Testemunha dos efeitos da soja em MS, campo-grandense hoje defende a Amazônia
Thiago Cavalli busca recursos para criar hub de inovação envolvendo população nativa da Região Norte
De Campo Grande para o coração da Amazônia. Esta é a jornada de Thiago Cavalli, um sul-mato-grossense que escolheu lutar pelas pessoas e pelo futuro da floresta. Aos 47 anos, ele é o fundador da ONG Casa do Rio, uma iniciativa que busca valorizar a sabedoria ancestral e proteger o meio ambiente.
RESUMO
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Thiago Cavalli, sul-mato-grossense de 47 anos, fundou a ONG Casa do Rio na Amazônia para defender comunidades ribeirinhas e preservar a floresta. A organização, localizada em Careiro Castanho, a 120 km de Manaus, atende 300 famílias com projetos de educação, segurança alimentar e agroecologia. A iniciativa já recebeu diversos reconhecimentos, incluindo o Prêmio Itaú Unicef e uma homenagem da BrazilFoundation. Atualmente, Cavalli planeja implementar um hub de inovação orçado em R$ 5 milhões para preservar tradições locais e promover a bioeconomia, contando com apoio do hotel Rosewood São Paulo.
Cavalli deixou o Mato Grosso do Sul aos 18 anos para estudar em São Paulo, mas foi em 2009, durante um passeio na Amazônia, que sua vida tomou um novo rumo. “Fui tomado por uma imensidão de beleza, uma sensação muito boa. E pensei: ‘quero morar aqui'".
Encantado com o Rio Tupana e inconformado com a falta de acesso à educação dos nativos, ele construiu uma casa na beira do curso d’água e passou a dar aulas para crianças e adolescentes na varanda, fato que foi o ponto de partida para a criação da Casa do Rio, em Careiro Castanho, a 120 km de Manaus.
Em 2014, fundou a ONG, em parceria com o publicitário Jeff Ares, atual conselheiro. Inicialmente, a proposta era apoiar as comunidades ribeirinhas, principalmente, as mulheres. A entidade expandiu suas ações de educação para a segurança alimentar e agroecologia, atendendo hoje 300 famílias em uma região vulnerável ao desmatamento e à grilagem de terras.
A Casa do Rio fica em uma área que é cortada pela BR-319, rodovia polêmica que liga Manaus a Porto Velho (RO) e que tem sido atingida pelo desmatamento. Cavalli diz que aos poucos a floresta vai sendo tomada por pastagens, pelo gado e pelo plantio de soja, mesmo processo que ele testemunhou na infância em Mato Grosso do Sul.
Interesse pela Amazônia
E foi justamente o modo de vida na Amazônia intrinsecamente ligado à natureza que encantou o campo-grandense. Ele se viu fascinado pela autonomia das pessoas que ali vivem. Elas produzem tudo o que precisam: a comida, as moradias, os remédios, a alimentação e até o transporte vem diretamente da bioma.
Essa autossustentabilidade, a prática de não consumir mais do que o necessário e o modo de vida foram o que o fizeram se apaixonar pela região.
“A monocultura tira isso, pois produz só uma coisa e compra todo o resto”, ressalta Cavalli ao afirmar que os moradores compram uma coisa ou outra de fora, mas mantêm muito forte o laço com os produtos da floresta".
Lembranças dos avós
Ao falar de Mato Grosso do Sul, Cavalli lembra que sempre conviveu com avós e pessoas ligadas à terra, aprendeu muito com eles e achava bonito a forma como lidavam com a natureza.
Ele recorda o conhecimento profundo que os avós tinham, um saber passado de geração em geração. "Vento norte traz a chuva", diziam, uma previsão que indicava a chegada da água vinda da Amazônia. "Daqui três dias chove", afirmavam, baseados na observação da natureza.
Hoje, Cavalli lamenta que essa sabedoria ancestral esteja ameaçada. “Agora nem sempre vem esse vento. Talvez venha cada vez menos”, reflete, referindo-se às mudanças climáticas e ao impacto do desmatamento na região.
Bioeconomia e empreendedorismo
O próximo projeto da Casa do Rio é um hub de inovação orçado em R$ 5 milhões. O espaço será um centro de saberes para preservar as tradições dos povos do território e promover a bioeconomia, o empreendedorismo socioambiental e programas para mulheres e jovens.
A proposta é envolver indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares, pesquisadores, artistas e empreendedores sociais a fim de criar condições para que as tradições e modos de vida das populações tradicionais permaneçam.
Thiago Cavalli acredita ser urgente conciliar o ancestral com o presente para construir um futuro para a Amazônia.

Prêmios
Por sua atuação, a Casa do Rio é reconhecida e premiada. A organização já recebeu o Prêmio Itaú Unicef (2018), foi homenageada pela BrazilFoundation (2018) e, em 2021, seu Projeto Escola Itinerante de Agroecologia foi selecionado como uma das dez soluções mais inovadoras para os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) pela ONU.
Festa de Luxo
Para viabilizar o hub, o hotel de luxo Rosewood São Paulo, que já apoia a ONG desde 2023, realizará um jantar beneficente em 28 de agosto. O evento busca arrecadar R$ 1 milhão, com um cardápio e atrações artísticas inspiradas na Amazônia. O hotel arcará com a locação e a produção do evento.