Mãe de dois e prefeita de 916 mil: o corre-corre é a rotina de Adriane Lopes

Às 6h30 de quinta-feira, a prefeita Adriane Lopes (Patriotas), de 45 anos, abre a porta de sua casa para a equipe do Campo Grande News já pronta para uma longa jornada de atividades: maquiada, colar e brincos de pérolas, blusa de tricô lilás, calça preta e sapatos com saltos médios. Ao longo da manhã, iria trocar o sapato social por uma botina para inspecionar obra de asfalto e adicionar um colete azul com a logomarca da prefeitura de Campo Grande, cidade com 916 mil habitantes.

Na casa ampla, confortável e edificada para “abraçar” três ingazeiros, o zum-zum-zum vem da cozinha, onde Adriane aproveita o café da manhã para conversar com os filhos Matheus, 20 anos, e Bruno, 14 anos; a sobrinha Izabele, 16 anos, que veio de Paranhos para estudar e almeja cursar Medicina; e a mãe Gislene, 64 anos.

Gislene, aliás, é a primeira a acordar. Pula da cama às 5h30 para atividades físicas com o personal trainer. Às 7h, já pode dizer que o treino está pago. O deputado estadual Lídio Lopes (Patriotas), marido da prefeita, estava em viagem pelo interior de Mato Grosso do Sul.

Antes de assumir a prefeitura, Adriane Lopes mantinha a rotina de levar o filho caçula para a escola. O mais velho é acadêmico de Direito e já dirige. Reproduzindo o discurso de muitas mães, ela conta que por várias vezes ficou com o carro estacionado perto das escolas orando para o bom desempenho dos meninos em processos seletivos.

Os cuidados vão de garantir que se alimentem bem na primeira refeição do dia à vigilância quando estão na rua. Matheus afirma que a mãe pergunta onde está e cobra a localização em tempo real.

A família só volta a se reunir no almoço, que, em geral, fica a cargo de Gislene, que faz diferentes pratos para atender os gostos dos netos. Adriane conta que quando cozinha é adepta de um cardápio mais prático: arroz carreteiro, galinhada, macarronada.

Pela casa, se espalham orquídeas, paixão da proprietária, e predomina o canto dos pássaros, atraídos pelos variados grãos e pela piscininha ofertados pelo deputado.

Peso do Poder Executivo - Se nas primeiras horas da manhã, Adriane tem a rotina parecida com boa parcela das mulheres, uma agenda de três páginas no balcão da cozinha lembra que ela é a chefe do  Poder Executivo. Oficialmente, o cronograma de 5 de maio tinha 16 compromissos, sendo o último às 19h.

Mas como secretários e vereadores têm passe livre e não precisam agendar horário, são encaixados na programação. Desta forma, a jornada pode se alongar até às 21h.

No deslocamento para o primeiro compromisso do dia, no Parque Ayrton Senna, no Bairro Aero Rancho, Adriane espia o celular onde quase 500 mensagens lhe aguardam. A prefeita participa de mais de 30 grupos no aplicativo WhatsApp e passa o número pessoal para lideranças comunitárias entrarem em contato. Durante o trajeto, dispara áudio para equipe alertando sobre lixo perto do Hospital Regional Rosa Pedrossian.

Nas devidas proporções, a prefeita tem uma rotina que repete a tripla jornada do gênero feminino: mãe, mulher e esposa. “Com certeza, toda mãe que trabalha passa por essa situação”, diz. Em meio ao corre-corre, prioriza cada momento em família. “Pode ser 15 minutos para estar junto, mas será um tempo com qualidade”.

Ir direto ao alvo não é somente sentido figurado.  Adriane fez curso de formação na Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), onde trabalhou, e foi a melhor aluna do curso de tiro em meio a 300 pessoas.

“Fui a uma agenda de formação da Guarda Civil Metropolitana num estande de tiro e esse curso me voltou à memória. O Bruno ainda era bem pequeno. Foi um período importante na minha vida”.

No Parque Ayrton Senna, Adriane falou a centenas de jovens num evento do Exército: o Juramento à Bandeira e dispensa do serviço militar.

“Aos 18 anos, muitos já decidiram o caminho que vão seguir. Que vocês continuem honrando a pátria, os pais e, se necessário for, defendam o Brasil com galhardia. Vocês são homens, serão pais de família, cidadãos que contribuirão para a sociedade. Que Deus os abençoe”.

Café e histórias – No meio da manhã, a prefeita visita a incubadora Mário Covas, que abre espaço para cooperativa têxtil. Por lá, mesa farta à esperava para um café do Dia das Mães. No local, são produzidas roupas, nécessaires e bolsas.

Logo na entrada, Normalita da Silva Marinho, 56 anos, ganha um dos muitos abraços distribuídos pela prefeita.  A incubadora surgiu na vida da costureira como oportunidade de emprego em 2020, logo que chegou a pandemia do coronavírus.

Na ocasião, as finanças foram salvas pela confecção de máscaras. Hoje, na jornada das 7h às 16h, faz peças de vestuário e bolsas. Para o lanche coletivo, Normalita levou uma saborosa torta de frango. “Cheguei do médico e fiz a torta à noite”, diz.

Diante de um público majoritariamente feminino, Adriane Lopes discursa que a cooperativa é um sonho antigo e que a inspiração veio de projetos que conheceu em São Paulo, onde associados têm produção nos setores de panificação, artesanato, costuras e perucas para pacientes em tratamento de câncer. A prefeita expressa votos de que o projeto cresça e que as trabalhadoras façam a “economia acontecer”.

Na sequência, a prefeita, que é evangélica, faz oração agradecendo a vida e  com pedido de bênçãos para as mães.

Pé na terra e no asfalto – Noutro ponto da cidade, desta vez no Bairro Rita Vieira, a prefeita inspeciona o “Todos em Ação”, projeto que faz limpeza, e a obra de pavimentação. Ali, troca o salto pela botina, coloca esparadrapo para proteger o calcanhar, machucado em outra agenda de andança, e ruma em direção aos trabalhadores.

No trajeto, para e faz foto com Lindinalva Santos Oliveira, 48 anos. De óculos em formato de corações no rosto e vassoura nas mãos, ela conta à reportagem que o trabalho é duro, mas com animação. Das 7h às 14h, Lindinalva faz o chamado serviços gerais: rastela, varre, cata. As frentes de trabalho são seguidas por equipes de apoio, que levam água. Numa delas, a prefeita aproveita a parada para se hidratar.

A caminhada prossegue pelas ruas do Rita Vieira, parte já asfaltada e parte em obras, com vaivém das máquinas para compactar o solo. Em companhia do secretário do titular da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos), Rudi Fiorese, Adriane conversa com Yara Alves Leite de Freitas, presidente da associação de moradores.

A liderança conta que a espera pelo asfalto durou décadas e que a via pavimentada influi da economia ao lazer. Os imóveis são valorizados e as crianças agora podem andar de bicicleta na rua.

À prefeita, ela pede a ampliação da escola de tempo integral Professora Iracema Maria Vicente. Por falta de vagas, crianças vão para escolas nos bairros Tiradentes e Itamaracá. “Mas as pessoas não têm condições, não têm condução para se locomoverem”, diz Yara. São 15 mil moradores no Rita Vieira.

O pedido da presidente da associação de moradores é anotado e a prefeita passa o número de seu celular para Yara. A obra de pavimentação vai asfaltar 24,7 quilômetros no Rita Vieira, num total de 54 ruas. Atualmente, 60% foram concluídos.

Toda ouvidos - O dia de Adriane Lopes prossegue com entrevista na televisão, agenda com parlamentar, sanção de projeto de lei para atender pessoas em situação de rua. No gabinete, a prefeita tem especial carinho por uma das fotos que compõem um painel com imagens da Capital a partir de 1969.

O registro fotográfico mostra o Shopping Campo Grande na década de 1990. A obra foi que trouxe a família de Adriane do Paraná para Mato Grosso do Sul. Ela tinha 9 anos e a região hoje muito valorizada era uma fazenda.

Há pouco mais de um mês no comando da prefeitura, Adriane diz que se esforça para que a agenda corrida não mude sua característica de ouvir as pessoas. “Não quero perder isso. Quem ouve mais, acerta mais. Gosto dessa interlocução com as pessoas ‘no chão’. Programo agendas externas para ir aos bairros”, diz a prefeita.