Cariaga, contador de história, médico e juiz, pioneiro de Caarapó
Cercada de ervais, a vilinha, composta de meia dúzia de diminutas casas, tinha apenas uma cancha para corrida de cavalos, colocando uma nota alegre à solidão. Foi nessa vilota que viveu Cariaga, um espanhol de gestos rudes que sabia, como ninguém enredar uma história. Ia gente de toda a região conhecer o Cariaga. Suas histórias funcionavam com a televisão de tempos futuros.
O médico e um mundão de remédios.
Muitas vezes, horas avançadas da noite, alguém batia à sua porta pedindo socorro. O bom velhinho não perdia tempo. Ajeitava numa maleta um mundão de remédios e lá ia alegre e feliz. Voltava no outro dia, pensando no grande bem que fizera.
O juiz e a cachaça.
Servia, não raramente, de juiz, nas duras contendas entre peões. E como possuía jeito e tinha boas palavras, harmonizava tudo. Fazia os rivais se abraçarem e, para que fosse condignamente comemorada a paz, entregava a cada um “una copita de caña”, a cachaça era a garantia de futuro promissor.
O casamenteiro.
Não há casamento na Caarapó nascedora que não tenha a influência de Cariaga. Cheirava, de longe, um noivado complicado, estilo Romeu e Julieta, com os pais pousando de inimigos. E como não sabia esperar, Cariaga deitava argumentação nos pais descontentes. Com isso, sempre saía vitorioso.
Conduzia as noivas ao altar.
Na Caarapó nascente, uma mudança de costumes ocorreu. O Velho Cariaga era quem conduzia as noivas, com seu braço esquelético, ao altar. Na pequenina igreja, enfeitada de grosseiros laços de papel de seda, era ele o “pai de honra”. Sem ser um crente, conhecia quase todos os mistérios da religião e sabia de cor inúmeros versículos bíblicos. Caarapó deve a afluência de muita gente a sua única rua ao Cariaga. Era ele que dava vida a essa cidade.
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