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Economia

Protagonista da agenda verde brasileira, etanol é bom mesmo para o carro?

Campanha nacional defende benefícios para o motor, além das vantagens para o mercado interno e meio ambiente

Por Cassia Modena | 31/01/2024 11:35
Não só preço, mas também benefícios para o motor podem contar nessa escolha (Foto: Henrique Kawaminami)
Não só preço, mas também benefícios para o motor podem contar nessa escolha (Foto: Henrique Kawaminami)

O etanol é um dos protagonistas da agenda ambiental brasileira. Feito a partir de vegetais, é um combustível menos poluente, mais barato e melhor para o motor do veículo, diz a campanha nacional da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) "Vai de etanol".

Mas tem mesmo vantagem na parte mecânica? Engenheiro da área em Mato Grosso do Sul, que já fez parte do conselho consultivo da Federação Nacional da Engenharia Mecânica e Industrial, Marco Aurélio Cândia confirma que sim.

"O etanol dá mais potência ao motor e tem uma queima mais limpa. Só pode prejudicar carros e motocicletas com mais de 20 anos de fabricação, que sofrem um pouco com a corrosão dos metais e ressecamento de alguns plásticos e mangueiras", ele explica.

Alguns postos de combustível oferecem o etanol aditivado, assim como a gasolina, que promete ter qualidade melhor e evitar gastos com manutenção. Na avaliação de Marco, o comum já é de confiança e nem sempre o mais caro é o melhor.

"Sem o aditivo, você 'anda' da mesma maneira. Com aditivo, pode proteger mais as partes móveis do carro. Mas eu diria que esses aditivos eram melhores tempos atrás, quando iniciou-se a mistura de gasolina com etanol no Brasil. Hoje, já estamos na proporção de 27% do etanol presente na gasolina e a tecnologia dos motores mudou. Se já temos vários problemas com a gasolina 'batizada', quem dirá com aditivos 'errados'", analisa.

Quanto à melhoria do biocombustível disponível nos postos nas últimas décadas, Marco vê avanço. "Teve mudança na legislação que permite às usinas venderem direto aos postos. Isso evitou atravessadores de preço e melhorou muito o etanol", pontuou.

Na oficina - Celso Júnior é mecânico em oficina do Bairro Jardim Paulista, em Campo Grande. Nos 13 anos de experiência na área, tem visto os carros flex ganharem a preferência dos clientes. Mas os problemas que surgem nos veículos, ele afirma, quase nunca estão relacionados ao uso do etanol em si.

Mecânico há 13 anos, Celso mostra componente de carro flex (Foto: Henrique Kawaminami)
Mecânico há 13 anos, Celso mostra componente de carro flex (Foto: Henrique Kawaminami)

"Quando tem algum defeito ligado a isso, geralmente é porque a pessoa não sabe fazer a troca da gasolina para o etanol", diz o mecânico. Ele acha que parcela dos clientes ainda acredita em mitos e é resistente ao uso do biocombustível, porém, vê que a maioria usa eventualmente, e não por isso tem prejuízos maiores com manutenção.

Quanto aos mitos, ele acredita que podem ter a ver com o passado. "O etanol tinha o problema de causar corrosão na época do carburador dos carros mais antigos. Hoje em dia, o carro evoluiu muito, não se tem mais isso", fala.

Se alguém quiser ter prova que o etanol é um combustível mais limpo e melhor para o motor, segundo o mecânico, é só olhar como fica o óleo quando é trocado. "A gente nota que o óleo retirado do carro movido a etanol sai muito mais limpo do que o movido a gasolina. O motor suja menos", compara.

Quando é mais barato? - O método mais popular para calcular quando é mais vantajoso para o bolso abastecer com etanol ou gasolina já caiu por terra, diz também o engenheiro mecânico.

"Aquela conta que para abastecer a etanol, ele tinha de ter até 70% do preço da gasolina, não serve mais porque nos dias atuais ele está presente na proporção de 27% no outro combustível. Isso modificou tudo", descreve.

Etanol R$ 2,18 mais barato que gasolina em posto de combustível da Avenida Marechal Deodoro, na Capital (Foto: Henrique Kawaminami)
Etanol R$ 2,18 mais barato que gasolina em posto de combustível da Avenida Marechal Deodoro, na Capital (Foto: Henrique Kawaminami)

O que o profissional da área recomenda é que cada motorista faça sua planilha de consumo e avalie como ficam as vantagens para seu modelo de carro. "No meu caso, já fiz e vale muito a pena", comenta.

Uma ressalva é que o proprietário do veículo precisa acompanhar o rendimento. "Temos que ter esse cuidado porque o etanol consome mais. Aquela autonomia que esperávamos não será a mesma, pois o combustível pode acabar antes do tempo, principalmente em viagens, já que o etanol oferece um desempenho melhor", conclui.

Produção e pesquisa em MS - Posicionado como 4º produtor de cana-de-açúcar e 2º produtor de etanol de milho do país, Mato Grosso do Sul vai bem no cenário nacional.

Em 2023, 10% da produção estadual do biocombustível foi consumida dentro do Estado, segundo dados da Biosul (Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul0). Os outros 90% abastecem principalmente os vizinhos São Paulo e Paraná.

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É um mercado que tem potencial de crescer, defende o secretário da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck. "Temos uma capacidade ociosa, então o foco das empresas tem sido a ampliação da base de produção e aumento de produtividade. Hoje, as usinas tem em torno de 160 mil hectares plantados no Estado e estão investindo quase R$ 2 bilhões para aumentar a área em 13 mil hectares", detalha.

Verruck também cita pesquisas relacionada ao biocombustível que avançam no Estado. "A gente tem pesquisado a produção de hidrogênio a partir do etanol e a de biometanol, que é um produto importante para fazer combustível de aviação", diz.

O uso do etanol produzido a partir das últimas três safras em Mato Grosso do Sul evitou a emissão de 9,2 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera entre 2022 e 2023, ainda segundo dados da Biosul. Fora isso, o bagaço da cana serve à produção de eletricidade limpa no Estado. "Estamos limpando a nossa matriz energética com isso", acrescenta Jaime.

Plantação de cana-de-açúcar no Estado (Foto: Bruno Rezende/Governo de MS)
Plantação de cana-de-açúcar no Estado (Foto: Bruno Rezende/Governo de MS)

O etanol é aliado da descarbonização, complementa Amaury Pekelman, presidente do Conselho da Biosul. “A solução que o mundo inteiro busca o Brasil já tem, e é o etanol. Combustível limpo, bom para o meio ambiente e para a saúde pública, cumpre muito bem o seu papel na descarbonização substituindo combustíveis fósseis, acessível ao consumidor e um importante promovedor da sustentabilidade”.

Mais "verde" que carro elétrico? - É sim, ainda segundo Marco Aurélio. "Os veículos flex são os verdadeiros amigos do meio ambiente", diz. Ele explica o porquê.

Embora o Brasil tenha uma matriz hidrelétrica para gerar energia elétrica, ainda existem as usinas térmicas poluentes movidas a diesel e carvão, que emitem gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera.

Outra desvantagem na comparação, é o carregamento dos veículos elétricos. "Os elétricos no Brasil sofrem com a falta de infraestrutura para carregamento. Ela vai custar uma fortuna e demorar muito tempo para ser concretizada. Serve para cidades ricas, com grande rede de abastecimento, pois a autonomia não é muito grande", finaliza.

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