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As atitudes dos outros não me definem: não vou responder na mesma moeda

Por Cristiane Lang (*) | 30/04/2025 13:30

É natural querer reagir quando somos feridos. Existe um impulso quase instintivo em devolver na mesma moeda, como se o ato de retaliar equilibrasse a balança da justiça. Mas essa é uma ilusão perigosa. Quando nos permitimos agir com a mesma maldade que nos atingiu, deixamos de ser vítimas e nos tornamos cúmplices do mesmo padrão que tanto condenamos. Agir igual é se igualar. E, muitas vezes, isso significa abandonar os próprios valores.

O reflexo imediato e o risco de se perder

Quando alguém nos trata com desrespeito, grosseria ou crueldade, nossa primeira resposta emocional tende a ser o revide. “Se ele me ignorou, também vou ignorar.” “Se ela mentiu pra mim, vou mentir também.” Esse tipo de raciocínio dá a falsa sensação de que estamos retomando o controle, nos protegendo. Mas, na verdade, estamos entregando o controle ao outro. Estamos dizendo: “Você dita como eu ajo. Suas atitudes moldam meu comportamento.” Isso é o oposto de liberdade emocional.

Responder na mesma moeda é como entrar no jogo do outro, jogando com as regras dele. E, pior: mesmo que você “vença”, perdeu a si mesmo no processo.

O caráter se prova nos extremos

Caráter não é aquilo que mostramos quando tudo vai bem — é o que sobra quando somos testados. E poucas coisas testam mais nosso caráter do que uma injustiça, uma traição ou uma humilhação. Nesses momentos, o caminho mais fácil é retribuir com veneno. O mais difícil — e mais nobre — é se manter firme nos próprios princípios.

Não devolver na mesma moeda não é sinal de fraqueza. É sinal de força. É ter clareza sobre quem você é, independentemente do que o outro fez. É se recusar a ceder ao instinto primitivo da vingança para agir com maturidade, consciência e dignidade. Quem age de forma consciente escolhe não perpetuar o ciclo da agressão.

O ciclo que se repete

Responder com o mesmo desrespeito alimenta uma cadeia interminável de ressentimentos. A mágoa que você devolve se transforma em nova mágoa no outro. E assim se constrói um ciclo destrutivo que só cresce. Ao escolher não entrar nesse jogo, você interrompe a repetição. Você mostra que é possível reagir com firmeza sem perder a humanidade.

Não se trata de aceitar tudo passivamente. Trata-se de escolher a resposta com mais inteligência. Às vezes, a resposta é o silêncio. Outras, é a distância. Em muitos casos, é uma conversa direta, firme, porém respeitosa. Mas nunca a reprodução da mesma maldade.

A verdadeira superioridade é emocional

Existe uma frase que resume bem essa ideia: “Não luto com porcos, porque ambos saímos sujos — e os porcos gostam.” Quando você revida com a mesma moeda, desce ao nível de quem te machucou. Mas quando escolhe responder com integridade, sobe degraus. Você se destaca, não por orgulho, mas por consciência.

A verdadeira superioridade não está em se achar melhor, mas em se recusar a se perder. Você não é obrigado a retribuir gritos com gritos, mentiras com mentiras, frieza com frieza. Você pode colocar limites, se afastar, dizer “basta”, mas sem se transformar naquilo que condena.

A paz de quem não se contamina

No fim das contas, a paz de espírito vem de saber que você não agiu contra a sua essência. Que não foi corrompido por quem quis te provocar. Que não precisou vencer uma batalha pequena com atitudes pequenas.

A pessoa que te feriu vai ter que lidar com o que carrega dentro de si. Mas você também vai ter que lidar com o que guarda dentro de você. E é muito mais leve viver com dignidade do que com arrependimento por ter se igualado a quem você nunca quis ser.

As atitudes dos outros não me definem. E isso não é apenas uma frase bonita — é uma escolha. Uma escolha que, repetida diariamente, constrói não só um caráter forte, mas uma vida mais serena.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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