Vídeo mostra momento em que PM despeja indígenas em Rio Brilhante
Cenas mostram policiais atirando bombas de efeito moral e balas de borracha contra os ocupantes
Vídeo gravado por indígena em cenário de confronto entre Polícia Militar e famílias Guarani e Kaiowá na última sexta-feira, dia 3 de março, mostra como foi o despejo dos povos originários no local. Nas cenas, o indígena narra a chegada da polícia na Fazenda do Inho, em Rio Brilhante, a 161 km da Capital sul-mato-grossense.
Eles se aproximam de alguns e efetuam disparos de bala de borracha e bombas de efeito moral. No meio do tumulto, um dos indígenas tenta revidar contra os policiais usando arco e flecha. Em meio à correria, o cinegrafista amador tenta flagrar toda a ação policial e o uso de força. O vídeo também mostra um dos policiais em cima de um indígena e muita gritaria.
Conforme apurou a reportagem, no confronto, a professora Clara Barbosa foi ferida. Os tiros atingiram a região do abdômen e a cabeça dela, que foi levada para o hospital, atendida, liberada e já está de volta ao acampamento. “Estava traumatizada e com muita dor”, disse o assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Anderson Santos.
Conforme o profissional, na sexta, dia do confronto, três indígenas foram presos e levados para a DP (Delegacia de Polícia). A organização Aty Guasu (Grande Assembleia do Povo Kaiowa e Guarani) informou que o cacique Adalto Barbosa, Clara Barbosa e um jovem identificado como Lucas, de 18 anos, foram algemados e jogados no camburão da Polícia Militar.
O despejo aconteceu na última sexta-feira (3), antes da Justiça determinar a reintegração de posse. Famílias que durante a madrugada invadiram o território foram retiradas à força por policiais locais com apoio de equipes de Maracaju e Dourados.
Retorno - Os indígenas retornaram para a fazenda ocupada nesta segunda-feira (6). Os povos originários, que ampliaram a ocupação da Fazenda do Inho na sexta-feira e ocupam parte da fazenda vizinha, a Santo Antônio, reivindicam a demarcação do território tradicional Laranjeira-Ñanderu, que faz parte da Terra Indígena Brilhantepeguá, em fase de identificação.
A área da qual fazem parte as fazendas Do Inho e Santo Antônio já passou por perícia judicial há alguns anos e o trabalho teria confirmado a tradicionalidade. A Justiça deu sentença favorável à demarcação, mas o processo não andou depois disso.
Na sexta-feira, o titular da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, disse ao Campo Grande News que havia risco de confronto na região.
“A exemplo da invasão anterior na mesma propriedade, acampados sem terra pretendiam invadir a área para pressionar a criação ali de um assentamento, cuja desapropriação geraria indenização ao produtor, porém como a área também é desejada pelos indígenas que estão ao lado, esses resolveram invadir antes”, pontuou.
Histórico - No final de junho do ano passado, o indígena Vitor Fernandes, 42, foi morto policiais do Batalhão de Choque da PM em Amambai. Os indígenas denunciaram despejo ilegal, mas a Secretaria de Segurança Pública alegou na época que o Choque foi ao local após denúncia de suposto roubo praticado pelos indígenas.