Reinalda é o “Pereirão” que colore comunidade em beira de estrada
Líder do agrupamento faz de tudo para deixar acampamento G3 muito mais bonito
Barracos simples à beira de estrada já não são nenhuma novidade para o sul-mato-grossense. Porém, nos arredores de Campo Grande, ao passar pela BR 163 sentido Terenos, uma cena pode surpreender: cores alegres, artesanato, muitas flores e até pneus pintados em branco colocados em sequência traçam o caminho do acesso principal do acampamento de moradias bem humildes.
Por trás da decoração chamativa está Reinalda – mulher que tem a baita vontade de deixar o espaço comunitário cada vez mais bonito.
Não é porque somos pobres que aqui tem que ser feio. Nos chamam de vagabundos, que não fazem nada da vida, mas olha aí, veja se isso é coisa de gente que tem preguiça", afirmou ao mesmo tempo que apontava o lugar com as mãos.
Já na entrada, o Lado B foi muito bem recebido. Enquanto cozinhava em sua casa, conhecemos dona Valéria, mãe da moça. "Nossa cidadezinha está mais graciosa por causa dela", disse toda orgulhosa e foi logo chamar a filha para atender às perguntas do jornalista curioso.
Reinalda explicou que ali onde estávamos é o grupo 3 do conjunto de acampamentos formado por pessoas que acreditam na bandeira da reforma agrária. São quase 10 famílias, cerca de 30 pessoas que vivem à beira da rodovia à espera de um pedaço de terra para chamar de seu.
"Passo o dia inteirinho fazendo várias coisas por todos. Me apelidaram de 'Pica-Pau', eu preferiria que fosse 'Martelinho', mas tudo bem", desconversa a chefe do pedaço.
E não falta gente agradecida por sua dedicação. "Ela é nossa mãe, companheira e líder, sem ela nada vai pra frente. Temos aqui nosso 'Pereirão' número 1", brinca dona Rita, uma das mais antigas acampantes.
Boa dona de casa que é, Reinalda não perde tempo. Já espalhou plantas e flores pelos barracos, fez jardim suspenso, construiu casinha de cachorro, arrumou e pintou os pneus da entrada e até poço de mentirinha já ergueu – mas o de verdade, com 6 metros de fundo, também teve sua ajuda. Buscou na internet, encontrou uma referência e pôs em prática a tal da engenhoca com roda de bicicleta que puxa água limpinha para o proveito de todos.
"Me chamam de criativa, mas a verdade que a gente tenta se virar o máximo que a gente mesmo pode. E quando a pessoa se preocupa com conforto assim como eu, não tem jeito, tem que colocar a mão na massa", comenta.
Já são 8 anos de barraco e participação nas ações coletivas. Antes MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), agora já tem 1 ano de Frente Nacional de Luta Campo e Cidade. E para ela, parece que nada mudou.
"Sobrevivemos com o dinheiro de poucos bicos na cidade. Recebemos algumas doações e agora com essa pandemia teve a ajuda do Auxílio Emergencial. Mas a nossa luta é que sejamos vistos e ouvidos, e não largados como estamos. Tem muita terra boa que a gente poderia estar. Não vamos invadir, a gente só quer mesmo é trabalhar".
Voltando às decorações. "Tem muita gente que para aqui para tirar foto. Quem me dera ter meu pedacinho de terra, você veria, seria muito mais elaborado, mas receptivo do que é hoje. Teria mais galinha, criação de porco, mais natureza", ambiciona a mulher.
Bem, não adianta nem argumentar sobre seu estilo de vida, por mais campo-grandense que Reinalda seja ela não voltaria a morar dentro da cidade, apenas no campo – afinal, o mato já está no seu sangue há muito tempo.
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