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Drones que entram pela janela

Por Ruy Castro (*) | 25/07/2025 08:30

Foi na semana passada. Os moradores do 6º andar de um edifício no bairro da Glória, aqui no Rio, acordaram de madrugada com um zumbido vindo da sala. Foram ver o que era e, ao acender a luz, depararam com um drone voando sobre os móveis. Flagrado, o drone se assustou, recompôs-se, mirou a janela pela qual certamente entrara e fugiu. O homem correu atrás, mas só pôde ver o aparelho sumindo na distância. Como o drone não fazia parte das relações do casal, ainda não se sabe o motivo da visita.

Até há pouco, somente borboletas, pernilongos e baratas voadoras entravam à noite pelas janelas. Agora são aparelhos controlados remotamente, tanto para entregar pizza, artigos de farmácia e pipicat da petshop quanto, talvez, drogas. Como essas atividades implicam um humano por trás delas, não é surpresa que eles sejam usados com más intenções, como xeretar nossa intimidade. O problema é se, com a inteligência artificial, os drones estiverem desenvolvendo vontade própria e, à solta por aí, sabe-se lá o que farão. O drone da Glória pode ser um deles.

Neste momento, os drones já são capazes de voar a qualquer altura, visíveis ou invisíveis, em silêncio ou emitindo sons, grudar-se a qualquer veículo em movimento e até mergulhar. Podem ser equipados com radares, sensores, luzes, microfones, câmeras, braços robóticos e, com suas alças de mira, despejar um míssil capaz de entrar por uma chaminé no Irã a 30 mil metros do solo. O que falta para que comecem a dar instruções a si mesmos e venham nos bisbilhotar?

O drone é um robô voador. Seus primos ao rés do chão, os robôs convencionais, já estão em toda parte e aptos a realizar tarefas de grande precisão, como dirigir ambulâncias, farejar cocaína nos aeroportos, fazer cirurgias sem a presença de cirurgiões e até mesmo preparar milk-shakes no Bob’s.

Diante disso, nem os cientistas americanos podem prever aonde os drones chegarão. Daí que, enquanto não inventarem um Detefon para eles, o jeito é fechar as janelas antes de dormir.

(*) Ruy Castro, jornalista e escritor, através da Folha de S.Paulo

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.