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Em Pauta

O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 12/06/2025 07:20
O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

Santiago de Xerez foi a primeira cidade erigida em solo sul-mato-grossense. Suas ruínas ainda contam sua história nas proximidades de Aquidauana. Povoado construído por espanhóis e jesuítas, merece um museu que o apresente às nossas futuras gerações.


O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

O último padre de Santiago de Xerez.

Um padre italiano muito moço saíra de Guaíra, no atual Paraná, em companhia de outro religioso mais velho, conhecedor da região, se embrenhando nas matas em longa caminhada rumo a Xerez. Atravessando o rio Paraná em frágil canoa, sempre em direção oeste, procuravam os afluentes do rio Aquidauana, que os levaria à povoação.


O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

Escalpelado pela onça.

Chegando ao pé do Morro Azul, como se chamava o lugar que deu origem à atual Aquidauana, foram atacados por uma onça-pintada. Com uma patada violenta, escalpelou o padre mais velho. Este, cego de dor, com o cérebro à mostra, a cabeleira caída sobre os olhos e se esvaindo em sangue, se atirou em desespero nas águas do rio, sendo imediatamente devorado pelas piranhas.


O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

Preso na árvore.

O padre sobrevivente conseguiu subir em uma grande árvore e ficou por muito tempo aguentando a sede, a fome e o pavor. Quando o cansaço o venceu, conseguiu dar um cochilo, já ao amanhecer. Um barulho ensurdecedor na mata fez com que ele esbugalhasse os olhos e entrasse em pânico: gritos, guinchados, estalar de galhos em tropelia de macacos de todos os tamanhos avançavam em sua direção. Agarrado à árvore, o padre foi arranhado pelo bando de bugios. Com a roupa em frangalhos, lambuzado de excrementos dos símios, moído de dor, os pés cheios de espinhos de caraguatá cravados e inflamados, o padre conseguiu descer.


O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

Guavira dá porre.

Subindo a barranca do rio, o padre encontrou muitas moitas de guavira bem amarelinhas. Se fartou com as frutinhas, não se esquecendo que não podia abusar delas, pois quando ingeridas em grandes quantidades, podem embriagar as pessoas especialmente se expostas ao sol.


O último padre da primeira cidade de Mato Grosso do Sul

A festa dos indígenas.

O jesuíta encontrou uma canoa e nela foi até às proximidades da urbanização. Antes de chegar à Xerez, rio abaixo, foi recebido por um grupo de indígenas que foram a seu encontro conduzindo-o em grande algazarra até a povoação, onde foi acolhido após tantas desventuras. Era um padre de grande sabedoria. Colhia as flores, as folhas, as raízes do mato para descobrir se curavam doenças. Fazia coleção das mais lindas orquídeas que adornavam a igreja. No meio da serrania por toda a região, marcava o caminho nas cavernas como roteiro para que outros seguissem o percurso.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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