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Economia

Rota Bioceânica liga maior planície alagada do mundo ao deserto mais alto

Chaco, vulcões, salar, neve e dunas de areia fazem parte do cenário que integra países em corredor rodoviário

Gabriela Couto | 10/03/2023 12:18
Lhamas em laguna na região desértica de San Pedro do Atacama, no Chile. (Foto: Luiz Felipe Mendes)
Lhamas em laguna na região desértica de San Pedro do Atacama, no Chile. (Foto: Luiz Felipe Mendes)

A Rota Bioceânica já tem movimentado o setor de turismo ao longo dos 2.396 quilômetros, que vai ligar o Oceano Atlântico aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando por Paraguai e Argentina. Mais do que um potencial econômico, o corredor logístico irá transportar turistas da maior planície alagada do Planeta, o Pantanal, até o deserto mais alto do mundo, o do Atacama, no Chile.

Cortando quatro países de leste a oeste, Rota Bioceânica também vai unir culturas e promover turismo. (Foto: Ilustração)
Cortando quatro países de leste a oeste, Rota Bioceânica também vai unir culturas e promover turismo. (Foto: Ilustração)

A ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, deve ser concluída até o final de 2024. Mas já tem expedições mapeando as cidades que ficam entre cenários cinematográficos, passando por um salar, vulcões, passeios noturnos para ver a Via Láctea e até mesmo neve. Confira na galeria de imagens os registros de Luiz Felipe Mendes.

O empresário Rider Soares, 29 anos, está com um escritório montado em Porto Murtinho vislumbrando ser pioneiro no ramo de pacotes turísticos para quem deseja cortar a América Latina de leste a oeste no novo trajeto.

Van com nove pessoas desbravou a Rota Bioceânica com cenários incríveis como a cordilheira dos Andes. (Foto: Luiz Feliz Mendes)
Van com nove pessoas desbravou a Rota Bioceânica com cenários incríveis como a cordilheira dos Andes. (Foto: Luiz Feliz Mendes)

Nos últimos dois anos ele estudou o roteiro e planejou a viagem com uma de suas vans. “Vi que asfaltaram uma parte do Paraguai e acabei fazendo o trajeto até o Chile, para criar o roteiro turístico”, conta. O grupo com nove pessoas saiu de Campo Grande no dia 17 de fevereiro e retornou no dia 27.

A expectativa era ver como estava a rodovia e a estrutura das cidades que fazem parte do corredor rodoviário. O grupo dormiu em Porto Murtinho, porque até a conclusão da ponte apenas uma balsa faz a passagem sobre o rio, com horários específicos. Para atravessar uma van o valor cobrado foi de R$ 220. O percurso permite ao viajante contemplar as belezas do Chaco, o Pantanal paraguaio em plena época de cheia.

Os primeiros quilômetros dentro do Paraguai já estão asfaltados. Mas o percurso de Mariscal Estigarriba até Tartagal, a divisa com a Argentina, são 130 km de estrada de chão. “Essa foi a parte mais cansativa da viagem. Ainda não tem uma infraestrutura básica voltada para o turismo e há pouco movimento na estrada. No entanto, todos os postos de combustível tinham gasolina e boas condições de atendimento”.

Todos foram surpreendidos ao chegar no domingo de Carnaval, em Jujuy, na Argentina, e encontrar a cidade mobilizada com a folia. “Tentamos reservar hotel com 15 dias de antecedência e não conseguimos achar. Descobrimos que lá acontece um Carnaval tradicional Inca. As pessoas se vestem de monstro e tem todo um ritual inca, que lota a cidade. Ficamos encantados”. O grupo teve que dormir 90 km para frente, na vila de Pumamarca, uma cidade muito bem estruturada para receber visitantes.

Carnaval dentro da Argentina fez com que grupo se deslocasse até vilarejo das montanhas coloridas. (Foto: Luiz Felipe Mendes)
Carnaval dentro da Argentina fez com que grupo se deslocasse até vilarejo das montanhas coloridas. (Foto: Luiz Felipe Mendes)

A pequena cidade é parada obrigatória para quem vai fazer uma roadtrip pela América do Sul. Seu cartão-postal principal é o famoso ‘Cerro Siete Colores’, as montanhas coloridas ficam em meio a um cenário de deserto. Durante três dias a expedição explorou a região e registrou imagens incríveis que mais parecem ‘de outro mundo’, segundo Rider.

Seguindo a rota sentido San Pedro do Atacama, já na região de Antofagasta, onde fica um dos portos para o Oceano Pacífico, no Chile, os viajantes são convidados a passar por cima das cordilheiras dos Andes, a mais de 4,6 mil metros de altura e avistar vulcões com picos nevados. Um salar entre a divisa da Argentina com Chile, além do maior deserto da América Latina dividem o encantamento com o povo do local, com uma rica cultura dos povos Tiwanaku e Inca.

Formação geológica com sete cores faz com que vilarejo seja parada obrigatória de turistas da América do Sul. (Foto: Luiz Felipe Mendes) 
Formação geológica com sete cores faz com que vilarejo seja parada obrigatória de turistas da América do Sul. (Foto: Luiz Felipe Mendes)

“Essa é uma região 100% voltada para o turismo. Tanto que fomos super bem recebidos por uma equipe do prefeito e secretaria de turismo. Fizeram questão de explicar sobre o turismo local, suas culturas e mostraram as redes hoteleiras e gastronômico”, revela ressaltando o interesse dos países vizinhos em fomentar o turismo na Rota Bioceânica.

Por conta das fortes chuvas na região, o grupo que foi preparado até mesmo com balão de oxigênio (que não foi necessário usar), decidiu não chegar até o destino final, em Antofagasta, e retornar até Mato Grosso do Sul. Segundo Rider, a viagem é bonita do início ao fim, com destaque à simplicidade e aconchego para as vilas no meio dos desertos.

“Essa rota me surpreendeu muito. A cultura, a comida, é totalmente diferente, com paisagens de cenário de filme. É maravilhoso, você fica encantando. O deserto é impressionante. A coisa mais linda do mundo. Transitar pela rodovia que você vê de um lado lhamas em um lugar que você acha que não tem vida, mas tá repleto de plantas e aves, com lagos azuis. Fazem hotéis em casas de barro, que você se sente mais aconchegante do que em resorts luxuosos”, revela.

Flamingo em lago na região desértica do Chile, próximo a San Pedro do Atacama. (Foto: Luiz Felipe Mendes) 
Flamingo em lago na região desértica do Chile, próximo a San Pedro do Atacama. (Foto: Luiz Felipe Mendes)

Para viajar o grupo saiu do Brasil com as moedas trocadas de cada país. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por pessoa, para todo os dez dias. A expectativa é que nos próximos meses a primeira excursão paga sai de Mato Grosso do Sul, desbravando as rodovias da América Latina.

Confira a galeria de imagens:

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