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Comportamento

Não, Luan Santana não quer saber da morte dos índios

Ângela Kempfer e Anny Malagollini | 24/10/2012 15:47
Luan começou turnê internacional. (Foto: Divulgação)
Luan começou turnê internacional. (Foto: Divulgação)

Há dias o assunto tem provocado discussões quentes nas redes sociais, até que o motivo de tanto debate acabou desmentido ou melhor, amenizado. Os índios guarani kaiowá de Mato Grosso do Sul não vão cometer suicídio coletivo.

Para quem não acompanha Facebook, uma carta escrita pela comunidade guarani fala em morte coletiva, por conta da situação de miséria que nenhum sul-mato-grossense pode fingir desconhecer. Alguém interpretou o texto como “suicídio coletivo” e daí  surgiu a mobilização "urgente" para “salvar” os índios, pedir demarcação...

Hoje, até a figura de Luan Santana entrou na conversa, o que de pronto foi respondido pela assessoria dele. "De onde você tirou".

Todo mundo "tirou" de uma reportagem falsa postada na internet garantindo que o cantor decidiu nunca mais fazer shows em Mato Grosso do Sul em apoio à causa indígena.

Um astro com perfil de Luan Santana teria tamanha revolta? Mas como tudo dito nas redes sociais vira verdade, teve gente que acreditou e saiu escrevendo comentários do tipo: “Nossa, subiu no meu conceito!”

Primeiro esclarecimento: o jornal da suposta reportagem, o Diário Pernambucano, é uma versão do tipo “100% sarro”.  Dia desses, a manchete era a construção de uma ponte que ligaria Porto Seguro a Fernando de Noronha.

Segundo ponto: no momento, Luan está mesmo interessado em conquistar o mundo.

Bem grande, no perfil do cantor no Facebook a frase comprova: “Depois de conquistar o seu País, chegou a vez de conquistar o mundo”, sobre turnê internacional que começou por Angola, segue em novembro pelos Estados Unidos e termina em Portugal.

Para os fãs preocupados, a assessoria garante: o lugar onde Luan mais gosta de estar é em Mato Grosso do Sul. Mas vamos ser justos com o menino. Quantas estrelas no Brasil estão ligando para os índios de Mato Grosso do Sul? Quantas pessoas realmente dão importância ao que o povo guarani precisa? Dá para crucificar o Luan Santana?

E para quem quer saber o que é verdade, segue a carta dos índios de Mato Grosso do Sul:

Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.

Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós.  Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.

Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.

Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para  jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.

Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.    

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