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Lado Rural

Mercado externo deverá continuar ditando preços do boi gordo em 2022

Oferta no primeiro semestre de 2022 ainda deve ficar bem ajustada, sustentando os preços do boi

José Roberto dos Santos | 10/01/2022 14:45
Gado no pasto precisará ser melhor manejado, diante da alta dos custos de produção. (Foto: Arquivo FAEP)
Gado no pasto precisará ser melhor manejado, diante da alta dos custos de produção. (Foto: Arquivo FAEP)

Em 2021, ficou evidente que, diante de uma demanda interna fraca, a oferta enxuta no campo e, de forma preponderante, a aquecida procura internacional – especialmente por parte da China – foram os fatores que levaram os preços da cadeia pecuária nacional a atingirem novos patamares recordes. E é muito provável que o mercado externo siga sendo o principal fator de influência sobre os preços internos da cadeia pecuária nacional em 2022.

A análise faz parte de nota técnica emitida pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, disponibilizado na sexta-feira, 7.

A forte queda nos preços da arroba bovina observada entre setembro e outubro de 2021, após a suspensão dos envios de carne de boi à China – que durou pouco mais de três meses (do início de setembro/21 até meados de dezembro/21) –, mostrou que as vendas externas – especialmente ao mercado chinês – são de grande importância ao setor pecuário nacional.

Nos cálculos do Cepea, mesmo com os envios de carne crescendo para outros destinos nos últimos meses de 2021, como aos Estados Unidos, os embarques à China ainda representam quase metade de tudo o que é exportado pelo Brasil. Diante disso, é incontestável a necessidade de o Brasil buscar e fortalecer novos parceiros comerciais.

E o câmbio deve seguir favorecendo as exportações brasileiras em 2022. Em um ano de eleição no Brasil e de incertezas relacionadas à nova onda de covid-19 e suas possíveis consequências sobre a economia mundial, o dólar deve oscilar com certa força. De fato, na B3, a moeda norte-americana é negociada a patamares ainda superiores aos vistos em 2021. Esse cenário deve manter competitiva a proteína brasileira no cenário internacional.

Campo – Por outro lado, o dólar elevado tende a encarecer os já altos custos de produção no campo, tendo em vista que importantes insumos são importados, como produtos veterinários e nutricionais. Além disso, o câmbio deve manter atrativas as exportações de soja e milho e, consequentemente, reforçar o movimento de alta nos preços desses grãos, pressionando a margem do pecuarista.

Diante de custos em patamares elevados, o produtor precisará manejar melhor seus animais no pasto – sobretudo no primeiro semestre –, à espera de momentos oportunos para negociar seus lotes. Desse modo, a oferta no primeiro semestre de 2022 ainda deve ficar bem ajustada, sustentando os preços do boi.

Já no segundo semestre, o volume de gado a ser confinado dependerá do ritmo dos preços dos grãos e também dos animais de reposição. Muitos pecuaristas poderão optar pela estratégia de 2021, de buscar alternativas em boitel para a engorda de animais. Mas, no geral, é provável que muitos confinamentos aumentem sua produção, fundamentados nos preços elevados do boi no mercado futuro – na B3, os contratos com vencimento no segundo semestre são negociados neste começo de 2022 entre R$ 318,00 e R$ 338,00.

De um modo geral, as fortes volatilidades de preços observadas em 2021 deixaram o aprendizado de que o pecuarista deve trabalhar em alerta e usar, mais do que nunca, ferramentas de gestão que sejam eficientes.

Mercado doméstico – Devido ao fragilizado poder de compra da maior parte da população e à inflação alta, a demanda doméstica por carne bovina deve seguir fraca por mais um ano. Com a renda corroída, consumidores devem continuar reduzindo as compras de determinados bens e procurar alternativas. No caso das proteínas, consumidores devem limitar as aquisições de carne bovina e aumentar as de frango e suínos.

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