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“Hacker” preso em SC é peça-chave no inquérito de execução “por engano”

Foi o técnico em informática Eurico dos Santos Mota que identificou Juanil, para a polícia um dos executores de Matheus Xavier

Anahi Zurutuza e Marta Ferreira | 21/11/2019 09:30
Matheus, de 20 anos, era estudante de Direito e foi fuzilado quando tirava a camionete do pai da garagem de casa (Foto: Reprodução rede social)
Matheus, de 20 anos, era estudante de Direito e foi fuzilado quando tirava a camionete do pai da garagem de casa (Foto: Reprodução rede social)

Preso no fim da tarde dessa quarta-feira (21) em Joinville (SC), o técnico em informática Eurico dos Santos Mota, de 28 anos, é peça-chave na investigação do assassinato de Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, morto por engano no dia 9 de abril deste ano. Foi ele quem identificou Juanil Miranda Lima, 43 anos, para a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul um dos executores do jovem estudante de Direito.

Eurico foi ouvido pela DEH (Delegacia Especializada de Homicídios) no dia 23 de abril, 14 dias depois do assassinato de Matheus. No depoimento, ele contou que um mês antes havia sido procurado por Juanil para formatar um computador. O cliente, disse, apareceu logo depois de anúncio sobre serviços que prestava em informática e como detetive. O depoente disse à polícia que havia feito curso EAD (Ensino à Distância) para ser investigador particular.

Contou ainda que quando Juanil foi buscar o notebook perguntou se ele era capaz de rastrear a localização de uma pessoa em tempo real. “Não sei, mas posso ver”, afirmoou ter respondido Eurico, segundo ele, vendo a oportunidade de ganhar dinheiro extra.

O depoente relatou ter ido atrás de ajuda de hackers e que terceirizaria o serviço, mas antes disso, por causa de um cartaz afixado no portão da casa dele oferecendo consultas ao SPC e Serasa a R$ 15, Juanil teria entregado a ele um número de CPF anotado em papel. Na busca, ele se lembrava de ver o nome Paulo.

Para a polícia, trata-se do capitão Paulo Roberto Teixeira Xavier, pai de Matheus e o verdadeiro alvo do grupo de extermínio investigado na Operação Omertà.

No camburão, Eurico dos Santos Mota, mais um alvo da Operação Omertà preso (Foto: Direto das Ruas)
No camburão, Eurico dos Santos Mota, mais um alvo da Operação Omertà preso (Foto: Direto das Ruas)

O serviço - Eurico narrou que Juanil passou então o número de telefone a ser rastreado, mas os dois não combinaram valor pelo trabalho. O técnico disse que conseguiu contatar um hacker que cobraria R$ 2 mil para fazer o monitoramento em tempo real e teve a ideia de contratá-lo, mas não contou sobre a terceirização para o cliente. Ele disse não ter concluído o trabalho, porque suspeitou “de algo errado” e parou de atender as ligações de Juanil.

A polícia apurou, porém, que o hacker contratado por Eurico chegou a se passar por mulher e tentar marcar encontro com Xavier para coletar o maior número possível de informações. O capitão, no entanto, não apareceu e acabou descobrindo pelo próprio hacker a verdade sobre o contato e a tentativa de emboscada. Caso tivesse aparecido, morreria cerca de um mês antes da execução do filho, desconfia a investigação.

O depoente contou que no dia 21 de abril foi última vez que teve contato com o cliente. Por telefone, Juanil perguntou se podia levar outro computador para formatação e o técnico respondeu que sim.

A milícia alvo da Omertà, conforme evidenciou o trabalho investigatório, tinha dois pistoleiros responsáveis por cumprir as ordens de execução, Juanil e José Moreira Freires, o Zezinho. Ambos são ex-guardas civis municipais de Campo Grande e estão desaparecidos.

Fotos divulgadas pela força-tarefa; dupla desapareceu, segundo a investigação, em abril deste ano (Foto: Divulgação)
Fotos divulgadas pela força-tarefa; dupla desapareceu, segundo a investigação, em abril deste ano (Foto: Divulgação)

Eurico disse à polícia em abril que tinha medo de morrer e foi liberado após prestar depoimento porque se comprometeu a colaborar com as investigações. Ele disponibilizou acesso integral às suas conversas do WhatsApp, Facebook, Instagram, Menssenger, e-mail e deixou para a polícia seu celular desbloqueado. O técnico em informática também não pediu para depor acompanhado de advogado e nunca respondeu a processo criminal.

Prisão temporária – Cumprida 226 dias depois do assassinato de Matheus, a prisão de Eurico é a primeira por consequência do inquérito e foi determinada pelo juiz Aluizio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri em Campo Grande. O prazo é de 30 dias, prorrogáveis pelo mesmo período. Até o vencimento, pode, ainda, ser convertida em preventiva.

O pedido de prisão é embasado na tese de que quem contribui para a execução de um crime, deve responder pelo mesmo, previsto no artigo 29 do Código Penal. A polícia também constatou que Eurico mantinha contato frequente com os pistoleiros, informação que não foi relatada por ele no depoimento dado antes de desaparecer.

A Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Bancos, Assaltos e Sequestros) recebeu a informação de que Eurico estava escondido em Joinville e na tarde de ontem, policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), da DIC (Divisão de Investigação Criminal) de Joinville e da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil o localizaram e prenderam.

O técnico em informática deixou a cidade do interior de Santa Catarina às 8h (no horário daquele estado) e está sendo trazido, sob escolta, para Campo Grande.

Execução – Matheus Xavier foi atingido por seis tiros de fuzil na noite do dia 9 de abril enquanto manobrava a caminhonete do pai. Ele tirava o veículo da garagem para sair com outro carro, quando foi fuzilado. O crime aconteceu na Rua Antônio da Silva Vendas, no Jardim Bela Vista, em Campo Grande.

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