Amigos saem de Bonito para voar no maior deserto de sal do planeta
De Bonito ao Salar de Uyuni (Bolívia), 7 amigos, duas asas deltas e muitos pneus depois, realizaram um sonho
Existem voos e existem voos. Tem aquele da rotina, que te leva de Campo Grande a São Paulo, e tem o outro, o que você faz com o peito aberto, empacotado num carro lotado de tralhas, amigos e asas-deltas, rumo ao desconhecido. Marcelo Andrei da Rocha sabe muito bem qual é a diferença entre os dois.
“Voar em lugares diferentes é uma das melhores coisas que uma asa delta pode proporcionar! Somos pássaros, quando estamos a bordo de uma asa delta”, diz ele, com a calma de quem já subiu e desceu o suficiente pra saber que a vida mesmo está lá em cima.
Marcelo é desses caras que têm a alma equipada com bússola interna. Mora em Bonito, onde costuma voar quase todo fim de semana, mas dessa vez decidiu ir mais longe. Bem mais longe. “No MS temos amigos aventureiros também e passamos a sonhar juntos, explorar o Salar, pelo ar”, conta.
Assim nasceu a ideia maluca, e absolutamente sensacional, de dirigir até a Bolívia com uma turma de sete pessoas (entre amigos e alunos de voo), em dois carros (uma Spin e uma Amarok entupida de asas-deltas), para sobrevoar o maior deserto de sal do planeta: o Salar de Uyuni.
Playlist, paisagens e pneus furados
A viagem não tinha glamour de avião fretado, mas sobrou espírito de aventura. “As viagens de voo são quase todas, de carro. Existe a necessidade de levar as asas, que são enormes. E amamos viajar de carro! Sempre boas playlists e altos visuais!”
No meio do caminho, o primeiro perrengue veio disfarçado de trilho de trem e terminou em dois pneus furados em pleno solo argentino. “Um descuido em uma passagem de nível trouxe esse perrengue pra equipe... Mas tiramos de letra, com bom humor, e seguimos! Só um pouco doloridos da facada que atualmente custa dois pneus aro 20 na Argentina!”
Foram quatro dias de estrada, céu aberto e noites em hotéis de beira de estrada. “Dirigimos de dia e parando pra dormir à noite. Foi ótimo! Estradas boas! Policiais rodoviários quase sempre amáveis.” A turma estava tão focada no objetivo que nem perdeu tempo em paradas turísticas. “Nosso objetivo era curtir o Salar, então não fizemos visitas extras no trecho. Estávamos focados!”
A pista, o voo, o delírio
Ao chegarem, o cenário era um espelho gigante. “O Salar estava totalmente alagado devido às chuvas do início do ano.” O jeito foi adaptar: encontraram uma pista de areia, há cerca de 1 km da imensidão branca, e usaram-na por três dias seguidos. Nenhuma autorização foi pedida. A Bolívia, ao que tudo indica, tem um espírito tão livre quanto eles.
O método de voo usado é coisa de especialista: “Fomos puxados por um carro, que vai soltando a corda enquanto se desloca. Encontramos uma pista de quase 2 km para o carro avançar e partimos para o voo.” Apesar da altitude que afeta a potência do sistema, tudo correu bem. “Subimos um pouco menos do que o normal, mas isso pouco importa. A segurança deste sistema, que é fabricado no Rio Grande do Sul, é referência mundial.”
Mas o que importa mesmo é o que ninguém vê nas fotos: o arrepio. “A sensação de voar naquele cenário foi uma mistura de muitos sentimentos bons! Mas realizar um sonho é algo muito prazeroso... O principal deles é já estar disponível pra sonhar com o próximo! A caravana não para!”
Marcelo não foi só o aventureiro-chefe, era também o único instrutor do grupo. E isso pesa. “Conduzir uma expedição como essa sendo o único instrutor presente é de uma tremenda responsabilidade. Graças a Deus foi tudo bem! Sempre busquei treinar muito nesse esporte e até hoje sigo treinando e competindo... carregar a responsabilidade de outras vidas é mais marcante.”
Mesmo com toda experiência, a adrenalina aparece, e é tratada com respeito e humor. “Ela existe, mas é bem administrada. Às vezes escolhemos sentir um pouco mais e fazemos algumas manobras... ‘Anjinhos’. (como dizia minha mãe)”
No final das contas, todos voltaram com o coração abastecido de silêncio salgado e céu azul. “Acho que os aprendizados são diários quando se está em grupo e fazendo algo novo. Procuramos manter o bom humor e executar o propósito. Todos voltamos felizes com nossas expectativas satisfeitas.”
Foi sonho realizado? Sem dúvida. “Voar por lugares extraordinários é algo que sonho todos os dias!” Mas Marcelo já tem outros destinos no radar: “Jalapão está nos meus planos! Jericoacoara também! Quer experimentar a próxima trip, repórter?”, pergunta já fazendo o convite ao Lado B.
E pra quem pensa em se jogar numa dessas aventuras, a dica é mais poesia do que logística: “Marque uma data mesmo que seja dois anos antes! E não fure! Vá nem que seja sozinho ou de charrete! É o seu entusiasmo que move o mundo”, finaliza Marcelo.
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