O absurdo do feminicídio: uma praga social que precisa ser enfrentada
O feminicídio – o assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres – é uma das expressões mais cruéis e extremas da violência de gênero. Apesar de vivermos em uma era de grandes avanços sociais e tecnológicos, essa tragédia continua sendo uma praga em nossa sociedade. O feminicídio expõe a cultura de poder, controle e desvalorização da vida feminina, e seu combate requer mudanças profundas, tanto individuais quanto estruturais.
As raízes da violência contra a mulher
A violência que leva ao feminicídio não surge do nada. Ela é fruto de uma construção social baseada em desigualdade de gênero, misoginia e um sentimento distorcido de posse e controle. Algumas das causas mais comuns que levam homens a agredirem mulheres são:
Cultura de posse e controle: Muitos homens enxergam suas parceiras como propriedades. Esse sentimento de posse faz com que eles sintam que têm o direito de controlar, punir ou até tirar a vida de uma mulher que decide por si mesma.
Masculinidade tóxica: A pressão social para que os homens sejam autoritários, insensíveis e dominadores reforça a violência. Quando um homem sente que está “perdendo o controle” de uma relação, a agressão surge como uma tentativa de reafirmar seu poder.
Cultura do silêncio: Muitas mulheres não denunciam a violência por medo, vergonha ou por não acreditarem no sistema de justiça. Esse silêncio perpetua o ciclo de violência, dando aos agressores a sensação de impunidade.
Desigualdade estrutural: A falta de políticas públicas eficazes para proteger as mulheres e punir os agressores cria um ambiente permissivo para que a violência continue acontecendo.
O impacto devastador na sociedade
O feminicídio não afeta apenas a vítima direta. Ele destrói famílias, deixa filhos órfãos e espalha o medo em toda a comunidade. Além disso, reforça o ciclo de violência e trauma, perpetuando a desigualdade de gênero. O impacto psicológico e social é imensurável, atingindo gerações futuras e deixando cicatrizes profundas na sociedade como um todo.
O que precisa ser feito?
Educação e conscientização: É fundamental educar meninos e meninas desde cedo sobre respeito, igualdade e a importância de relacionamentos saudáveis. A desconstrução da masculinidade tóxica deve ser uma prioridade social.
Denúncia e acolhimento: Criar redes de apoio para que as mulheres possam denunciar a violência com segurança e receber o apoio necessário para romper o ciclo de abuso.
Punição severa e eficaz: A impunidade dos agressores precisa acabar. Leis mais rigorosas, combinadas com uma aplicação eficiente da justiça, são cruciais para a proteção das vítimas.
Empoderamento feminino: O fortalecimento da independência econômica, emocional e social das mulheres ajuda a reduzir a vulnerabilidade diante da violência.
Rompendo o silêncio
Falar sobre feminicídio não é fácil, mas é necessário. O silêncio e a omissão perpetuam a violência, enquanto a conscientização e o enfrentamento são passos fundamentais para construir uma sociedade mais justa e segura para as mulheres.
O feminicídio não é um destino inevitável. É uma falha coletiva que pode e deve ser combatida com coragem e determinação. A luta pelo fim da violência de gênero não é apenas das mulheres – é de todos nós. Somente com um esforço coletivo e contínuo podemos eliminar essa praga social e garantir que a vida de cada mulher seja respeitada e valorizada como merece.
O feminicídio e a urgência de uma transformação social
O feminicídio é o resultado extremo de uma cadeia de violências que começa muito antes da agressão física ou da morte. Ele está enraizado em uma sociedade que ainda permite, direta ou indiretamente, a desigualdade de gênero, o controle sobre os corpos e decisões das mulheres e a perpetuação da masculinidade tóxica. Para erradicar essa praga social, não basta apenas punir os agressores. É necessário um esforço multifacetado que aborde as causas profundas e sistêmicas que levam à violência de gênero.
A educação surge como um pilar central. Desde a infância, meninos e meninas precisam ser ensinados sobre igualdade, respeito e a importância de relacionamentos saudáveis. Os estereótipos de gênero que alimentam a ideia de posse e poder precisam ser desconstruídos para que futuras gerações cresçam livres das amarras da violência.
Além disso, a criação de redes de apoio eficazes e acolhedoras é essencial. Muitas mulheres continuam presas a relações abusivas por medo, falta de apoio ou ausência de recursos. Ampliar o acesso a políticas públicas de proteção e acolhimento, com serviços psicológicos, sociais e jurídicos acessíveis, é vital para oferecer a elas a chance de escapar do ciclo de abuso antes que ele termine em tragédia.
Por outro lado, o sistema de justiça deve ser reformado para garantir que as denúncias sejam levadas a sério e que os agressores sejam punidos com rigor e agilidade. A impunidade é uma mensagem perigosa que encoraja novos atos de violência.
Por fim, é essencial que a sociedade, como um todo, rompa com a cultura do silêncio e da omissão. Denunciar, apoiar as vítimas e cobrar mudanças efetivas são deveres de todos. O feminicídio não pode ser visto como um problema apenas das mulheres ou das autoridades – ele é um sintoma de uma sociedade doente, que só será curada com um esforço coletivo e contínuo.
A vida de cada mulher importa. A luta pelo fim do feminicídio não é apenas uma questão de justiça, mas de dignidade e respeito. Construir uma sociedade mais segura e igualitária é uma responsabilidade compartilhada, e o momento para agir é agora.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo
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