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Meio Ambiente

Enquanto população consome agrotóxico em Dourados, decisão empaca na Justiça

Usado no combate a daninhas, clomazone é o principal químico encontrado nas águas da bacia do Rio Dourados

Por Kamila Alcântara | 22/01/2025 15:59
Enquanto população consome agrotóxico em Dourados, decisão empaca na Justiça
Embranquecimento da folhagem é uma das características do químico clomazone; imagem feita no fim do ano passado (Foto: Katiuscia Galhera)

Desde outubro de 2024, o MPF (Ministério Público Federal) tenta negociar com o Ministério da Saúde um acordo para reduzir os impactos do consumo de agrotóxicos pela população que vive próxima à bacia do Rio Dourados, em especial, os indígenas de três aldeias.

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Desde outubro de 2024, o Ministério Público Federal (MPF) busca um acordo com o Ministério da Saúde para mitigar os efeitos do uso de agrotóxicos na população próxima ao Rio Dourados, especialmente entre indígenas de três aldeias. Estudos da Embrapa revelaram a contaminação da água com o herbicida clomazone e outros produtos químicos nocivos, como fipronil e atrazina, que podem causar sérios problemas de saúde. Apesar de uma decisão judicial de 2019 que exigia monitoramento da água, a implementação ainda não ocorreu, e o MPF tenta pressionar o governo para uma solução, mas sem resposta concreta até o momento, enquanto o monitoramento de resíduos de agrotóxicos está paralisado por falta de financiamento.

Como o reportado pelo Campo Grande News, mesmo com a atuação de servidores públicos de diferentes setores, o uso indiscriminado de agrotóxicos vem contaminando a água que abastece as aldeias do município de Dourados. 

Graças aos estudos acadêmicos e monitoramentos da Embrapa, realizados nas aldeias Jaguapiru, Bororó e Panambizinho, foi possível constatar a contaminação da água do rio, poços e até da que sai da torneira.

Documentado - Dos químicos encontrados, o identificado em todas as coletas foi o clomazone. Nas análises feitas pela Embrapa no ano de 2023, enviadas exclusivamente ao Campo Grande News, de 34 amostras de água coletadas, o clomazone aparece em 24.

Ele é um herbicida amplamente utilizado na agricultura para o controle de ervas daninhas em plantações, como soja, arroz, cana-de-açúcar e outras culturas. Quando ingerido por humanos, pode levar a náuseas, vômitos, dores abdominais e outros sintomas gastrointestinais.

Classificados como herbicidas, inseticidas ou fungicidas, outros produtos químicos foram detectados, inclusive de potencial degradante. São eles: tebuconazole, atrazina, diurom, tebutiurom, bentazona, 2-hidroxiatrazina, clorimurometílico, fipronil, cletodim, clorantraniliprole, haloxifope-P  e nicossulfurom.

Dessa lista, o fipronil e atrazina são considerados os mais nocivos, pois podem causar danos neurológicos e desregulação hormonal em humanos.

Enquanto população consome agrotóxico em Dourados, decisão empaca na Justiça
Fotos anexadas ao estudo da Embrapa, que coletou água da bacia do Rio Dourados (Foto: Reprodução)

Demora - Uma decisão judicial de 2019 determinou que a União e o Estado devem, juntos, implementar um sistema para monitorar resíduos na água destinada ao consumo humano. Esse monitoramento deve ser feito pelo Lacen/MS (Laboratório de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul).

Com a multa avaliada em R$ 90 milhões, houve apelação e o MPF recorreu. O recurso está sendo analisado desde junho de 2023, pela desembargadora federal Leila Paiva, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região. A demora desta análise forçou outra estratégia para resolver o problema.

"Inobstante a demasiada mora do Poder Judiciário, em 25 de outubro de 2024 este Ofício ao Ministério da Saúde, indagando sobre a possibilidade de autocomposição no processo em referência, visando garantir a implementação da decisão judicial em conformidade com os princípios de eficiência e economicidade, mitigando, assim, o impacto financeiro ao erário federal e assegurando a proteção efetiva da saúde pública e do meio ambiente", defendeu o MPF.

Apesar dos esforços e ofício, direcionado aos secretários executivos Swedenberger do Nascimento Barbosa e Elton Bernardo Bandeira de Melo, passado quase quatro meses, ainda não houve uma resposta concreta do ministério.

Enquanto população consome agrotóxico em Dourados, decisão empaca na Justiça
Bacia Rio Dourados abrange 11 municípios sul-mato-grossenses (Foto: MPMS)

Por fim, o trabalho de monitoramento dos resíduos de agrotóxicos em águas superficiais de Mato Grosso do Sul, realizado pela Embrapa de agosto de 2022 a janeiro de 2023, estacionou. Estudos só poderão ser feitos com "novo aporte financeiro necessário para realização de despesas de custeio, mas ainda não há previsão orçamentária para a renovação do projeto", termina a nota do MPF enviada à reportagem.

A SES (Secretaria Estadual de Saúde) foi questionada sobre essa situação, em especial, a possibilidade de análises laboratoriais da água e se há alguma estratégia de mitigação dos danos. As perguntas não foram respondidas até a publicação desta reportagem, mas o espaço está aberto para esclarecimentos.

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