urgente de seus honorários, disse que o pagamento deveria ser feito o mais tardar amanhã de manhã, senão iria entrar com ação de execução”, afirmou o cidadão paraguaio Alcides Duré ao jornal ABC Color.

Segundo ele, seu irmão reconhece a dívida e afirma não ter se negado a fazer o pagamento. Entretanto, ainda segundo a história contada por Alcides, Montenegro nunca forneceu uma conta bancária em seu nome para que o dinheiro fosse depositado.

“Eu mesmo falei com o advogado sobre esse tema [dívida]. Ele me passou três números de contas diferentes, mas nenhuma em seu nome. Insisti pedindo que passasse a conta dele, mas alegou que, por causa da pandemia de covid-19, teve de encerar a conta pessoal. Pedi então uma conta judicial, mas ele nunca forneceu”, explicou Alcides Duré.

Segundo ele, o contato de Daniel Montenegro com seu irmão foi feito através de ligação telefônica. O advogado teria fornecido número de telefone e alertado que poderiam ligar hoje às 10h. A Justiça e o Ministério Público do Paraguai ainda não se manifestaram sobre o caso.

A prisão – Na semana passada, Daniel Montenegro e outras 40 pessoas foram formalmente denunciadas por fazer parte do mega esquema montado pelo Clã Pavão para lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio oriundo do tráfico de cocaína. Na lista estão oito familiares de Jarvis: a mãe, dois filhos, o irmão, a atual esposa, o padrasto, o genro e a ex-cunhada.

Dos 41 investigados, 12 foram presos no dia 10, entre eles Daniel Montenegro. Oito seguem recolhidos em presídios da capital e três estão em prisão domiciliar. Os outros 29, incluindo os parentes de Pavão, são considerados foragidos.

Conforme a Senad e o Ministério Público do Paraguai, Daniel Montenegro tinha total confiança do Clã Pavão para fazer transações a favor da organização criminosa. Incluído na segunda linha hierárquica da investigação, é acusado de atuar como administrador, testa-de-ferro e “laranja” do esquema, além de atuar como representante legal de algumas propriedades.

A promotora Katia Uemura divulgou nota afirmando desconhecer as denúncias contra seu marido. A Controladoria Geral da República acionou a Corte Suprema de Justiça do Paraguai para que forneça informações referentes ao patrimônio da promotora e do marido. Existe suspeita de enriquecimento ilícito do casal. Uemura é promotora da área criminal em Pedro Juan Caballero.

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