Deixadas de lado, Baianas de Acarajé têm resistido para ser exemplo
Coordenadora da Abam explica que ações estaduais estão impulsionando proteção e promoção em âmbito nacional
“Começamos a conversar no meio do ano e Mato Grosso do Sul já está trabalhando no plano de salvaguarda das baianas de acarajé. E isso é surreal porque, na Bahia, enquanto a gente está lutando há tantos e tantos anos, ainda não temos esse plano”, explica a coordenadora nacional da Abam (Associação das Baianas de Acarajé), Rita Santos. Em Campo Grande, participando de uma formação para as mulheres do ofício, a representante detalha sobre como a resistência das mulheres negras em MS tem feito o estado impulsionar todo o País no mesmo movimento.
Entre os dias 25 e 30 deste mês, um grupo com mulheres que atuam ou que querem começar a trabalhar com a profissão está se reunindo no Senac Turismo e Gastronomia. Em parceria com o Iphan/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Fecomércio, Sindha (Sindicato Empresarial de Hospedagem e Alimentação) e com a Abam, um curso gratuito de cultura e empreendedorismo para o ramo quer capacitar como forma de impulsionar as mulheres.
Entre os assuntos estão a composição das vestimentas, produção do acarajé e curso para manipulação de alimentos.
Essa ação integra uma série de atividades desenvolvidas desde que uma das referências na produção de acarajé no Estado decidiu que não iria mais ver o patrimônio cultural imaterial sendo deixado de lado. Conhecida entre as feiras de Campo Grande, Zezé do Acarajé narra que tudo partiu após a divulgação de um edital municipal.
“A resistência é o que tem movimentado tudo isso, porque as ações nasceram após uma situação que aconteceu comigo. Participamos de um edital e duas pessoas de cada segmento passaram, mas nenhuma de acarajé. Entendemos que o acarajé foi visto sem importância nenhuma, então através da Abam, fui atrás do Iphan e falei o que havia acontecido”, descreve Zezé.
Desde então, há uma mobilização para que o ofício das baianas que vivem em Mato Grosso do Sul não seja deixado de escanteio. E que, além disso, novas interessadas passem a integrar o grupo para fortalecer o movimento.
Explicando sobre o plano de salvaguarda que começou a ser movimentado por aqui, Rita comenta que é necessário produzir o documento na Bahia inicialmente. Após ele ser finalizado, começará a ser enviado para as superintendências estaduais do Iphan.
Então, estamos correndo para começar a fazer. O que está acontecendo aqui é um exemplo que vamos levar para outros estados, estou encantada mesmo. Até porque as pessoas precisam entender que ser baiana de acarajé significa muitas coisas”, defende Rita.
Na prática, a coordenadora da Abam descreve que, apesar da profissão ser originalmente vivida por mulheres, também há homens que sobrevivem graças à venda do acarajé. “O ofício é garantir um emprego e uma renda, além de preservar uma cultura que existe há mais de 300 anos. Com ele, a gente coloca comida na mesa”.
Mesmo sendo uma tradição tão antiga e que compõe a cultura brasileira, Rita explica que os preconceitos são inúmeros nacionalmente. Tanto que a falta de planos de salvaguarda é uma realidade.
Encaminhando o processo por aqui, o superintendente do Iphan/MS, João Santos, explica que a instituição é um condutor que intermédia conflitos e também possíveis soluções.
“Esse evento marca que realmente entramos no processo de salvaguarda. O importante aqui é promover essas mulheres porque o empoderamento feminino, a relação com empreendedorismo e a capacitação para a manipulação de alimentos são pontos que fazem toda a diferença no cotidiano delas”, descreve João.
E, além da ação direta com as baianas de acarajé, outras ações como a capacitação dos funcionários do Senac se destacam. Isso porque entender sobre o ofício, sua importância e destacar a luta contra o preconceito já é uma vitória.
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