Drones que entram pela janela
Foi na semana passada. Os moradores do 6º andar de um edifício no bairro da Glória, aqui no Rio, acordaram de madrugada com um zumbido vindo da sala. Foram ver o que era e, ao acender a luz, depararam com um drone voando sobre os móveis. Flagrado, o drone se assustou, recompôs-se, mirou a janela pela qual certamente entrara e fugiu. O homem correu atrás, mas só pôde ver o aparelho sumindo na distância. Como o drone não fazia parte das relações do casal, ainda não se sabe o motivo da visita.
Até há pouco, somente borboletas, pernilongos e baratas voadoras entravam à noite pelas janelas. Agora são aparelhos controlados remotamente, tanto para entregar pizza, artigos de farmácia e pipicat da petshop quanto, talvez, drogas. Como essas atividades implicam um humano por trás delas, não é surpresa que eles sejam usados com más intenções, como xeretar nossa intimidade. O problema é se, com a inteligência artificial, os drones estiverem desenvolvendo vontade própria e, à solta por aí, sabe-se lá o que farão. O drone da Glória pode ser um deles.
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Neste momento, os drones já são capazes de voar a qualquer altura, visíveis ou invisíveis, em silêncio ou emitindo sons, grudar-se a qualquer veículo em movimento e até mergulhar. Podem ser equipados com radares, sensores, luzes, microfones, câmeras, braços robóticos e, com suas alças de mira, despejar um míssil capaz de entrar por uma chaminé no Irã a 30 mil metros do solo. O que falta para que comecem a dar instruções a si mesmos e venham nos bisbilhotar?
O drone é um robô voador. Seus primos ao rés do chão, os robôs convencionais, já estão em toda parte e aptos a realizar tarefas de grande precisão, como dirigir ambulâncias, farejar cocaína nos aeroportos, fazer cirurgias sem a presença de cirurgiões e até mesmo preparar milk-shakes no Bob’s.
Diante disso, nem os cientistas americanos podem prever aonde os drones chegarão. Daí que, enquanto não inventarem um Detefon para eles, o jeito é fechar as janelas antes de dormir.
(*) Ruy Castro, jornalista e escritor, através da Folha de S.Paulo
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