Entre a mudez castrense e um exército falante: círculo vicioso
Sob ataques pesados em alguns de seus membros, as forças armadas estão semi-mudas. Temos raros pronunciamentos ou notícias emanadas dos quartéis. É um eterno circulo vicioso. Há momentos de mudez e de oratória que beira a verborragia. A profissionalização e, em seguida, a politização. O que há de relevante, quase inexistente nos jornais, para melhor avaliação das Forças Armadas?
60% não se interessa por politica.
A última pesquisa feita entre oficiais alunos da Escola de Guerra Naval revelaram dados importantes. Essas pesquisas são raras. Mostrou que a maioria, nada menos de 60% dos oficiais apoiou a proposição de que a participação de militares na politica devia ser nenhuma ou pouca. E há mais dados que podem surpreender. Apenas 6,5% deles se consideravam de direita e nenhum de esquerda. A grande maioria, 91%, declarou-se de centro-direita ou de centro-esquerda.
A hostilidade de segmentos civis.
Uma reclamação comum entre militares parte da percepção de que há hostilidade às Forças Armadas por parte de alguns setores importantes da sociedade, quais sejam os intelectuais, artistas, jornalistas e políticos. No Exército, 34% dos oficiais colocam entre os problemas das Forças Armadas o revanchismo, a incompreensão, o desprestígio social e o pouco interesse do Congresso. Essa percepção dobra na Marinha, chega a 78%. Em contraste, há entre os oficiais das duas Forças a convicção de que o povo em geral tem visão positiva dos militares. E não estão lá muito equivocados. A ultima pesquisa, de 2017, um tanto antiga, diz que 83% dos entrevistados confiavam muito ou um pouco nas Forças Armadas.
As despesas dos militares são exageradas?
À primeira leitura do Orçamento, gastamos muito com as Forças Armadas. Mas esse é um olhar vesgo. No que se refere aos gastos com defesa, o “Stockholm International Peace Research Institute” dá para o Brasil o equivalente a 1,3% do PIB, quando a média mundial é de 2,2. O Brasil ocupa a décima quinta posição em gastos militares. A Colômbia gasta 3,5% do seu PIB com militares. O Chile gasta 1,9%. Só a Argentina gasta menos: 1,2%.
Os militares desempenham um papel moderador?
É sintomático que não tenha havido sequer uma tentativa de mudança nas leis durante os atuais governos civis para resolver de vez a questão que paira sobre todos nós: os militares tem ou não um papel moderador. Não por acaso, chefes militares e personalidades do mundo civil repetem sistematicamente que eles tem esse dever constitucional de intervir quando julgarem que é o “melhor para o pais”, algo que depende da interpretação de cada um de nós. Cria-se, desse modo, um circulo vicioso: as Forças Armadas intervêm em nome da garantia de estabilidade do sistema politico; as intervenções, por sua vez, dificultam a consolidação das práticas democráticas. Estamos presos nessa armadilha e não conseguiremos escapar dela se não construirmos uma economia forte, uma democracia includente e uma República efetiva. Não o conseguimos em duzentos anos de vida independente. Hoje, alguns deles estão sob ataque, como será amanhã?
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