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Política

Eleitor com deficiência que não se cadastrou pode ter dificuldades para votar

Prazo para declaração de situação física expirou em maio, data limite para regularização da situação eleitoral

Natália Olliver | 28/09/2022 07:09
Ezequiel mostrando título, em 2018, após primeira votação. (Foto: Paulo Francis)
Ezequiel mostrando título, em 2018, após primeira votação. (Foto: Paulo Francis)

Os eleitores com deficiência ou com mobilidade reduzida, que não se cadastraram no TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul), ou seja, não informaram à Justiça Eleitoral a respeito da situação física para o exercício do voto, podem ter dificuldades para votar este ano. Isso porque o prazo para declaração expirou no dia quatro de maio, mesmo período exigido para regularização do título.

A capital sul-mato-grossense possui 7.962 eleitores com algum tipo de deficiência e aptos a votar. Desse total, 3.660 têm deficiência de locomoção, 1.183 visual, 954 auditiva e 95 possuem dificuldade para exercício do voto.

O Presidente do TRE-MS, Paschoal Carmello Leandro, explicou ao Campo Grande News que o pedido para inclusão das informações deveria ter sido feito com antecedência e que agora não é mais possível incluir os dados ao título.

“Meses atrás nós fizemos uma campanha, falando para que eles, os cadeirantes e pessoas com deficiência, fizessem um cadastramento e nos informasse a sua real situação para verificar a seção onde eles deveriam votar. Se eles passaram essa informação para nós, naturalmente foram colocados em sessões acessíveis. Se não tem isso no cadastro não tem como saber. Se tiver a informação ele já vai para locais acessíveis”, comentou.

Questionado sobre a possibilidade da falta de assistência ao público que não fez o cadastro, o representante disse que “não teria como remodelar a logística das seções para atendê-los agora” e realizar o cadastro.

A assessoria do Tribunal informou à reportagem que todas as seções têm acessibilidade.

Histórico -  Em Campo Grande, o então candidato a vereador da Capital, David Marques (PTB), que é cadeirante, passou por uma situação inesperada no momento de registrar o voto, se deparou com a falta de acessibilidade no local ao descobrir que sua seção foi deslocada para o subsolo do prédio, em 2012.

Como não havia elevador no colégio, ele precisou ser levado no colo pelas escadas. “Me falaram que iam me carregar no colo, mas eu não ia passar esse tipo de constrangimento”, contou na ocasião.

Alguns anos depois, em 2018, a procuradora de Justiça, Sara Francisco Silva, necessitou ser carregada por dois militares do Corpo de Bombeiros para conseguir votar, na Escola Municipal Professor Alcídio Pimentel. A eleitora teve que descer uma escada para chegar até a sala de votação. O local  também não tinha roupa de acesso. Ela relatou na época ao Campo Grande News que todo ano precisava de ajuda.“Fiz o pedido para mudar a minha seção eleitoral durante a biometria, mas sem sucesso”, lamentou.

Ainda no mesmo ano, Ezequiel Muniz Bueno, com então 19 anos, cadeirante e com distrofia muscular, votou pela primeira vez, na Escola Estadual Padre Tomaz Ghirardelli, no Parque do Lageado. Felizmente no colégio já era acessível e o jovem conseguiu realizar o voto sem problemas. “Eleição é uma chance de transformar o Brasil”, disse Ezequiel.

Deficientes visuais - A presidente da  Associação dos Deficientes Visuais de Mato Grosso do Sul, Áurea Sena, que também é deficiente visual, contou que esse ano as urnas estão diferentes, com atualizações necessárias, mas que muitos deficientes visuais não tiveram tempo para se adequar às mudanças.

“Na época de eleição o tribunal disponibiliza uma urna pra ir lá e conhecer. Esse ano o tempo foi menor, foram apenas 2 horas. Muitos compromissos, no horário, não foi possível a todos terem acesso a mudança. Tem muitos que com a explicação entendem, mas outros não. Acreditamos que essas eleições estão com um tom diferente. Não foi possível deixar um dia todo, como antes, não sabemos o porquê. Não houve tempo hábil para pessoas com deficiência verificarem as mudanças na urna.”, pontuou.

Entre as alterações, a representante explicou que agora os botões de voto “Branco, Corrige e Confirma” estão localizados na parte vertical da urna, não mais na horizontal.  Outra mudança é na forma de votação para os deficientes visuais. Esse ano além da urna com voz, a votação só é iniciada e validada após a palavra “confirma”.

“Depois que você votava ela repetia o número e não falava o nome do candidato, para nós que não vemos, isso era ruim. Então se der um problema não tenho certeza que meu voto saiu, todo erro pode acontecer. Esse ano contamos com essa novidade. Depois que o mesário ativa o áudio, você tem que clicar no confirma pra começar a votar e aguardar um tempo para votar em outros candidatos.

Conforme Áurea, a expectativa é muito grande para essas eleições devido a melhora no sistema eleitoral para os deficientes “melhorou bastante, vamos ter mais informações que a gente ainda não tinha, não impedia de votar mas com ela dá mais certeza.

Sobre a acessibilidade, a presidente informou que para os deficientes visuais a situação é diferente, pois os eleitores trafegam bem nas escolas, mesmo sem rampas.

“Deficiente visual só com deficiente visual não precisa de rampa, ele trafega muito bem. Todos os lugares de locomoção não tenho recebido nenhuma notificação sobre. Nos locais de votação não tem piso tátil, mas não tendo e colocando uma pessoa na porta para orientar, já oferece acessibilidade”, concluiu.

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