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O constrangimento de quem não bebe: reflexões sobre o “Sober Shaming”

Por Cristiane Lang (*) | 30/12/2024 12:51

Em um mundo onde o consumo de álcool é frequentemente romantizado e associado a celebrações, descontratação e pertencimento, optar por não beber pode, paradoxalmente, transformar-se em motivo de questionamento, desconforto e até constrangimento. Esse fenômeno, conhecido como “sober shaming” (algo como “envergonhar quem é sóbrio”), revela um aspecto preocupante da cultura social: a dificuldade de respeitar escolhas pessoais que fogem ao padrão coletivo.

O que é o “Sober Shaming”?

O “sober shaming” ocorre quando alguém que opta por não consumir álcool é alvo de piadas, julgamentos ou insistências para beber. Frases como “Ah, mas só hoje!”, “Você não sabe o que está perdendo!” ou “Que chato, beba só para socializar!” são comuns e muitas vezes ditas de forma aparentemente inofensiva. Contudo, essas interações podem gerar desconforto, exclusão e até vergonha em quem escolhe permanecer sóbrio.

Por que as pessoas optam por não beber?

As razões para evitar o álcool são inúmeras e profundamente pessoais. Algumas delas incluem:

    1.    Motivações de saúde: Problemas de saúde, como doenças hepáticas ou intolerância ao álcool.

    2.    Histórico de dependência: Pessoas em recuperação do alcoolismo optam por evitar qualquer consumo para manter sua sobriedade.

    3.    Crenças pessoais ou religiosas: Algumas culturas e religiões desestimulam ou proíbem o consumo de álcool.

    4.    Preferência pessoal: Simplesmente não gostar do sabor ou dos efeitos do álcool.

    5.    Autocuidado emocional: A decisão de não beber para evitar comportamentos impulsivos ou prejudiciais.

O impacto do constrangimento

O “sober shaming” pode parecer uma brincadeira inocente para quem bebe, mas para quem está do outro lado, as consequências podem ser mais sérias:

    •    Exclusão social: A insistência pode gerar desconforto, afastando a pessoa de eventos sociais.

    •    Danos emocionais: Sentir-se julgado ou inferiorizado pode impactar a autoestima e a confiança.

    •    Riscos à sobriedade: Para quem está em recuperação, a pressão social pode desencadear recaídas.

Por que isso acontece?

O “sober shaming” reflete o quanto o consumo de álcool está normalizado e enraizado em rituais sociais. Beber é frequentemente interpretado como sinônimo de descontração e pertencimento, de modo que a decisão de não beber muitas vezes é vista como um “ato de resistência” ou até como um julgamento implícito das escolhas dos outros.

Como mudar esse cenário?

    1.    Respeitar as escolhas individuais: Nem todos precisam participar das mesmas práticas para se conectar socialmente.

    2.    Normalizar a sobriedade: Oferecer opções não alcoólicas em eventos e criar espaços onde beber não seja o foco.

    3.    Evitar insistências: Perguntar uma vez é educado; pressionar é constrangedor.

    4.    Desvincular álcool de pertencimento: Promover atividades e encontros que não girem em torno de bebidas alcoólicas.

Optar por não consumir álcool não deveria ser motivo de constrangimento ou exclusão. Ao contrário, é uma decisão tão legítima quanto escolher beber. Combatendo o “sober shaming”, avançamos para uma convivência mais inclusiva, onde cada pessoa possa ser respeitada por suas escolhas – com ou sem um copo na mão.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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