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Cidades

Cansado do silêncio, delegado réu por morte sobe o tom: “juiz cego”

Fernando Araújo era titular em Corumbá e vai a júri por homicídio em ambulância

Aline dos Santos | 04/11/2020 13:01
Delegado Fernando (camisa xadrez) está preso desde março de 2019. (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)
Delegado Fernando (camisa xadrez) está preso desde março de 2019. (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)

Preso desde março do ano passado acusado de matar vítima dentro de ambulância, Fernando Araújo da Cruz Junior, que era delegado em Corumbá, apresentou pedido de habeas corpus em que sobe o tom contra a Justiça e faz desabafo.

O documento encaminhado ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) é assinado pela advogada Elianici Gonçalves Gama, que explica falar em nome do réu.

O presente documento foi redigido nesse tom a pedido do paciente, que está ciente das consequências, mas cansou de se calar diante de tantas violências e humilhações praticadas contra ele e sua família”, afirma.

O habeas corpus aponta que a prisão preventiva não pode ser decretada por fetiche, cisma ou tampouco rancor de alguém, o que é muito comum em comarcas menores.

E exemplifica: “se um policial prendeu um servidor do judiciário local ou ainda investigou alguém do círculo de amizade do juiz, não pode este último, na primeira oportunidade que encontre, trancar esse policial e ‘jogar a chave fora’”.

Conforme a defesa, a sentença que mandou o delegado a júri popular só foi proferida após outro pedido de habeas corpus. O documento não cita nomes, apenas que o novo pedido é contra o juiz da 1ª Vara Criminal de Corumbá.

“O que acontece é que estamos diante de um magistrado deliberadamente cego, exatamente daquele tipo que motivou a criação do tipo ‘juiz de garantias’, pois encerrou-se em uma infeliz convicção de que o paciente praticou o crime”.

O texto prossegue acusando os delegados do caso de criarem um monstro. “Levado a essa falsa ideia por delegados que ao longo da investigação (como é praxe) criaram um ‘monstro’ para conseguir medidas cautelares em desfavor daquele que escolhem para serem suas vítimas e agora impossível aceitar a ideia de que possa ter cometido um erro ou se deixado enganar”.

Fernando afirma que até aqui a única beneficiada foi a organização criminosa que antes era liderada por Alfredo Rangel Weber, conhecido no meio criminoso por “Ganso”.

Não consegue o paciente entender como pessoas perversas, que provocaram sua prisão por um crime que não cometeu (por Deus, basta ler o processo com atenção!), conseguem abraçar seus filhos e beijar suas esposas e maridos, sabendo que estão destruindo outra família”.

O “habeas corpus protesto” tramita na 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça.

Emboscada e motivo torpe - Fernando Araújo responde por homicídio doloso qualificado por motivo torpe e por emboscada contra o boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos.

Conforme a denúncia, o crime aconteceu no dia 23 de fevereiro de 2019, depois de uma briga nas eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia.

Houve discussão entre Alfredo e outros participantes do evento. O delegado é acusado de pegar uma faca e desferir golpes contra o boliviano, que foi socorrido para um hospital local, mas, devido à gravidade, acabou transferido para Corumbá.

Já em Mato Grosso do Sul, a ambulância foi fechada por uma caminhonete. O condutor, apontado como sendo o delegado, desceu e atirou no paciente. O homem morreu e o motorista da ambulância retornou com o cadáver ao País vizinho.

Afastado do cargo, Fernando Araújo está preso na 3ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande.

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