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Arquitetura

Parede rachou e árvore sustenta parte da casa que há anos depende de tombamento

Ângela Kempfer | 15/05/2012 12:00
Portal de entrada do imóvel está quase derrubado. (Fotos: Minamar Júnior).
Portal de entrada do imóvel está quase derrubado. (Fotos: Minamar Júnior).
Foto de 2005, sem a rachadura.
Foto de 2005, sem a rachadura.

A rachadura enorme só não derrubou o portal de entrada de um dos prédios mais antigos de Campo Grande porque a árvore teima em sobreviver e segurar a estrutura. Na parede inteira, as raízes costuram a alvenaria de tijolos antigos, em um alinhavo surpreendente.

A natureza ajuda, mas não dá segurança a quem passa pela rua. “Dá medo. Parece que vai cair na nossa cabeça”, diz a estudante Jaqueline, de 16 anos. Todas as terças ela passa pela rua Antônio Maria Coelho, esquina com a 13 de Maio, no caminho para o curso de informática, e vê o prédio se deteriorando. “Dá dó”, comenta.

O comerciante apressado que todos os dias passa pelo local acha que o mais triste e a história se apagar, mas também reclama do perigo. “Se vier um vento mais forte acho que cai”, prevê Luis, de 60 anos.

O processo de tombamento foi estabelecido pelo decreto 10327, de 16 de janeiro de 2008, mas já é a segunda tentativa da prefeitura para a preservação do patrimônio histórico. Na primeira vez, há sete anos, a vistoria técnica chegou a ser feita, mas foi contestada pelo proprietário, o vereador Paulo Pedra.

O decreto de tombamento foi republicado e o processo voltou à estaca zero. Na semana passada, o caso voltou a andar. Nova vistoria ocorreu no imóvel, desta vez do jeito como o proprietário exigia, com a participação de um técnico indicado por ele. Agora, será elaborado um laudo e, caso seja verificada a efetiva contribuição na história, o prédio será tombado.

Prédio fica na Antônio Maria Coelho, esquina com a 13.
Prédio fica na Antônio Maria Coelho, esquina com a 13.
Janelas antes apareciam. (Foto de 2005).
Janelas antes apareciam. (Foto de 2005).

O Ministério Público, inclusive, já acusou formalmente o dono de ter derrubado o muro do imóvel e a Fundação de Cultura alegou várias vezes que tenta impedir a derrubada, o que seria a intenção do proprietário.

As fotos de 2005, feitas durante a primeira perícia, mostram uma casa firme, ainda exibindo as janelas originais de madeira e sem a rachadura que hoje parece disposta a fazer parte da estrutura ruir.

Paulo Pedra alega na Justiça que o imóvel não é passível de tombamento porque nunca abriu pessoa ilustre ou foi palco de evento histórico importante para a cidade. Já a prefeitura sustenta que o prédio da década 20 tem valor incontestável por ser erguido na época de formação de Campo Grande.

Lucimar, há 17 anos dona da banca de revistas em frente ao prédio acha que é urgente a necessidade de recuperação, mas não acredita que o processo vingue desta vez. “Há anos tentam e nunca conseguiram tombar. Qualquer dia cai e acabou a briga”.

Elen Rodovalho, arquiteta da Divisão de Patrimônio Cultural e Espaços Culturais participou da vistoria da semana passada e confirma. "Não estive na primeira vistoria, mas desta vez vi que a estrutura está bem deteriorada".

Hoje já estão tombados em Campo Grande o Obelisco, o Museu José Antônio Pereira, a Morada dos Baís, o Conjunto dos Ferroviários, o Colégio Osvaldo Cruz, a Escola Municipal Isauro Bento Nogeuria – em Anhandui, duas lojas maçônicas – a Estrela do Sul e a Oriente Maracaju, a Igreja de São Benedito e o Paliteiro - monumento símbolo a UFMS.

Jaqueline diz que gostaria de ver o prédio restaurado.
Jaqueline diz que gostaria de ver o prédio restaurado.
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