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Em Pauta

O hospital de Corumbá que tratou soldados da Col. Prestes

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 04/01/2025 08:30
O hospital de Corumbá que tratou soldados da Col. Prestes

O ano de 1.927 foi uma época de profunda agitação politica e social para Corumbá. A presença da Coluna Prestes no Lago Gaíba, perto da Serra do Amolar, na fronteira do Brasil com a Bolívia, agitou a cidade como nunca tinha acontecido. Depois de caminhar por milhares de quilômetros pelo interior do país e esgotadas as possibilidades de continuar a luta, a Coluna entrou na Bolívia. A partir de então, o porto de Corumbá passou a ser a porta de entrada e saída dos combatentes e dos que queriam entrar em contato com eles. A presença de Prestes e de seus comandados não representou para Corumbá uma ameaça. Pelo contrário, eram vistos pela elite e pelos intelectuais da cidade como heróis de um novo tempo.


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A inauguração de uma foto.

Além das notícias favoráveis à Coluna, em um ato de apoio explícito, o jornal corumbaense “Tribuna”, chegou a inaugurar em uma sala uma foto de Prestes “de pé, de mãos para trás, a fisionomia tranquila, tal como fotografado na Gaíba”. Com a participação de inúmeros simpatizantes, a festa de inauguração dessa foto foi presidida pelo capitão José Silvino da Costa, que se tornaria uma espécie de embaixador de Prestes.

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A guerra de versões entre Corumbá e Curitiba.

Alguns jornalistas de São Paulo e do Rio de Janeiro correram para Corumbá. A Coluna Prestes era uma das principais noticias do país. Um jornal de Curitiba começou a divulgar o luxo e a riqueza que os soldados de Prestes estariam vivendo. Gabriel Vandoni de Barros, um jovem corumbaense, estudante de direito em São Paulo, se converterá em um dos mais importantes amigos de Prestes e mostrara que eles viviam na mais profunda miséria. Todos barbudos, cabelos em desalinho, vestindo roupas caqui ou brancas de tecido ordinário, era a foto da tropa. Prestes tinha o coturno furado, aparecendo a meia.


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A campanha de Chateaubriand para arrecadar fundos.

Assis Chateaubriand foi um dos mais ricos e influentes proprietário de jornais no Brasil. Combatia o governo de Artur Bernardes, tomado por grandes repressões politicas, policialesco, uma ditadura disfarçada. Assis Chateaubriand iniciou uma campanha de âmbito nacional para a aprovação da anistia aos combatentes da Coluna e outra para arrecadação de fundos para sua subsistência, melhor sucedida que a anistia. Chateaubriand enviou uma fortuna para a Coluna que estava vivendo, quase na miséria, do transporte de madeira de empresários bolivianos.


O hospital de Corumbá que tratou soldados da Col. Prestes

A malária ataca as tropas e o papel do Fragelli.

Passados alguns meses, os soldados de Prestes, vivendo no mato, começaram a descer em barcos o Gaíba. Estavam doentes e precisavam ser tratados no Hospital de Caridade de Corumbá. O trabalho de atendimento na cidade era coordenado pelo capitão José Silvino da Costa, o elo de ligação da cidade com a Coluna. Mas havia uma exceção: os oficiais da Coluna não podiam ser internados no hospital. Um deles, o coronel Djalma Dutra, foi tratado em uma residência da cidade, tentando ludibriar a policia e o exército. Curiosamente, escolheram um adversário politico, mas respeitado por todos, doutor Nicolau Fragelli, para tratá-lo.


O hospital de Corumbá que tratou soldados da Col. Prestes

Nova arrecadação de fundos e a doação ao hospital.

Chateaubriand promoveu uma nova arrecadação de fundos para a Coluna. Teve sucesso pela segunda vez. Outra fortuna chegou às mãos de Prestes. Existe uma longa carta de Prestes agradecendo o hospital corumbaense. O então “Cavaleiro da Esperança”, ainda distante de se tornar comunista, doou uma parte desse dinheiro para o hospital. Para expressar sua gratidão, a diretoria do hospital conferiu a Prestes o título de sócio benemérito. Mais tarde, o dinheiro foi usado para a ampliação do hospital e uma placa em agradecimento a Prestes foi fixada em seu interior. A placa passou longas décadas exposta. Sumiu logo depois da instalação da ditadura de 1.964.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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