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Política

PF conclui inquérito de "atentado fake" e quer que Trutis responda por 4 crimes

Supremo decidirá se conclusões da Polícia Federal seguirão em frente e deputado federal será indiciado

Anahi Zurutuza | 18/06/2021 13:08
Uma das imagens de "Trutis" com uma Glock 9 mm; arma do tipo foi usada para tiros disparados contra veículo alugado por deputado (Foto: Redes Sociais)
Uma das imagens de "Trutis" com uma Glock 9 mm; arma do tipo foi usada para tiros disparados contra veículo alugado por deputado (Foto: Redes Sociais)

A Polícia Federal conclui o inquérito contra o deputado Loester Carlos, o Trutis (PSL) por forjar ter sido alvo de atentado, em janeiro do ano passado. Para a investigação, o parlamentar cometeu quatro crimes ao fingir que havia sido atacado a tiros e forçar a PF a “perder tempo” apurando o suposto ocorrido: falsa comunicação de crime, porte ilegal de arma, disparo de arma de fogo e dano ao patrimônio privado (o carro).

O relatório do inquérito foi encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) no dia 15 deste mês e conforme o andamento registrado no sistema on-line de consulta da Corte, desde quarta-feira (16) está no gabinete da ministra Rosa Weber, que analisará as provas juntadas e decidirá se Trutis será indiciado ou não.

Relatório da PF chegou ao STF no dia 15 e já está em gabinete de ministra (Foto: Reprodução)
Relatório da PF chegou ao STF no dia 15 e já está em gabinete de ministra (Foto: Reprodução)

Como Loester Carlos Gomes de Souza é paramentar federal e tem foro privilegiado, todos os passos da investigação têm de ser analisados pelo Supremo. Se autorizado o indiciamento, caberá a PGR (Procuradoria-Geral da República) oferecer denúncia contra o deputado.

Por duas vezes, a defesa do parlamentar tentou “trancar” o inquérito, sob o argumento de que as investigações estavam sendo conduzidas de forma irregular e que Trutis era vítima de “descarado abuso de autoridade”, mas os dois pedidos feitos aos STF foram negados.

Marcas de tiro em Toytota Corolla onde parlamentar federal viajava; foto foi divulgada na rede social dele, no dia do suposto atentado (Foto: Assessoria Loester Trutis/Divulgação)
Marcas de tiro em Toytota Corolla onde parlamentar federal viajava; foto foi divulgada na rede social dele, no dia do suposto atentado (Foto: Assessoria Loester Trutis/Divulgação)

A investigação – No dia 16 de fevereiro de 2020, um domingo, Trutis publicou no Facebook, por volta das 9h, que ele e sua equipe haviam sofrido um ataque a tiros a caminho de Sidrolândia – distante 70 quilômetros de Campo Grande. O parlamentar alegou ter sido vítima de emboscada e narrou que revidou à agressão.

“O carro em que estavam foi alvejado por, no mínimo, 5 disparos”, dizia a nota divulgada pelo parlamentar na rede social. A imagem anexada à postagem mostra um carro Toyota Corolla preto com vidros estilhaçados e marcas de bala. “O deputado conseguiu revidar o ataque. Apesar da emboscada, todos estão bem e sem ferimentos”, continuava comunicado.

Loester Carlos contou que acionou o Bope (Batalhão de Operações Especiais), que o levou escoltado até Polícia Federal de Campo Grande, onde fez a denúncia.

Trutis com Ciro Fidélis, que foi candidato a vereador por Campo Grande (Foto: Reprodução)
Trutis com Ciro Fidélis, que foi candidato a vereador por Campo Grande (Foto: Reprodução)

O rastreador do carro, câmeras espalhadas pela BR-060, perícia e exaustiva investigação levaram a Polícia Federal a descobrir, contudo, que a suposta tentativa de homicídio denunciada por Loester Trutis era uma farsa ou, como classificaram os investigadores, uma “tragicomédia com dois atores”: o deputado e o seu então motorista, o empresário Ciro Fidélis.

A perícia identificou disparos de pistola Glock 9 mm de fora para dentro do Corolla e disparos de pistola Taurus de dentro para fora do carro. Para a PF, os disparos feitos nas duas direções serviram para justificar a versão do deputado, de que ele revidou ao ataque e por isso, sobreviveu. Ainda de acordo com análise técnica, seria impossível Trutis sair ileso do atentado.

O deputado e Ciro Fidélis foram alvos, em 12 de novembro do ano passado, da Operação Tracker, que não por acaso significa rastreador em inglês. A PF estava atrás de mais provas para concluir as investigações. O parlamentar acabou preso com armas mantidas em casa sem registro em seu nome. Foi liberado no mesmo dia.

Mas antes de novembro, a equipe da PF já havia descoberto vários detalhes do ocorrido. A PF refez os passos de Loester, afinal ele deveria estar sendo monitorado por quem tinha a intenção de matá-lo ou feri-lo.

O Corolla era alugado pelo gabinete do parlamentar e só chegou a Campo Grande um dia antes do atentado. Além de filmagens analisadas, policiais estudaram os dados do GPS do veículo e constaram que o carro não circulou somente pela BR-060, na saída para Sidrolândia, onde teria acontecido a abordagem, mas entrou em estradas vicinais.

Numa das estradas, o carro ficou para “por exatos 40 segundos” também registraram os investigadores, “tempo suficiente para descer do veículo, efetuar vários disparos de arma de fogo e retornar para dentro do veículo”. Foi neste trecho de terra que a PF encontrou jogados estojos de munição 9 milímetros.

Outro lado – A apuração é rica em detalhes, mas Trutis alega estar sendo vítima de complô “da esquerda” para “assassinar sua reputação”. “Nada me espantaria se o delegado militante de esquerda da PF desse uma entrevista sobre a tese mirabolante de que eu atirei no meu próprio carro. O sistema é foda, parceiro. Ele se reorganiza sempre que é ameaçado”, postou nesta sexta-feira (18) nas redes sociais, após a imprensa começar a noticiar a conclusão do inquérito.

Mário Panziera Junior, advogado de Loester Carlos, disse ao Campo Grande News que como a PF não achou os mandates do atentado, chegou a conclusões equivocado. Ele dá apenas um exemplo. “Não há dano [ao veículo alugado], o carro foi consertado”.

Depois o defensor disse que tinha informações sigilosas em favor do cliente, mas que nada mais poderia comentar com a reportagem porque estava muito ocupado.

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