Entre fé e cultura, Páscoa é celebrada de diferentes formas na Capital
Dependendo da família, o prato típico passa longe do bacalhau e os ovos de chocolate também ficam de fora

Em 2025, as Igrejas Ortodoxas e a Igreja Católica Romana comemoram a Páscoa no mesmo dia. Apesar de seguirem calendários diferentes, o que em alguns anos faz a data cair com uma semana ou mais de diferença, neste domingo ambas se voltam para a celebração da ressurreição de Jesus Cristo.
RESUMO
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Em 2025, as Igrejas Ortodoxas e a Igreja Católica Romana celebrarão a Páscoa no mesmo dia, apesar de seguirem calendários diferentes. A data marca a ressurreição de Jesus Cristo, após sua crucificação na Sexta-feira Santa. As tradições pascais variam conforme a cultura e nacionalidade. No Brasil, o bacalhau é comum, enquanto descendentes de paraguaios preparam assados e sopa paraguaia. No Haiti, a dança Rara e pratos de peixe são destaque. Na Venezuela, a Páscoa é celebrada com união familiar, peixe e doces artesanais. A influência brasileira introduziu ovos de chocolate em algumas dessas culturas.
Segundo a tradição cristã, Jesus foi crucificado na Sexta-feira Santa após ser preso por autoridades religiosas. A crucificação antecedeu a ressurreição no terceiro dia, no domingo de Páscoa, que representou a vitória sobre a morte. O padre da Igreja Ortodoxa em Campo Grande, Antônio Nakkoud, explica que anualmente são realizadas procissões na data em que Jesus foi crucificado.
“Este ano bissexto, as igrejas ortodoxas do mundo e as romanas celebram a Páscoa nesta semana. Sexta-feira é a morte redentora de Cristo, o Sábado de Aleluia e o Domingo, a ressurreição”, pontua.
Entre as igrejas romanas e ortodoxas, a Páscoa não tem diferenças, mesmo que a interpretação de algumas doutrinas seja vista de formas diferentes. A única distinção que envolve a ressurreição de Cristo é o dia em que será celebrada, já que a Igreja Católica segue o calendário gregoriano e a Ortodoxa, o juliano.
No judaísmo, a Páscoa não tem relação com a figura de Jesus. Antes da chegada dele, retratada no Novo Testamento, a data já era celebrada como a libertação do povo hebreu. No Antigo Testamento, essa história é apresentada por meio de Moisés, que liberta seu povo da escravidão no Egito. Como lembrança dessa libertação, os judeus celebram o Pessach (passagem).
Para além do sincretismo, as tradições que envolvem a Páscoa ganham novos aspectos conforme a nacionalidade e a cultura de cada país. Enquanto o bacalhau é um dos pratos mais comuns no Brasil, especialmente nas celebrações da Igreja Católica, ele não é algo específico em famílias como a do presidente da Associação Haitiano-Brasileira em Campo Grande, Junel Ilora.
A Páscoa em seu país de origem envolve a dança Rara e muitos pratos à base de peixe e frutas. “É quase igual ao Brasil, tem a Semana Santa e na quinta-feira e sexta-feira quase nada funciona. Igual ao Brasil, lá se come peixe e, como é um país do Caribe, temos os peixes do mar”, relata.
Evangélico, o professor de idiomas tira parte da sexta-feira para ficar em jejum, assim como a esposa. Em Campo Grande há nove anos, ele mantém essa tradição, mas conta que no Haiti as famílias que não são católicas costumam aproveitar sexta-feira e sábado para ir às praias. “A gente viaja, anda com as crianças e na praia as crianças brincam com pipa. É um período que vende bastante pipa”, diz.
Outro destaque cultural que envolve a celebração é uma dança que ganha as ruas de diferentes cidades do Haiti. “Nós temos uma dança também que se chama Rara. Ela é típica desse período”, frisa.
O ovo de Páscoa não é tradição no Haiti, tampouco ganha espaço no comércio, servindo mais como decoração nos mercados. Isso e o coelho de Páscoa foram os símbolos que ele mais estranhou no começo. “O coelho pra mim é a cenoura, isso me estranhou um pouco, mas hoje entendo melhor o costume”, explica.
O costume, segundo ele, não envolve dar ovos de chocolate como presente para a família e sim roupas ou acessórios. Essa troca de presentes, ele faz questão de enfatizar, ocorre apenas entre os familiares. Influenciado pela cultura brasileira, Junel passou a comprar ovos de chocolate.

Ao contrário dos ovos de chocolate, o forte na Venezuela são as sobremesas artesanais. Há um ano e meio no Brasil, a venezuelana Rosibel Garcia chegou em Campo Grande no mês passado e atualmente está com a filha, marido, neta e genro no Cedami (Centro de Apoio aos Migrantes).
Ela relata como é celebrado o domingo de Páscoa em seu país de origem. “A Páscoa se celebra com a família unida, assim como estamos. Oramos, comemos e descansamos. Não gostamos de sair nas ruas. É família, união”, destaca.
O peixe é o prato mais consumido no dia, assim como os doces. “Tem bolo de chocolate, baunilha, doce de tomate, de coco, doces de tudo que você quiser fazer”, completa.
Sobre o prato salgado que mais gosta de comer no domingo de Páscoa, ela revela ser o pabellón. “Tem feijão, carne desfiada, queijo, arroz e banana frita”, descreve. No lugar da carne vermelha, ela substitui por peixe na receita típica durante o período de abstinência. Além disso, as arepas de milho são mais um prato tradicional que tem lugar garantido na mesa dos venezuelanos.
A Semana da Páscoa é movimentada na família de Valéria Augusta Rojas, filha de paraguaios. Os familiares começam os preparativos das carnes e de outros pratos na segunda ou, no máximo, até quarta-feira. O assado de carne vermelha e frango é o carro-chefe do cardápio, que também inclui a tradicional sopa paraguaia, macarrão com porco e chipa.
Em Campo Grande, Valéria coordena a feira da Colônia Paraguaia, realizada pela associação localizada no bairro Pioneiros. De família grande, ela conta como é a tradição de Páscoa, transmitida pelos pais. “A minha família é sitiante, então nós fazemos a limpeza, o tempero e aguardamos dois dias para fazer o assado. A sopa paraguaia, nós tiramos um dia só para fazer ela”, diz.
A organizadora da feira explica que os animais consumidos na data são todos criados no sítio. Por isso, os preparativos começam bem antes do domingo, já que é necessário tempo para o abate, a limpeza, o tempero e, por fim, o assado.
Seguindo o costume cristão, a família dela faz jejum na Sexta-feira Santa. Segundo Valéria, essa é uma tradição que os mais antigos fazem questão de transmitir às novas gerações. “Na Sexta-feira ficamos em jejum total, só em oração, sem ouvir música alta. Eles procuram manter essa tradição de família em família”, pontua.
Mesmo em jejum, é comum os descendentes de paraguaios tirarem o dia para preparar a sopa paraguaia. Os pratos salgados, segundo Valéria, são os mais importantes. “Gostam muito de macarrão com porco, fazem um panelão gigante. [...] Nós somos entre 20 a 25 pessoas”, completa.
Ainda assim, a sobremesa é representada pelos ovos de Páscoa, um costume que, segundo ela, é fruto da influência da cultura brasileira.
Além da Colônia Paraguaia, a Associação Okinawa está entre as mais tradicionais da cidade. Centenária, a associação foi fundada por imigrantes que vieram da ilha de Okinawa. Antes de ser incorporada ao Japão, Okinawa era o Reino Ryukyu, um estado independente, com sua própria cultura, idioma e sistema político.
Em Campo Grande, os descendentes de okinawanos levam parte dessa cultura adiante. Porém, quando o assunto é a Páscoa, celebrar ou não vai muito mais da religião de cada um, levando em consideração também a influência da cultura brasileira.
O presidente da associação, Eduardo Kanashiro, explica como a data é celebrada junto à sua família. “Tem mais a ver com a religião que a família segue aqui no Brasil. Eu, por exemplo, vim de berço católico, onde, na Sexta-feira Santa, não se come carne vermelha. Entretanto, conversando com um amigo, descendente de okinawanos, mas que frequenta a igreja evangélica, na Sexta-feira Santa ele irá participar de um retiro e vai comer churrasco”, conta.
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