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Por que desastres e perdas durante o fim do ano são mais impactantes

Por Cristiane Lang (*) | 29/12/2024 13:31

O final do ano é um período que carrega consigo uma carga emocional singular. É uma época marcada por celebrações, reflexões e, muitas vezes, expectativas de renovação. No entanto, quando desastres ou perdas ocorrem nesse intervalo de tempo, o impacto emocional parece ser amplificado. Mas por que isso acontece?

O simbolismo do fim do ano

O fim do ano é socialmente associado a rituais de encerramento e novos começos. É o momento em que muitas pessoas refletem sobre conquistas, erros e aprendizados, criando uma atmosfera de esperança e reconexão. Perdas ou tragédias nesse período se chocam diretamente com esse simbolismo, transformando uma época de celebração em um marco de dor.

Eventos traumáticos em dezembro, como desastres naturais, acidentes ou a perda de entes queridos, não apenas interrompem os planos, mas também deixam uma marca duradoura, dificultando a vivência plena de futuros finais de ano.

A importância dos laços familiares

O final do ano também é um momento de reunião familiar. Muitos viajam grandes distâncias para estar com os entes queridos, criando um ambiente de conexão emocional intensa. Quando uma perda ocorre nesse contexto, o sentimento de ausência é profundamente intensificado, pois a pessoa que partiu ou o que foi destruído está imediatamente ligado às memórias daquele momento de união.

Além disso, a pressão para estar feliz e celebrar pode acentuar a dor de quem está sofrendo, gerando um contraste interno entre o que se espera sentir e o que realmente se sente.

A vulnerabilidade emocional do período

As festas de fim de ano têm o poder de despertar emoções adormecidas. Para muitas pessoas, essa época já é emocionalmente delicada devido à solidão, nostalgia ou lembranças de anos passados. Um desastre ou uma perda pode agravar essa vulnerabilidade, tornando mais difícil lidar com as dificuldades de forma racional e equilibrada.

Além disso, o cansaço acumulado ao longo do ano também pode afetar a capacidade de resiliência, tornando os acontecimentos negativos ainda mais devastadores.

A pressão social e cultural

O Natal e o Ano-Novo vêm acompanhados de um “ideal de felicidade” promovido pela mídia, tradições e redes sociais. Esses ideais criam a expectativa de que todos deveriam estar celebrando, felizes e gratos. Quando uma tragédia ocorre, essa expectativa amplifica o sentimento de isolamento, como se a dor fosse incompatível com o espírito coletivo da época.

Quem sofre uma perda nesse período pode sentir que sua dor “destoa” da celebração ao seu redor, tornando o processo de luto ainda mais solitário e silencioso.

A memória marcada pelo calendário

O impacto de uma perda ou desastre no fim do ano também é reforçado pelo papel do calendário em nossas vidas. Datas como Natal e Réveillon são carregadas de significados e, para muitos, acabam se tornando gatilhos emocionais nos anos seguintes. Cada nova celebração pode reabrir feridas, trazendo à tona o trauma de anos anteriores.

Como lidar com perdas e desastres no fim do ano

Apesar da dor ser inevitável, existem formas de acolher e lidar com os sentimentos durante esse período:

    •    Permita-se sentir: Não reprima a tristeza ou tente se forçar a entrar no clima festivo. O luto precisa de espaço para ser vivido.

    •    Busque apoio: Compartilhe suas emoções com pessoas de confiança ou, se necessário, procure ajuda profissional. O apoio de outros pode aliviar o peso da dor.

    •    Crie novos significados: Transforme a memória da perda em algo significativo, como uma homenagem ou uma tradição que celebre o que foi perdido.

    •    Dê tempo ao tempo: A dor diminui, ainda que nunca desapareça completamente. Permita-se vivenciar as emoções sem pressa.

Desastres e perdas no final do ano carregam um impacto maior devido ao simbolismo, às expectativas e à vulnerabilidade emocional da época. No entanto, é importante lembrar que mesmo em meio à dor, é possível encontrar formas de seguir em frente, construindo novos significados e aprendendo a viver com as memórias. O fim de um ano pode ser um momento de tristeza, mas também carrega a promessa de um novo início.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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