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Interior

Suplentes usaram população para cassar vereadores, denuncia comissão

Caroline Maldonado | 17/11/2015 17:46
Moradores de Naviraí acompanharam em telão instalado em frente à Câmara o discurso de Marcus Douglas, que renunciou ao mandato (Foto: Reginaldo de Souza)
Moradores de Naviraí acompanharam em telão instalado em frente à Câmara o discurso de Marcus Douglas, que renunciou ao mandato (Foto: Reginaldo de Souza)
Presidente da Comissão de Participação Popular, Claudenir Diomásio, diz que o movimento se sente traído por suplentes que assumiram cargos de vereadores (Foto: Fernando Antunes)
Presidente da Comissão de Participação Popular, Claudenir Diomásio, diz que o movimento se sente traído por suplentes que assumiram cargos de vereadores (Foto: Fernando Antunes)

Integrantes de uma Comissão de Participação Popular revelaram que os vereadores suplentes que assumiram o lugar dos 13 parlamentares cassados, durante a Operação Atenas, incitaram a população para pressionar a cassação, inclusive financiando protestos, em Naviraí, a 366 quilômetros de Campo Grande. No entanto, agora, os membros da comissão formada durante a operação se sentem traídos pelos vereadores, que não atenderam suas expectativas.

Acusados de envolvimento em escândalo de corrupção, 11 vereadores foram cassados após se tornarem réus na ação penal da operação, ocorrida no primeiro semestre deste ano. Dois dos vereadores renunciaram.

Na época, foi criada a comissão popular que pressionou a cassação dos vereadores investigados. O movimento teve protestos em frente a Câmara. Alguns acamparam no local e a manifestação nos dias das cassações reuniram centenas de pessoas. A comissão admite que recebeu apoio financeiro e orientações para as manifestações, mas agora se sente traída pelos vereadores.

Segundo o presidente da Comissão de Participação Popular, Claudenir Diomásio, oito dos suplentes que agora atuam como vereadores incitaram os protestos. “Eles inflamaram a população, pregando que iriam fazer o melhor para Naviraí. Deram apoio ideológico e financeiro, pagaram barracas para acampamento, marmita, fogos, carros de som, telão para transmissão das sessões de cassação e faixas para os protestos, mas agora estão fazendo tudo ao contrário do que prometeram. Não estão fiscalizando o executivo e nós nos sentimos traídos por eles”, revelou Claudenir.

O presidente da comissão reclama que há irregularidades na administração do prefeito Leandro Peres de Matos (PSD) e os vereadores atuais não se importam em fiscalizar. “Não está havendo fiscalização do patrimônio público e Naviraí está estagnada”, argumentou Claudenir.

Integrante da comissão, o radialista Reginaldo Souza, também reclama da administração. Segundo ele, os membros do movimento que agora cobram os vereadores sofrem ameaças. “Eles estão sendo desonestos com a população, mas não vamos nos intimidar. O que queremos é que os vereadores cumpram o que prometeram e fiscalizem o executivo”, disse.

O radialista Reginaldo Souza reclama da atuação dos atuais vereadores (Foto: Fernando Antunes)
O radialista Reginaldo Souza reclama da atuação dos atuais vereadores (Foto: Fernando Antunes)

O radialista, que se engajou no movimento com a criação da comissão, chegou a registrar queixa por ameaça e injúria na delegacia e na promotoria de Justiça da cidade contra o prefeito. Ele diz que foi ofendido pelo prefeito, enquanto frequentava um comércio do Centro da cidade, após participar de uma sessão na Câmara. “Somos ameaçados e perseguidos, porque estamos apenas cobrando publicamente que os vereadores fiscalizem o executivo”, disse.

Em contrapartida, o prefeito nega ter feito ofensas ao radialista e garante que todas as acusações contra sua gestão não procedem. Leandro diz que a Comissão não representa a população de Naviraí e os integrantes querem apenas se promover politicamente. “Eles não são o que se intitulam e nós não temos tempo para perder com isso, temos que trabalhar. Esse cidadão, Reginaldo, está fazendo isso por interesse pessoal, porque teve interesse dele que não foi atendido. Se me acusam, terão que provar. Se não provarem, vão sofrer denunciação caluniosa”, se defendeu o prefeito.

Quanto as críticas a sua gestão e atuação dos vereadores, o prefeito afirma que a cidade tem se desenvolvido e a população não tem reclamações. “Os vereadores são independestes, fiscalizam e acredito que não vão se deixar levar pela pressão. Essa é uma tentativa de desestabilizar a administração, que está dando certo. Dificuldades na área da saúde, já resolvemos 90% e a cidade está em crescimento. Essa comissão não representa a população”, afirmou o prefeito.

Segundo Claudenir, o presidente da Câmara, Benedito Messias (PSD), não está entre os que apoiaram as manifestações a favor da cassação, porém também não responde as expectativas do movimento. Procurado pelo Campo Grande News, o presidente da Câmara, Benedito Messias (PSD) ficou de retornar a ligação telefônica para comentar o caso. Ele estava em viagem, por isso não deu entrevista.

Operação Atenas - Os vereadores cassados foram Cícero dos Santos (PT), Carlos Alberto Sanches (PSDB), Adriano José Silvério (PMDB), Elias Alves, Vanderlei Chagas (PSD) e Gean Carlos Volpato (PMDB), José Odair Gallo (PDT), José Roberto Alves (PMDB), Jaime Dutra (PT), Mário Gomes (PTdoB) e Moacir Aparecido de Andrade (PTdoB). Marcus Douglas Miranda (PMN) e Solange Melo (Pros) renunciaram. 

A operação da Polícia Federal investigou o recebimento de diárias fraudulentas; cobrança de propina de empresários para aprovação de projetos, licenças e alvarás; extorsão e lavagem de dinheiro. A polícia teve acesso a gravações de ligações telefônicas com detalhes dos esquemas e declarações de descaso com a população. Cinco vereadores foram presos, mas já estão em liberdade.

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