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Meio Ambiente

Ninhos artificiais ajudam a preservar papagaio-verdadeiro em MS

Projeto pioneiro já instalou 450 estruturas para proteger espécie ameaçada pelo tráfico.

Por Inara Silva | 02/09/2025 15:53


RESUMO

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Ninhos artificiais têm sido fundamentais na preservação do papagaio-verdadeiro, uma espécie ameaçada pelo tráfico e pela destruição de seu habitat em Mato Grosso do Sul. Desde 2019, o Programa de Ninhos Artificiais já instalou 450 unidades, com 300 em uso, resultando em 40% de ocupação por papagaios-verdadeiros. O projeto, coordenado pela pesquisadora Gláucia Helena Fernandes Seixas, visa combater a redução de ocos naturais devido ao agronegócio e incêndios. A campanha "Adote um Ninho" permite que a população participe da preservação, com doações que ajudam na confecção de novos ninhos.

Ninhos artificiais se tornaram aliados na preservação do papagaio-verdadeiro, uma das aves mais carismáticas do Brasil. Conhecido por suas cores verde, azul e amarela e dono da fama de “melhor falador”, a ave é também a espécie de papagaio mais visada pelo tráfico de animais silvestres.

Segundo a pesquisadora Gláucia Seixas, coordenadora do Projeto Papagaio-verdadeiro, a necessidade de construção dos ninhos surgiu a partir da redução dos ocos usados pelas aves para a reprodução. Especialista na espécie, Gláucia pesquisa o papagaio-verdadeiro desde 1997.

A criação dos ninhos

Ela afirma que a destruição de árvores, provocada pelo avanço do agronegócio, os incêndios florestais e a ação de traficantes foram os fatores que contribuíram para a criação, em 2019, do Programa de Ninhos Artificiais, juntamente com a campanha Adote um Ninho e Seja Amigo(a) dos Louros.

Desde então, 450 ninhos foram confeccionados em parceria com a equipe do PEVRI/IMASUL (Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema). Atualmente, 300 estão em uso no Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica de Mato Grosso do Sul.

Baseados em ninhos naturais de palmeiras, os modelos são feitos em madeira e instalados em áreas seguras, dentro de unidades de conservação ou propriedades parceiras.

O monitoramento é feito mensalmente, com acompanhamento de ovos, filhotes e ocupação dos ninhos. Segundo a pesquisadora, o resultado foi imediato. Hoje, 40% dos ninhos são ocupados por papagaios-verdadeiros, 40% por outras aves e 5% até por mamíferos.

Para a pesquisadora, os ninhos levam benefícios para toda a biodiversidade da região.

“Costumamos dizer: 'nem sempre é verde, mas sempre é vida'”, comemora Gláucia.

Ninhos artificiais ajudam a preservar papagaio-verdadeiro em MS
Casal de papagaio-verdadeiro no ninho artificial. (Foto: Dione Sales/PEVRI-PPV-FNB)

Pressão do tráfico

O tráfico é a principal ameaça à espécie. Em Mato Grosso do Sul, a reprodução ocorre entre julho e dezembro, período em que recém-nascidos indefesos são retirados dos ninhos.

Desde 1988, 12,5 mil filhotes foram apreendidos em operações, mas, conforme Gláucia, o número representa menos de 10% da realidade. Ela explica que muitos acabam sendo vendidos em grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

“Por trás de cada papagaio ilegal criado em residência existe um rastro de crueldade e destruição de ninhos”, alerta a coordenadora.

Desde 2014, o papagaio-verdadeiro já é considerado ‘Quase Ameaçado’ pelo Ministério do Meio Ambiente. De acordo com a pesquisadora, essa condição pode piorar com o avanço do tráfico e da destruição de ninhos.

Ninhos artificiais ajudam a preservar papagaio-verdadeiro em MS
Gláucia Seixas mostra papagaios-verdadeiro reproduzidos nos novos ninhos. (Foto: Dione Sales/PEVRI e PPV-FNB)

Projeto pioneiro

O Projeto Papagaio-verdadeiro foi criado em 1997, após a experiência de Gláucia no CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande, aonde milhares de filhotes chegavam vítimas do comércio ilegal.

Desde então, ela tem dedicado a vida à proteção da ave. Pós-doutora em Ecologia e Conservação da Natureza, ela dedicou, nos últimos 28 anos, toda a sua pesquisa acadêmica ao papagaio-verdadeiro em diferentes biomas do Estado.

“Meu objetivo sempre foi permitir que o papagaio-verdadeiro continue livre e voando pelos céus”, afirma.

Executado pela Fundação Neotrópica do Brasil, entidade que Gláucia também ajudou a fundar, o projeto atua em quatro frentes: geração de conhecimento científico, educação ambiental, apoio a políticas públicas e manejo com ninhos artificiais.

Ninhos artificiais ajudam a preservar papagaio-verdadeiro em MS
Ninhos artificiais produzidos pela equipe do PPV e PEVRI. (Foto: Reginaldo Oliveira/PEVRI-PPV-FNB)

Como ajudar

A campanha “Adote um Ninho” permite que qualquer pessoa participe da preservação. Os ninhos são instalados em áreas seguras, como unidades de conservação ou propriedades parceiras chamadas de “Amigas dos Louros”. Os apoiadores recebem certificado, escolhem um nome para o ninho e acompanham a reprodução ao longo da estação.

A meta é confeccionar 200 ninhos por ano. As doações podem ser feitas por qualquer valor, via PIX (67) 99252-8866. Outras informações: @projetopapagaioverdadeiro, @fundacaoneotropicabrasil e @p_e_vazeas_do_rio_ivinhema.