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Interior

PM e professora indígena exigiam R$ 150 mil para acabar com invasões

Para demonstrar liderança sobre índios que cercam sítios, sargento da PM e líder indígena suspenderam ataques no fim de semana

Helio de Freitas, de Dourados | 22/10/2019 10:08
Dirce Cavalheiro Veron é conduzida por policial após ser presa em flagrante ontem (Foto: Adilson Domingos)
Dirce Cavalheiro Veron é conduzida por policial após ser presa em flagrante ontem (Foto: Adilson Domingos)

O sargento da Polícia Militar Waldison Candido Francisco, 46, e a professora indígena Dirce Cavalheiro Veron, 45, presos ontem (21) em Dourados, a 233 km de Campo Grande, exigiam pagamento de R$ 150 mil para acabar com as ameaças de invasões a sítios localizados nos arredores da Aldeia Bororó, região oeste do município.

Há um ano as propriedades estão cercadas por índios que moram na reserva de Dourados e desaldeados, vindos de outras regiões de Mato Grosso do Sul. Se não pagassem o dinheiro, que seria, segundo os autores do crime, dividido entre as lideranças da “retomada”, os sitiantes não iriam mais dormir porque “a coisa ia ficar feia”.

Importante líder dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, Dirce é filha do cacique Marcos Veron, morto em 2003 em confronto com funcionários de uma fazenda em Juti.

Em 2003, então estudante de direito e já atuante em defesa da causa indígena, ela fez parte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, nomeada pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

O PM também é de origem indígena e mora na Aldeia Jaguapiru, em Dourados. Em 2016, ele foi candidato a vereador pelo DEM, mas teve apenas 295 votos e ficou longe de se eleger.

Sargento da PM chega à delegacia conduzido por policiais da Corregedoria (Foto: Adilson Domingos)
Sargento da PM chega à delegacia conduzido por policiais da Corregedoria (Foto: Adilson Domingos)

Prometeram trégua – Conforme o delegado Rodolfo Daltro, do SIG (Setor de Investigações Gerais), o primeiro contato de Dirce Veron e do sargento Waldison com os sitiantes ocorreu semana passada, alguns dias depois dos intensos confrontos entre os índios e seguranças dos sitiantes, no feriado do dia 12 de outubro.

“Depois desses confrontos, os sitiantes foram procurados pela Dirce Veron, que fez a proposta de serem pagos R$ 150 mil para que cessassem os conflitos na região”, afirmou o delegado. O SIG foi avisado e começou a investigar o caso. Logo descobriu que o homem era policial e pediu apoio da Corregedoria da PM.

Segundo Rodolfo Daltro, foram pelo menos três encontros para a negociação, todos com a presença do policial militar. “Ele acompanhava, mas as ameaças se o dinheiro não fosse pago eram feitas principalmente pela Dirce”.

Para demonstrar o controle sobre os índios que cercam as propriedades, Dirce e Waldison prometeram que no fim de semana passado não haveria tentativa de invasão. “De fato não houve conflito e isso nos chamou muito a atenção, pois demonstrou que essas duas pessoas tinham liderança sobre os indígenas”, afirmou o delegado.

Como a promessa de que não haveria tentativa de invasão foi cumprida, as vítimas da extorsão combinaram com os dois o pagamento de R$ 120 mil em quatro parcelas semanais de R$ 30 mil. A primeira parcela seria paga ontem.

“Houve impasse quanto ao local e a Dirce começou a acirrar as ameaças afirmando que os produtores não iriam dormir mais, que não teriam paz. Ficou combinado então que o pagamento da primeira parcela seria feito ontem à tarde no estacionamento de um mercado”, contou o delegado.

Dirce Veron e o PM chegaram ao local do encontro de moto. Assim que pegaram o dinheiro do sitiante, os dois foram presos. A professora indígena ainda tentou evitar o flagrante e jogou o dinheiro na carroceria de caminhonete estacionada no local. Os dois foram levados para a delegacia e autuados em flagrante por extorsão.

O chefe do SIG disse ao Campo Grande News que as investigações continuam para saber se há outras pessoas envolvidas no esquema e para descobrir se a dupla praticou o mesmo crime contra outros produtores rurais da região.

Dirce Veron está em uma cela na 1ª Delegacia de Polícia Civil e o sargento para o Presídio Militar, em Campo Grande. Se o flagrante for convertido em prisão preventiva, ela vai ser levada para um presídio feminino.

Veja abaixo o vídeo com entrevista do delegado, imagens dos dois presos e Dirce Veron discursando em defesa dos índios:

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