ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
JANEIRO, SEXTA  31    CAMPO GRANDE 29º

Artigos

Uma viagem a Mato Grosso

Por Wagner Cordeiro Chagas (*) | 31/01/2025 08:17

Recentemente tive a oportunidade de conhecer o estado de Mato Grosso, praticamente de sul a norte, por meio da BR-163, entre o distrito de Ouro Branco do Sul, divisa com Sonora (MS) e o município de Terra Nova do Norte, próximo ao estado do Pará. No percurso, a primeira parada para descanso ocorreu em Rondonópolis, município cujo nome homenageia Cândido Mariano da Silva Rondon, o marechal Rondon, importante personagem para a história de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia (considerando que até 1943 o estado de Mato Grosso abarcava esses 3 territórios). Engenheiro militar do Exército, descendente de indígenas, nascido em 1865, no distrito de Mimoso, município de Santo Antônio do Leverger (MT), Rondon liderou expedições para levar as redes de telégrafo pelo interior do velho Mato Grosso. Sua fama também se deu pela defesa dos povos indígenas, já que encontrou várias tribos em suas andanças pelo interior do oeste brasileiro.

Como historiador interessado pela História de MS, uni o útil ao agradável ao visitar parentes e conhecer um pouco mais do Brasil por meio de nosso estado irmão nas cidades de Cuiabá, Sinop e Terra Nova do Norte. Em Cuiabá, capital que visitei em 2010 ao realizar pesquisas no arquivo público, desta vez conheci a belíssima serra de São Vicente; os palácios Alencastro (sede do governo de Mato Grosso uno entre as décadas de 1940 e 1970) e o Paiaguás (de onde o governador José Garcia Neto acompanhou contrariado a divisão do gigante estado e a criação de Mato Grosso do Sul, em 1977). No caminho para conhecer as maravilhas do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, entrei no distrito de Coxipó do Ouro, local onde, no ano de 1718, o monçoeiro Pascoal Moreira Cabral encontrou o ouro de aluvião no rio Coxipó, o que desencadearia anos depois a decisão do rei de Portugal de se criar a capitania de Mato Grosso, uma corrida por ouro e o início da introdução da exploração de africanos como escravizados por essas bandas da América Portuguesa.

Em Sinop percebi a força do agronegócio naquela região que teve seu povoamento iniciado no período da ditadura militar através de programas federais de colonização. Em conversas com parentes ouvi comentários a respeito de uma ideia que existe há alguns anos naquela região de uma nova divisão de Mato Grosso, cuja capital seria aquele município. Algo que creio ser muito difícil, pois a experiência do plebiscito para se dividir o Pará, em 2011, demonstrou que a maior parte dos cidadãos brasileiros não querem mais saber de novos cargos políticos para sustentar por meio dos tributos.

Entre Sinop e Terra Nova do Norte contemplei o que resta da floresta amazônica mato-grossense e busquei refletir, com minhas pequenas filhas, a importância de lutarmos pela preservação daquele e de todos os biomas tão castigados em nosso Brasil.

De volta a Cuiabá, com objetivo de retornar a Mato Grosso do Sul, estressei-me um pouco com o trânsito entre Várzea Grande e a capital mato-grossense. Num semáforo dei uma ajuda em dinheiro a uma mulher indígena que carregava sua filha ao estilo tradicional dos povos originários. Pensei em perguntar a qual grupo étnico ela pertencia, mas o sinal verde abriu e eu precisava seguir até o bairro Pedra 90. Só tive tempo de dar um tchau e um sorriso para a pequena indigenazinha, torcendo em pensamento para que seu futuro possa ser de garantia de seus direitos, haja vista que a história de exploração e sofrimento por que passou os indígenas desde 1500 neste país ainda reflete, mesmo após várias conquistas.

Ao final da viagem, já em Fátima do Sul, no sul de Mato Grosso do Sul, comentei com amigos que uma das coisas mais interessantes que percebi em Mato Grosso é que lá nos chamam pelo nome correto: Mato Grosso do Sul. Algo que poucas vezes acontece quando se vai a outros estados. A experiência permitiu-me conhecer um pouco mais do que era nosso antigo Mato Grosso uno; gravar alguns vídeos em locais que foram marcantes para a história de ambos os estados, com objetivo de se realizar uma série de pequenos documentários a respeito da história de MS; e me cativar cada vez mais com a diversidade que nos marca como brasileiros.

(*) Wagner Cordeiro Chagas é mestre em História pela UFGD, professor da rede estadual em Fátima do Sul e autor do livro “Uma História Política de MS (1977-2022)”.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

Nos siga no Google Notícias