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Interior

Rejeitada por ser gay, vítima pode ter ateado fogo que matou seis pessoas

Viviane Oliveira e Caroline Maldonado | 09/05/2014 12:38
Conveniência ficou destruída. (Foto: Marizete Espíndola)
Conveniência ficou destruída. (Foto: Marizete Espíndola)

Uma semana após o incêndio que destruiu uma conveniência e matou seis pessoas em Coronel Sapucaia, a 400 quilômetros de Campo Grande, a Polícia Civil tem mais uma linha de investigação, que reforça a tese de que o fogo tenha sido provocado, ou seja, tenha ocorrido um crime. A suspeita recai sobre uma das vítimas, um jovem de 22 anos, que, segundo as investigações, não se dava bem com a família e já havia tentado suicídio.

Em depoimento, o único sobrevivente da tragédia, o mecânico Edson da Silva, 34 anos, levantou suspeita contra o cunhado Alejandro dos Santos, 22. O fogo destruiu o estabelecimento e matou a proprietária, Rosângela dos Santos, 50 anos, e os dois filhos dela, Alejandro, e Vanusa dos Santos, 26 anos, que era esposa de Edson. Também morreram os filhos de Vanusa: Thiago, 10, Sabrina, 4, e Stefani, 10 meses. Os dois menores eram filhos do mecânico.

Edson disse, durante depoimento na quarta-feira (7), que na hora do incêndio, uma colega de Alejandro estava vendo o fogo e ligou no celular do rapaz. Segundo o que revelou Edson, Alejandro atendeu ao telefone, mas não falou nada e muito menos pediu socorro. Essa colega será ouvida pela Polícia Civil.

Segundo Edson, Alejando não se dava bem com a família, nem mesmo com a mãe Rosângela. Outra coisa que chamou atenção de Edson foi que o corpo de Rosângela estava no quarto de Alejandro, junto com o dele. Os outros corpos estavam no banheiro da casa.

De acordo com Edson, o que provocou estranheza é o fato de que Rosângela nunca entrava no quarto do filho, porque eles não se davam bem. “Ele era homossexual e a mãe nunca aceitou, por isso o tratava mal e não comprava nada para ele. Ela tinha vergonha do filho”, diz. O rapaz não trabalhava, parou de estudar no ensino fundamental, não tinha amigos e ficava trancado no quarto.

Seis pessoas morreram no incêndio, que aconteceu na última sexta-feira (2). (Foto: Marizete Spindola)
Seis pessoas morreram no incêndio, que aconteceu na última sexta-feira (2). (Foto: Marizete Spindola)

Edson disse que Alejandro já tentou se matar cortando os pulsos e um dia antes do incêndio viu uma mensagem escrita por ele dizendo: Vocês me odeiam, eu só lamento! “A família inteira tinha preconceito com ele”, diz. A Polícia vai investigar se existe de fato essa mensagem e onde ela foi deixada.

O mecânico, único que sobreviveu à tragédia por não estar em casa, diz que, agora, vive "um pesadelo". Ele afirma que está jurado de morte e não pode mais sair de casa. “As pessoas estão achando que fui eu que causei a tragédia”, lamenta.

O delegado responsável pelo caso, Leandro Costa de Lacerda Azevedo, confirmou o depoimento de Edson e disse que vai ouvir na tarde de hoje um amigo de Alejandro. “É uma linha de investigação válida. Vamos ouvi-lo para saber como era o relacionamento do rapaz com a família”, explica.

A Polícia agora aguarda o laudo técnico que deve apontar se o incêndio foi criminoso, a rota de fuga e onde começou o fogo. “Antes de a Polícia chegar muita gente entrou no local, descaracterizando assim, vestígios importantes para o trabalho da perícia”. O delegado ouviu até agora 14 testemunhas, entre familiares e amigos.

Lei do silêncio - Segundo o delegado, impera a lei do silêncio no município pelo fato da região ser conhecida pela violência. “Alguns depoimentos são informais, eles evitam a falar sobre qualquer coisa que pode ter relação com crime”, diz.

Quanto a Edson, o delegado afirma que não existe nenhuma evidência contra ele. “Quando acontece uma situação com essa de grande comoção, as pessoas têm necessidade de culpar alguém”, diz o delegado.

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