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NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 31º

Conversa de Arquiteto

Na planta original, de 1909, o início da história da Av. Afonso Pena e da cidade

Ângelo Arruda | 20/07/2016 16:55
Na Planta de 1909 era Avenida Marechal Hermes.
Na Planta de 1909 era Avenida Marechal Hermes.

Qual é a rua mais importante de Campo Grande? A maioria das pessoas, certamente, escolhe a Av. Afonso Pena como nosso cartão postal urbanístico e paisagístico e é sobre ela que faço hoje os comentários da semana. A Avenida Afonso Pena, para quem chega em nossa cidade, impressiona pela sua generosa qualidade urbana. Sua história está ligada à história do desenvolvimento da cidade.

Sua generosa arborização é a sua marca principal.
Sua generosa arborização é a sua marca principal.

No início da urbanização de Campo Grande, a partir de 1909, ela se chamava Av. Marechal Hermes, mas logo depois, com a chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a Câmara Municipal homenageou o Presidente Afonso Pena, responsável político pela vinda da Noroeste para nossa cidade.

No projeto urbanístico do engenheiro Nilo Javary Barem ela era a mais importante rua da primeira planta da cidade, com 55,00 metros de largura e não tinha ainda o canteiro central definido e ela existia, implantada, da Av. Calógeras até a Rui Barbosa; no ano de 1922, o prefeito da época, Arlindo de Andrade Gomes, resolveu construir o canteiro central e plantou as árvores que lá estão até os nossos dias.

Os fícus e os oitizeiros da Afonso Pena foram plantados em 1921 e em 1939, respectivamente por Arlindo Gomes e Eduardo Olímpio Machado.

Foto aérea dos anos 1950 mostra a exuberância das árvores.
Foto aérea dos anos 1950 mostra a exuberância das árvores.

A nossa principal avenida cresceu e em 1933, com a inauguração do Obelisco, ela já estava urbanizada até a esquina da Rua José Antônio Pereira.

Na esquina da Av. Calógeras, e partir de 1932, foi autorizada a construção de um Posto de Gasolina – o Posto Bechuate, erguido no lugar onde hoje está o Busto do Fundador de Campo Grande.

Na parte mais baixa, até a Casa de Bernardo Baís e à Indústria de Carroças Estevão, o acesso era ruim e o limite era o Córrego Segredo. Uma ponte de madeira foi erguida em 1940 por Eduardo Olímpio Machado e outra de concreto, pelo Hélio Baís Martins, em 1961.

Sede da antiga Prefeitura na esquina com a Av. Calógeras.
Sede da antiga Prefeitura na esquina com a Av. Calógeras.

Vários prédios importantes ficavam na Afonso Pena: a Intendência municipal, antiga Prefeitura Municipal, na esquina com a Av. Calógeras e ao seu lado, a Câmara Municipal; o Banco do Brasil, na outra esquina, onde está a Casa do Artesão; o Cine Alhambra, demolido em 1987; o edifício Olinda, o primeiro com elevador da cidade e o primeiro a abrigar escritórios de profissionais; a sede o Quartel general da 9ª RM, etc.

As duas praças mais importantes de Campo Grande se tem acesso pela Afonso Pena: a Ary Coelho de Oliveira e a do Rádio Clube.

No trecho defronte a Praça do Rádio Clube havia árvores que foram demolidas em 1967, para uma urbanização geral dos canteiros que nunca aconteceu mas que deixou as marcas negativas na paisagem da Avenida e com isso, aquele trecho, é comprometido até hoje.

O famoso relógio da 14 em frente ao primeiro prédio alto da cidade: o Olinda.
O famoso relógio da 14 em frente ao primeiro prédio alto da cidade: o Olinda.
Sede do Banco do Brasil, atual Casa do Artesão.
Sede do Banco do Brasil, atual Casa do Artesão.

Com a abertura da ponte em 1961, a Avenida se prolonga para o oeste e encontra o bairro Amambaí já quase totalmente urbanizado e faz o contato com a Base Aérea e o Aeroporto em reforma. Desse encontro nasceu a urbnanização da Praça Newton Cavalcanti; no sentido leste, somente nos anos 80 que a avenida atravessou a Rua Ceará através de um viaduto erguido em 1985 e assim abriu-se sua última parte de crescimento.

Com isso, aos domingos, o footing, costumeiro dos anos 1930 na Praça Ari Coelho, se desloca em modalidade para os altos da avenida. Ainda nos anos 1980, com a implantação do Parque dos Poderes, a Afonso Pena passa a interligar o complexo político do estado e assim, o Shopping surge como empreendimento da modernidade e depois o Parque das Nações Indígenas e recentemente o Parque do Prosa, complexo do visitação ambiental.

No seu miolo, entre o centro e o shopping, com as imposições da legislação de uso do solo, a avenida não se verticalizou (embora hoje comecem construções altas), como queriam os empreendedores da cidade, nos anos 1980 mas, é inegável que abrem-se oportunidades de comércio que só existem na nossa avenida principal.

Ainda falando de sua parte mais central, nos anos 60 foi erguido o prédio do antigo Dersul, projetado pelo experiente engenheiro Anees Saad e logo depois, em 1970, o Paço Municipal, do Cyríaco Maymone Filho e assim, naquele trecho, entre a Rua Bahia e a José Antônio, consolidava-se novos usos públicos. Apesar da sua condição de cartão postal, a Afonso Pena já sente os sinais da modernidade: o trânsito no horário de pico anda confuso, com os inúmeros carros de passeio e outros veículos.

O Paço Municipal, uma das principais obras da Avenida.
O Paço Municipal, uma das principais obras da Avenida.

Mas a tradição se consolida: na esquina com a Rua 14 de Julho, aos domingos, os jornais gratuitos distribuídos há mais de 30 anos; quando adolescentes passam no vestibular, comandam as esquinas atrás de pequenas doações para suas campanhas; as grandes empresas andam também usando as esquinas para fazer seu marketing, o que reflete o sucesso da avenida principal.

O risco futuro, ligado ao tráfego e ao trânsito está na sua condição linear de cortar a cidade de leste a oeste e assim, um alcaide pode aparecer propondo um sistema de transporte usando-a como meio e as árvores tombarem em nome do progresso, como já tombou seu relógio.

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