Celular em sala de aula e processo de aprendizagem
A tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas e a tendência é um consumo cada vez maior. Afinal, o uso de aparelhos como o celular é crescente e um hábito frequente, principalmente entre jovens. A situação está provocando debates, como, por exemplo, a proibição do uso em sala de aula.
A Prefeitura do Rio de Janeiro foi uma das responsáveis por reacender essa discussão sobre o uso do celular nas escolas, após decidir proibir o uso do aparelho durante a aula e recreio e, que, com algumas exceções, será possível acessá-lo apenas antes do início da primeira aula. A legislação permitiria o uso somente na Educação de Jovens e Adultos (EJA) durante o intervalo.
Já a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo estabeleceu algumas ações para diminuir o costume, ampliando o bloqueio do acesso às redes sociais e outros aplicativos através da rede wi-fi das escolas estaduais.
A verdade é que dezenas de escolas, públicas ou particulares, não esperaram uma decisão dos órgãos governamentais para definir as próprias regras sobre o uso de telas, situação comum nas escolas há pelo menos uma década.
A medida não é apenas nacional, uma vez que diversos países também estão optando pela proibição para os estudantes diminuírem o tempo de consumo e focarem no que realmente importa: estudar. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que um a cada quatro países tenha uma lei de restrição ao aparelho em escolas, de forma total ou parcial, como Estados Unidos, França, Itália, Finlândia e Holanda.
A questão é que o problema e a preocupação nacional se tornaram mais aparentes, após pesquisa divulgada pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2022, identificando que aparelhos eletrônicos impactaram a capacidade de 8 em cada 10 alunos brasileiros em prestarem atenção nas aulas. Infelizmente, os resultados também não têm apresentado melhorias.
No entanto, a restrição não acontece apenas por afetar a capacidade de concentração e a aprendizagem, já que o celular é um aparelho de uso individual, comprometendo ainda a habilidade de socialização.
O contato e conversa com outros companheiros de turma acontece, principalmente, no intervalo. Ou seja, período em que todos têm a oportunidade de sair um pouco da sala de aula para comer, respirar um ar mais fresco e relaxar, sendo a partir desse relacionamento que diversas habilidades são adquiridas, desde a infância.
O momento, mesmo que curto, propicia estabelecer fatores sociais e emocionais, com a criação de um senso de coletividade e empatia, permitindo que profissionais possam, também, analisar o comportamento de cada um, identificando a presença ou não de algo irregular. O mesmo pode ocorrer em sala de aula, notadamente através de atividades, porém essas não são frequentes e o foco deve ser aprender a matéria e não conversar.
A verdade é que com a crescente presença da tecnologia a preocupação de pais e professores sobre o ensino e sua qualidade se tornou maior, afinal é praticamente impossível ignorá-la. Claro, a inovação tem potencial para agregar ainda mais aos estudos, afinal não é à toa que diversas escolas possuem seus próprios instrumentos e outras permitem que os alunos os tragam de casa.
O que precisa ficar claro é os limites para o uso, definindo quando será benéfico e como evitar prejuízos.
(*) PHD em neurociência, psicanalista e psicopedagoga
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