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Meio Ambiente

Órfã da estrada, Aurora será reintroduzida na Serra da Bodoquena

Resgatada sem a mãe há dois anos, na rodovia próxima a Bonito, será solta em seu habitat de origem

Gabriela Couto | 29/03/2023 18:50
Aurora se alimentando sozinha em local de treinamento de reabilitação para voltar à natureza. (Foto:Maria Helena Baldini)
Aurora se alimentando sozinha em local de treinamento de reabilitação para voltar à natureza. (Foto:Maria Helena Baldini)

Depois de um longo período de reabilitação, a tamanduá-bandeira órfã, Aurora, de dois anos, encontrada sozinha em 2021, em uma rodovia próxima a Bonito, vai voltar à natureza nos próximos dias.

Ela recebeu os primeiros cuidados na Base Pantanal, do Instituto Tamanduá, e está desde abril de 2022 na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Reserva Santuário, do Instituto Líbio, aguardando o momento de soltura.

De acordo com a veterinária Flávia Miranda, presidente do Instituto Tamanduá e professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA), Aurora vive, atualmente, a última etapa de reabilitação para posterior soltura, também prevista para a segunda quinzena de abril, próxima ao local onde foi encontrada.

“Ela já recebeu um colete com radiotransmissor, para que tenha seus passos rumo à liberdade em meio à natureza devidamente monitorados”, afirma Flávia. Ela explica que o GPS enviará pontos de localização de Aurora a cada seis horas, além de dados de sua atividade, como, por exemplo, se está em repouso ou caminhando, permitindo o monitoramento pós-soltura que deve se estender por um ano.

Depois de dois anos recebendo cuidados, tamanduá-bandeira Aurora vai voltar para o mesmo local onde foi encontrada. (Foto: Maria Helena Baldini)
Depois de dois anos recebendo cuidados, tamanduá-bandeira Aurora vai voltar para o mesmo local onde foi encontrada. (Foto: Maria Helena Baldini)

A fundadora do Instituto Líbio, médica, conservacionista e ambientalista Raquel Machado explica que o processo de recuperação de animais silvestres é lento, gradual e envolve uma grande equipe de profissionais.

“Muitos cuidados são necessários para o retorno dos animais ao seu ambiente natural. Por isso, em conjunto com outras entidades, pensamos cuidadosamente na criação dos recintos para acolhê-los, assim como em diversas outras estratégias, como alimentação e tratamento para o sucesso das reabilitações e das solturas”, diz.

O Instituto Líbio tem parceria do Instituto Tamanduá no Projeto Órfãos do Fogo, que também conta com o Fundo Internacional Para o Bem-Estar Animal.

Lobo-guará Canelinha de dois anos já está apto para ser reintroduzido na natureza, na região de Mococa, em São Paulo. (Foto: Gustavo Figueirôa)
Lobo-guará Canelinha de dois anos já está apto para ser reintroduzido na natureza, na região de Mococa, em São Paulo. (Foto: Gustavo Figueirôa)

Canelinha – Além de Aurora, outro animal que vai ser reintroduzido na natureza, graças ao trabalho de várias instituições, é o lobo-guará, que ganhou o nome de Canelinha, também de dois anos. Vale lembrar que as duas espécies de animais estão ameaçadas de extinção.

O lobinho foi resgatado de uma área incendiada em agosto de 2021 por um morador da zona rural de Mococa, em São Paulo, com idade estimada em três meses. Um mês depois, uma equipe do projeto Lobos do Pardo, desenvolvido na região pelo Instituto Pró-Carnívoros em parceira com o CENAP (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros) do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), foi até o local e assumiu os cuidados do animal.

“Em dezembro do mesmo ano, o Instituto Líbio aceitou o desafio de receber o Canelinha e todas as instituições competentes foram acionadas para que ele fosse destinado a um cativeiro temporário enquanto os trâmites oficiais fossem concluídos”, recorda o biólogo e analista do ICMBio, Rogério Cunha de Paula.

Canelinha passou por processo de adaptação que simulou locais do seu habitat natural. (Foto: Gustavo Figueirôa)
Canelinha passou por processo de adaptação que simulou locais do seu habitat natural. (Foto: Gustavo Figueirôa)

Segundo ele, o projeto de reabilitação vem sendo executado então pelo instituto com coexecução do Instituto Pró-Carnívoros e supervisão técnica do ICMBio/CENAP. “Canelinha vem sendo treinado para ser liberado por meio de uma soltura abrupta (quando a soltura não é realizada na área do treinamento) no local de onde foi removido. Depois, será monitorado pela equipe do Projeto Lobos do Pardo e caso seja identificada qualquer dificuldade de adaptação e sobrevivência, ele será recapturado, reconduzido ao recinto de treinamento e avaliado.

Antes da soltura, prevista para a segunda quinzena de abril, o lobinho receberá uma coleira com GPS e transmissor de satélite para que sua reintrodução seja acompanhada diariamente.

Médica Raquel Machado, fundadora do Instituto Líbio, segurando um macaco resgatado. (Foto: Instituto Líbio)
Médica Raquel Machado, fundadora do Instituto Líbio, segurando um macaco resgatado. (Foto: Instituto Líbio)

Instituto Líbio - Criado em 2020 com o nome de Instituto Raquel Machado, em 2023 a entidade passou a se chamar Instituto Líbio, numa homenagem da médica dermatologista que até agora emprestava sua identidade à instituição a seu avô, Líbio Vieira Machado, que defendia a natureza e a necessidade de preservar os diferentes biomas brasileiros desde a década de 1940.

A mudança, porém, não altera os propósitos do instituto, que se mantém fiel a seus eixos de atuação: reabilitação de animais, educação ambiental e criação e gestão de refúgios. Nesse sentido, está ampliando seus horizontes, fincando raízes em diferentes regiões do país e expandindo seu portfólio de atividades, dando continuidade a seus objetivos de combater o tráfico de animais silvestres, trabalhando para reabilitá-los, promovendo a devolução a seus ambientes naturais e defendendo o fim do desmatamento em diferentes ecossistemas, os hábitats originais de inúmeras espécies da fauna nacional.

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