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Meio Ambiente

Com castrações restritas, gatos tomam as ruas e superlotam ONG

Prefeitura busca parcerias para aumentar total de castrações, que hoje chega a 1.200 por mês

Aline dos Santos | 04/07/2022 11:06
Exclusiva para gatos, ONG tem mais de 400 animais e suspendeu acolhimento. (Foto: Divulgação)
Exclusiva para gatos, ONG tem mais de 400 animais e suspendeu acolhimento. (Foto: Divulgação)

Se gata desaparecida virou notícia pela superlativa recompensa de R$ 5 mil, a vida da maioria dos felinos passa longe do glamour em Campo Grande. Enquanto é crescente o número de animais espalhados pelas ruas, a cidade não conta nem com estimativa de quantos gatos perambula pelas vias.

O antídoto contra uma explosão populacional seria a castração, mas o número de vagas fica aquém da demanda. Até 2019, o agendamento no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) era presencial, com centenas de pessoas em busca do serviço. Agora, a fila é virtual e as vagas se esvaem em minutos. Outra dificuldade é a liberação de somente um procedimento por CPF, enquanto a maioria tem mais de um gato.

De acordo com a Subea (Subsecretaria de Bem-estar Animal), a média é de 1.200 castrações de animais por mês em Campo Grande. O serviço é oferecido no CCZ, em quatro clínicas particulares por meio de convênio e o Castramóvel, veículo adaptado que circula pela cidade.

De acordo com o diretor-adjunto Bruno Nóbrega, a Subea oferece 600 castrações mensais, sendo metade para cães e metade para gatos.  O CCZ abre a agenda de castração de felinos no dia 20, a partir das 8h.

“Vamos buscar alternativas, parceria com as universidades para aumentar o número de castrações e atender melhor a população. Também vamos avaliar a liberação de mais de um animal por CPF”, diz o adjunto.

Bruno Nóbrega, diretor-adjunto da subsecretaria do bem-estar animal.
Bruno Nóbrega, diretor-adjunto da subsecretaria do bem-estar animal.

A castração dos animais, machos e fêmeas, ajuda a controlar o excesso populacional, o abandono e a transmissão de doenças (zoonoses), além de ser medida importante para a saúde pública e ambiental.

A pasta também realiza feiras de adoções, conseguindo novo lar para 580 animais no ano passado. Segundo Nóbrega, as feiras são um sucesso, mas há maior preferência pelos cachorros.

“Cachorro sai mais do que gato, 80% dos filhotes [de cães] são adotados e os gatinhos ficam”.  A prefeitura não tem estatística de quantos gatos e cachorros vivem nas ruas.

Levantamento realizado pela subsecretaria aponta que Campo Grande mantém 2.753 cães e gatos acolhidos à espera de um lar definitivo.  Do total, a maioria é de felinos: 1.631. Conforme os dados, divulgados em fevereiro deste ano, são 109 entidades de acolhimento.

Por meio da assessoria de imprensa, a Subsecretaria de Bem-estar Animal  informou que atendeu mais de cinco mil animais - 2.484 gatos e 2.525 cães - em pouco mais de um ano. Neste período, a iniciativa garantiu assistência veterinária, vacinação, vermifugação e microchipagem.

Gato perambula por rua de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Gato perambula por rua de Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Na Capital, o projeto Animal Comunitário protege mais de 180 felinos de vida livre (de rua), proporcionando vermifugação, vacinação antirrábica, castração, microchipagem e acompanhamento médico-veterinário.

Dados de 2015 apontavam a existência de 166 mil animais nos domicílios de Campo Grande, sendo 39 mil gatos e 127 mil cães.

A Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) faz levantamento com os protetores de animais para identificar a quantidade e origem dos cães e gatos.

De acordo com a presidente da comissão, Adriana Carvalho dos Santos, 90% são resgatados das ruas, indicativo de uma superpopulação de animais. “Inclusive, pararam de fazer resgates porque não dão conta”, diz.

Na AmiCat’s, a dedicação para salvar 400 gatos

Animais recebem cuidados 24 horas na AmiCat’s, dedicada aos felinos. (Foto: Divulgação)
Animais recebem cuidados 24 horas na AmiCat’s, dedicada aos felinos. (Foto: Divulgação)

Única ONG (Organização Não Governamental) exclusiva para gatos em Campo Grande, a AmiCat’s reúne esforços de voluntários para atender mais de 400 animais.

“Hoje, estamos superlotados e, devido à superlotação, nossos acolhimentos estão temporariamente suspensos, sem previsão de retorno. Recebemos pouquíssimas doações. De regra, as contas nunca fecham no final do mês. É um trabalho que exige muito amor, dedicação e compromisso”, afirma Dafne Guenka.

A AmiCat’s, que surgiu no ano de 2016, também retrata os tempos de pandemia e crise econômica. Num primeiro momento, com o isolamento social, houve aumento da procura pela adoção. Mas, os custos acabaram levando a novo abandono.

“Com a pandemia, algumas pessoas adotaram animais, mas em compensação muitas acabaram desistindo, aumentando assim o número de animais abandonados, por conta dos custos para manutenção da subsistência”.

Dafne destaca que a ONG é procurada para a entrega dos felinos, mas há pouca ajuda para a manutenção dos gatos.

“Essa realidade é muito triste. Gostaríamos muito que as pessoas se conscientizassem que uma ONG não é local de descarte de animais e que tudo que temos é com muito sacrifício. E que o resgate não é simplesmente tirar da rua e entregar para uma ONG”.

Para a adoção, é cumprido um protocolo, com análise do perfil do gatinho e do adotante interessado. “Buscando mais assertividade num ‘match’ para vida toda. Prezamos por residências nas quais os animais não tenham acesso à rua”.

Valores podem ser doados por meio do PIX/CNPJ 27806981/0001-15 (Associação Amigos dos Gatos) ou agência 6492 (Itaú), conta corrente 32425-3.

Doação de alimentos (preferência por ração Max Cat e Recovery), produtos de higiene e limpeza, comedouros, cobertores, mantas, toalhas, tapetes, caminhas e caixas de transportes podem ser entregues nos postos de coleta: Avenida Mato Grosso, 129. Centro; e Avenida Afonso Pena, 5420, Chácara Cachoeira. A doação deve ser feita em nome da AmiCat’s.

Auxiliar de limpeza abre as portas para animais de rua

Marlene posa com Madona, gata que está à procura de um lar. (Foto: Arquivo Pessoal)
Marlene posa com Madona, gata que está à procura de um lar. (Foto: Arquivo Pessoal)

Auxiliar de limpeza, Marlene Batista Gonçalves, 54 anos, abre as portas de casa, no Bairro Pioneiros, em Campo Grande, para os animais de rua. Atualmente, o lar temporário acolhe 50 gatos e 20 cachorros.

“Os animais ficam um tempo, até encontrar adotante. São castrados, vermifugados e vacinados, quando conseguimos doação de vacinas. A gente depende muito de doação, seja de ração, vacina, vitamina, coberta, casinha, tudo. A gente, eu e a minha colega que me acompanha na feira, ganha um salário mínimo. Então, não tem como arcar com todos os gastos”, afirma. Para aumentar a renda, Marlene vende produtos de beleza.

Temendo a fuga dos animais, principalmente os adultos, a primeira medida é procurar a castração. “Corremos atrás de vagas no CCZ ou clínicas que nos doam vaga. No site do CCZ, entro com quatro CPFs diferentes e consigo agendar dois. Os gatos de ruas são a preferência em castrar, para evitar a procriação”.

Os animais que não conseguem um lar definitivo nas feiras ganham divulgação nas redes sociais. As adoções são realizadas  com termo de responsabilidade e monitoradas por uma semana. Marlene recebe doações por meio da chave PIX 67 99219-5510.

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